Em razão da quantidade de Deputados Federais eleitos ou reeleitos a cada nova Legislatura para a Câmara – um absurdo número de 513! -, e a grande diversidade de características e formação de cada um, desde aquele que ergue a Bíblia aos brados para a exaltação do Livro Sagrado (caso do Capitão Irmão Izidorio, da Bahia), ao gaúcho que usa chapéu durante todas as sessões, tudo é possível de acontecer no seu dia a dia. Mas, ainda que nossa capacidade de compreender possa tolerar certas idiossincrasias dos senhores parlamentares, o Regimento Interno da Casa – se é que já não tem! –, deveria instituir regras mais rigorosas que estabeleçam um melhor nível de equilíbrio e coerência comportamental dos senhores deputados, para que aquela Casa não se identifique com um Circo durante as sessões plenárias.
O tema de hoje, contudo, não privilegia a Câmara de Deputados, mas a Casa de maior relevância e significado no contexto do Congresso Nacional: o SENADO FEDERAL! Historicamente, a imagem dessa Casa sempre repercutiu um conceito de inviolabilidade e respeito, desde a primeira legislatura iniciada em 6 de maio de 1826, quando atendia pelo nome de “Senado do Império do Brasil”. Na época, o cargo de Senador era vitalício e privativo de brasileiros natos ou naturalizados e os Senadores eram considerados “augustos e digníssimos senhores representantes da Nação”, e seu cargo era sinal de importante distinção para homens dedicados à vida pública, não sendo à toa que Ruy Barbosa lá esteve deixando o melhor de sua inteligência.
Diante de todo esse rico arcabouço que inspira o respeito do eleitorado ao Senado da República, é inadmissível que, recentemente, durante a sessão de eleição do seu novo Presidente, em 1º. de fevereiro de 2019, essa história tenha sido maculada com alguns episódios dantescos, graves desvios de conduta regimental e vergonhoso rompimento do decoro parlamentar. Para quem tem o hábito de acompanhar as sessões parlamentares, mais parecia estar vendo uma sala de atordoados e atrapalhados! Então, vejamos: a Senadora Kátia Abreu (PDT-TO), em clima da revolta por não concordar que o Senador Davi Alcolumbre exercesse a presidência dos trabalhos, de dedo em riste e agressiva apanhou sobre a mesa a pasta que continha o roteiro da condução dos trabalhos, gerando o seguinte diálogo:
Presidente da sessão: – “Por favor me devolva a pasta, Senadora.
Kátia Abreu: – Não devolvo, vem tomar. Você não pode estar aí”.
Sinceramente, tenho dificuldades para classificar aquela atitude que, com certeza, nem no mais modesto picadeiro ela acontece.
Sintomático de um descontrole inconcebível! Algo jamais imaginado o parlamentar arrancar a pasta que dá o roteiro ao presidente e se refugiar no plenário, desafiando-o a vir tomar! Nem nas rinhas de galo, nem em briga de reunião de Condomínio, se registra bate boca de tão baixo nível, como ocorreu naquela sessão! – “Tira ele daí, Kátia!” – suplicou Renan Calheiros. – “Parece que estamos assistindo a uma briga de diretório estudantil”, acrescentou outro envergonhado, o Senador Omar Aziz (PSD-AM). No plenário os Senadores Renan e Tasso Jereissati quase chegaram aos tapas! Para culminar as irregularidades: são 81 senadores e votaram 82! Alguém quis anarquizar… e conseguiu!
Justo agora que o Senado passou por uma incrível renovação e recebeu nos seus quadros vários jovens senadores, inclusive um com a idade mínima de 35 anos permitida pela lei, o Senador Irajá Abreu (PSD-TO), é vexatório deparar com um conjunto de tantas impropriedades numa sessão de eleição da autoridade maior da Casa, o seu presidente.
Quero acreditar, e essa deve ser a expectativa de todo o brasileiro, que as reservas morais do Senado Federal façam uma sessão secreta para lavar a roupa suja internamente e, ao reabrirem as portas, um novo perfil de dignidade e altivez institucional se apresente à Nação.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Aposentado do Banco do Brasil (Salvador-BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 17/02/2019
12 Comentários
Mestre Agenor, meus parabéns pela aula de história política e excelente obra literária! Aproveitando de gancho, a citação no trecho, ” Em razão da quantidade de Deputados…um absurdo número de 513″, assim como o exacerbado número de Senadores, 81! Essa é a grande tragédia a moda brasileira! A ignomínia, a que esses homens são submetidos, ofuscam o brilho, a dignidade, o respeito e honradez do conceito dos digníssimos Deputados e Senadores! O mais inadmissível, foi o vergonhoso espetáculo “circense”, durante a eleição do Presidente do Senado, em 1°. de fevereiro de 2019!
Várias irregularidades foram cometidas, inclusive com desvio de conduta de Deputados e Senadores! Aonde foi parar o “decoro parlamentar”!? Afinal, o que teremos para os próximos quatro anos, mesmo com uma expressiva renovação no seu quadro de senadores!? Ou tudo será “como dantes no quartel de Abrantes”! (Carlos Olímpio-Bel. em Administração-Uauá-BA).
Excelente! A Câmara dos Deputados não está tão diferente…pessoas totalmente despreparadas! Que País é esse!? (Irecê-BA).
Não acredito que haja algum resquício de moralidade nesse Congresso. Aí estão representantes de muitas mazelas do País, com percentual expressivo respondendo a processos/investigações criminais, a começar pelo Presidente do Senado!!Triste Brasil!! (Salvador-BA).
Caro Agenor, bom dia!
A sua indignação é de (quase) todos os Brasileiros!
Aquilo que o mundo assistiu no Senado Federal é algo muito triste. Triste pelo fato de, queiramos ou não, são estas pessoas que ditam as regras, já que o povo os avalizaram com o seu voto. Mais revoltante é o fato de sabermos que, ao redigirem e sacramentarem a ata da eleição, prevalece aquele velho proverbio português em que continua “TUDO COMO DANTES NO QUARTEL DE ABRANTES”. Lamentável, pois caso estes parlamentares resolvam fazer uma reunião em espaço aberto, correm o risco de: Se cobrir com lona, vira circo; se trancar a porta, vira hospício.
Florisvaldo F dos Santos
Em muitas de suas crônicas a história passada e a realidade atual se fundem para gerar uma melhor compreensão dos fatos. E ao Citar Ruy Barbosa me despertou o fato da grande ausência que temos hoje de brasileiros que sejam capazes de se destacar pelo brilho da inteligência. Fico triste o quanto regredimos , Agenor, ao ver que tanta gente eleita não tem a mínima condição de representação dos interesses da nação. FOZ DO IGUAÇU
Realmente uma vergonha! (Valença-RJ).
Eh vergonha em todas as esferas. Parabéns Agenor Santos! (Uauá-BA).
Nesta crônica “A SESSÃO DA VERGONHA” mais uma vez você demonstra a sua impressionante capacidade de observação, quando você afirma que o tema abordado não privilegia a Casa de maior relevância e significado no contexto do Congresso Nacional: o SENADO FEDERAL! Historicamente, a imagem dessa Casa sempre repercutiu um conceito de inviolabilidade e respeito, desde a primeira legislatura iniciada em 6 de maio de 1826, quando atendia pelo nome de “SENADO DO IMPÉRIO DO BRASIL”.
Por outro lado, nesta Sessão comentada vc lembra que é inadmissível que, recentemente, durante a sessão de eleição do seu novo Presidente, em 1º de fevereiro de 2019, essa história tenha sido maculada com alguns episódios dantescos, graves desvios de conduta regimental e vergonhoso rompimento do decoro parlamentar: O comportamento da Senadora Kátia Abreu, em clima de revolta por não concordar com o Senador Davi Alcolumbre, exercesse a presidência dos trabalhos e com o dedo em riste e agressiva, apanhou sobre a mesa a pasta que continha o roteiro da condução dos trabalhos, gerando a impressão de uma sala de atordoados e atrapalhados num cenário de um verdadeiro descontrole inconcebível, inclusive, bate-bocas de Senadores, no plenário, e quase se engalfinhando e/ou partindo aos tapas, quando culminou irregularidades: são 81 senadores e votaram 82! Alguém quis anarquizar… e conseguiu! (MANAUS-AM).
Bom dia!! Estava esperando essa!! Eu assisti. Uma vergonha nacional! Desperdício incalculável dos recursos investidos nessa eleição. (UAUÁ-BA).
Nesta crônica “A SESSÃO DA VERGONHA” mais uma vez você demonstra a sua impressionante capacidade de observação, quando você afirma que o tema abordado não privilegia a Casa de maior relevância e significado no contexto do Congresso Nacional: o SENADO FEDERAL! Historicamente, a imagem dessa Casa sempre repercutiu um conceito de inviolabilidade e respeito, desde a primeira legislatura iniciada em 6 de maio de 1826, quando atendia pelo nome de “SENADO DO IMPÉRIO DO BRASIL”.
Por outro lado, nesta Sessão comentada vc lembra que é inadmissível que, recentemente, durante a sessão de eleição do seu novo Presidente, em 1º de fevereiro de 2019, essa história tenha sido maculada com alguns episódios dantescos, graves desvios de conduta regimental e vergonhoso rompimento do decoro parlamentar: O comportamento da Senadora Kátia Abreu, em clima de revolta por não concordar com o Senador Davi Alcolumbre, exercesse a presidência dos trabalhos e com o dedo em riste e agressiva, apanhou sobre a mesa a pasta que continha o roteiro da condução dos trabalhos, gerando a impressão de uma sala de atordoados e atrapalhados num cenário de um verdadeiro descontrole inconcebível, inclusive, bate-bocas de Senadores, no plenário, e quase se engalfinhando e/ou partindo aos tapas, quando culminou irregularidades: são 81 senadores e votaram 82! Alguém quis anarquizar… e conseguiu! (Manaus-AM).
Assistir mais um lamentável episódio despudorado desta casa que perdeu a muito tempo nossa reverência, respeito ou credibilidade. Representantes de péssima qualidade e de interesses pessoais e empresariais corruptas .vergonha. vergonha… (ALAGOINHAS-BA).
Muito barraco, lamentável! Falamos tanto da mudança, acreditando que será sempre pra melhor, e presenciamos uma briga de baixo nível no Senado Federal. Será que tem jeito essa nossa politica?!?!? (Salvador-BA).