O ministro da Economia, Paulo Guedes, demitiu na quarta-feira, 11, o secretário de Receita Federal, Marcos Cintra. O ex-integrante do governo vinha defendendo a criação de um tributo sobre transações financeiras, nos moldes da CPMF, cuja possibilidade de adoção foi admitida pelo próprio Guedes. O auditor fiscal José de Assis Ferraz Neto assume interinamente o cargo.
No Twitter, Bolsonaro escreveu que a queda do secretário estava relacionada com a tentativa de recriação da CPMF e decretou que o novo tributo estava fora da reforma tributária. Em entrevista a VEJA, Cintra afirma que Guedes segue na defesa de um imposto único, mas aponta a falta de apoio do presidente da República como o fator principal para que a proposta não tenha avançado. “O presidente sempre foi contrário e está sendo coerente com a visão que tem”, diz.
O senhor sempre defendeu a criação do imposto único e só agora foi demitido…
O governo está defendendo. O ministro (Paulo Guedes) está defendendo isso. O ministro defendeu o tempo inteiro. Ontem mesmo as manchetes dos jornais davam a defesa dele sobre a tributação sobre pagamento, falavam de alíquota, falavam de tudo. Não foi novidade, não. Enfim, fazia parte realmente. Estava sendo analisado. Todo mundo sabe. Prefiro não discutir nada agora. Estou torcendo para tudo dar certo. O Brasil precisa de uma reforma tributária.
Sem o apoio de Bolsonaro, fica difícil aprovar essa proposta?
Se o presidente repele uma medida, fica muito difícil para o ministro, para os secretários e para os técnicos avançarem com a proposta, né? Isso deflagrou todo esse processo. O presidente não está dizendo nada de novo. O presidente sempre falou isso, sempre foi contrário e também está sendo coerente com a visão que ele tem. Se esperava, evidentemente, convencê-lo da justeza da proposta, da necessidade de uma tributação como essa para viabilizar a reforma tributária. Mas não tivemos sucesso. Infelizmente não fomos suficientemente convincentes.
O ministro Paulo Guedes continua defendendo a proposta do imposto único?
Defende. Defende até hoje. Sempre defendeu. Todos os jornais publicaram entrevista dele, manifestações dele…. Mas é a circunstância. As coisas acontecem não só pelo fato em si, mas é a circunstância na qual as coisas acontecem. Aquela palestra que o meu adjunto deu…. Olha que coisa curiosa: é a mesma palestra que eu já dei umas dez vezes em vários fóruns. Agora nesse aqui, em Brasília, acabou tendo uma repercussão grande. Tem muito a ver isso. A surpresa de uma repercussão que o presidente provavelmente não havia sido informado. Ele é muito espontâneo em suas reações. Isso acabou gerando um mal-estar e levou a esse desenlace.
O senhor acredita que o ministro Paulo Guedes também deveria ser demitido por defender a criação do imposto único?
De jeito nenhum. A minha exoneração foi muito mais ligada ao anúncio formal que o meu adjunto fez, dando um ar de oficialização da proposta. Isso estava sob a minha jurisdição, e não na do ministro. Isso eu assumo 100%. Foi o meu adjunto que deu essa visão oficial de que aquele projeto estava finalizado. Só que ele, absolutamente, não estava. É uma palestra que ele já deu “n” vezes em “n” locais. Eu mesmo já falei aquelas coisas “n” vezes. Mas essa vez, particularmente, não sei se pelo momento, pela ocasião, pelo local ou pela sensibilidade do momento, acabou tendo uma repercussão que passou essa impressão de ser a proposta oficial do governo apresentada sem o aval do presidente. Coisa que todo mundo sabe que não é verdade. A proposta não está finalizada. Está sendo discutida. Hoje era para ter uma reunião para continuar avançando a finalização da proposta. Então, tudo isso são circunstâncias que acabam levando a esses enormes mal-entendidos, a esses conflitos. Mas, enfim, vamos em frente.
Fonte: https://veja.abril.com.br – Por Thiago Bronzatto
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 12/09/2019