Ninguém pode acusar “A dona do pedaço” de reservas na hora de praticar o melodrama rasgado. Não vai aí uma crítica com intenções demeritórias, ao contrário. A cena de da última semana em que Maria da Paz (Juliana Paes) finalmente reagiu aos malfeitos de Josiane (Agatha Moreira) provou isso. Juliana mergulhou no desespero da personagem: “Você roubou a única pessoa que te amou demais nessa vida”, gritou, sofrendo, antes de partir para a agressão física. Não sobrou pedra sobre pedra. No fim, a boleira ainda sentiu remorsos, uma indicação de que a sua ficha ainda voltará a cair.
A sequência foi resultado de meses de construção. Walcyr Carrasco criou uma protagonista passada para trás pela própria filha. A garota é sórdida e tem um caso com o padrasto (Régis/Reynaldo Giannechini). O público sabia de tudo desde o início, um recurso fundamental para alimentar as torcidas. Quando a hora da revanche finalmente chegou, os espectadores estavam aguardando ansiosamente. Até alguns pontos da história que foram motivo de críticas —como a ingenuidade extrema da boleira — nessa hora fizeram todo o sentido e colaboraram para a combustão.
Muito bem-dirigida (por Amora Mautner), a sequência foi, certamente, bastante coreografada. Porém, o público não testemunhou apenas um show de técnica. Houve muita emoção e as atrizes estavam entregues à eletricidade que o momento exigia. O espectador pode ponderar que “A dona do pedaço” tende para o padrão mexicano de novelas. Ele pode até ter muita razão. O fato é que a novela faz isso sem vergonha e faz bem.