WASHINGTON — Um dia depois de o presidente Donald Trump invocar a Lei de Produção de Defesa, uma legislação criada nos anos 1950, para forçar a gigante industrial 3M a aumentar o ritmo de fabricação de máscaras usadas pelos profissionais médicos que tratam de pessoas infectadas pelo coronavírus, a empresa alertou para os possíveis impactos da medida para o resto do mundo.
Em comunicado publicado na manhã desta sexta-feira, a 3M, uma das maiores fabricantes de máscaras do mundo, disse que vem ampliando a sua capacidade de produzir o equipamento, atendendo a uma demanda do próprio governo. Isso inclui ainda a importação de milhões de máscaras de unidades da empresa na China. A própria 3M, em princípio, elogia o uso da lei, que priorizou os pedidos feitos pela Fema, a agência do governo responsável por agir em situações de desastre.
Contudo, a 3M questiona uma segunda parte da ordem de Trump, que é bem clara ao exigir que a empresa suspenda todas as exportações de máscaras, hoje destinadas principalmente à América Latina e ao Canadá.
“Há implicações humanitárias significativas decorrentes da suspensão do fornecimento de máscaras para trabalhadores da saúde na América Latina e no Canadá, onde somos fornecedores críticos do equipamento”, afirmou a nota.
A empresa também alerta para efeitos negativos aos próprios americanos.
“Ao se suspenderem as exportações de máscaras produzidas nos EUA, outros países poderão retaliar e fazer o mesmo, como já fizeram. Se isso ocorrer, o número de máscaras disponíveis para os EUA diminuiria na prática. É o oposto do que nós e o governo, em nome do povo americano, queremos.”
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No Canadá, país que não fabrica as máscaras N95, o primeiro-ministro Justin Trudeau enfatizou a importância de manter as linhas de suprimento abertas e disse que seria “um erro criar bloqueios ou reduzir o comércio” entre os dois países:
— Há produtos médicos e outros artigos essenciais que se movimentam através da fronteira nas duas direções… há coisas com as quais os americanos contam — observou Trudeau.
Na quinta-feira, horas depois do anúncio do recurso à lei dos tempos da Guerra Fria contra a 3M, o próprio Trump foi ao Twitter atacar a empresa.
“Nós atingimos a 3M de maneira dura depois de ver o que estavam fazendo com suas máscaras. ‘P Act’ (Lei de Produção de Defesa) em frente. Uma grande surpresa para muitos no governo com o que estão fazendo — eles vão pagar um preço alto!”
Antes, o conselheiro para Comércio do presidente, Peter Navarro, havia seguido a mesma linha.
— Para ser franco, nos últimos dias estamos tendo problemas para garantir que, de toda a produção que a 3M entrega ao redor do mundo, uma parte suficiente dela venha para cá, para os lugares certos — afirmou Navarro, durante a entrevista coletiva diária na Casa Branca. — Vamos resolver essa questão da 3M provavelmente amanhã. Não podemos perder dias ou horas ou mesmo minutos nesta crise. (O Globo)