Aos 111 anos, Maria Olímpia Soares criou sete filhas sozinha, depois que ficou viúva. Hoje, apesar da lucidez, ela tem tantos netos e bisnetos que disse ter perdido as contas. Mas, segundo uma das netas, são 32 bisnetos e 12 tataranetos. Ela teve outros dois filhos, do primeiro casamento, mas os dois faleceram.
Depois de um casamento desastroso, em que era agredida pelo marido, Maria contou que se casou novamente e teve sete filhas. Depois, ficou viúva.
“Meu marido faleceu, então comecei a trabalhar para criar meus filhos. Comprei uma casa em Poxoréu (a 259 km de Cuiabá). Deus me ajudou muito e as crianças foram crescendo”, contou.
Em Poxoréu, Maria trabalhava lavando e passando roupas para outras famílias da cidade, para conseguir sustentar os filhos.
“Trabalhei muito para não ver meus filhos roubando ou pedindo coisas para os outros”, disse.
Ela atribui a longevidade à vida ativa. “Aprontei demais, acho que é por isso que estou vivendo mais que todo mundo”, disse.
Maria nasceu em Lauro de Freitas (BA), mas mudou-se para Mato Grosso quando ainda era jovem. A mudança foi feita a cavalo.
“Nasci na Bahia, mas meu tio me trouxe para cá [Mato Grosso]. Fomos para um garimpo, onde ele morava com a mulher. Viemos montados em animais, porque naquele tempo só se vinha por terra”, lembrou.
O ex-marido de Maria também se mudou com ela, mas ela não possui boas lembranças do primeiro casamento. Ela contou que o homem era violento e a agredida.
“Larguei dele porque ele era ruim. Batia em mim, vivia na rua e tinha namoradas. Passava a noite em festas, enquanto eu sozinha em casa”, disse.
Com o primeiro marido, Maria teve um casal de filhos, já falecido. Ela contou que a filha tinha osteoporose, por isso, não conseguia andar.
A filha morreu em um incêndio na casa dela, supostamente provocado por um cigarro que caiu no chão enquanto ela estava deitada.
“Ela morreu queimada, achamos que o cigarro caiu no chão e queimou a casa. Ela não enxergava direito. Meu filho estava saudável, mas um dia teve um problema no coração e morreu. Ele deixou nove filhos, um deles vai ser padre”, contou.
Com o fim do primeiro casamento, ela se casou novamente e teve as sete filhas.
Logo depois, ficou viúva e teve que trabalhar para sustentar a família. Quando a filha mais velha já estava maior, a ajudava a carregar sacos de roupas na cabeça até um rio, localizado na saída de Poxoréu, para lavar as peças.
“Era um rio com muito água limpa, íamos eu e as crianças. Tomávamos chuva e tínhamos que andar muito. Era muito sofrimento. Sofri muito para criar meus filhos”, lembrou.
Centenária
Nascida em 1906, Maria se diz impressionada com a quantidade de anos que já viveu. Apesar da idade, a mulher não possui problemas de saúde e mesmo com dificuldades ainda consegue andar sozinha.
“Tenho só um cansaço respiratório. Há alguns dias caí e quebrei a perna, tive fratura exposta e precisei operar duas vezes”, disse.
Muito religiosa, ela disse que todas as noites faz oração. “Meus filhos me perguntam com quem estou conversando, respondo que é com Jesus. Tem dias que eu brigo com Jesus, pergunto porque estou há tanto tempo aqui”, contou.
Mesmo com as dificuldades causadas pela idade avançada, Maria disse que é feliz e guarda muitas lembranças boas de sua vida.
No ano passado, quando completou 111 anos, ela foi surpreendida com uma festa, organizada por amigos e familiares para comemorar a data. Maria brincou que ao chegar no local, só conseguia pensar em como pagaria por aquilo.
“Tinha uma mesa cheia de comida e piscina, achava que ia ter que pagar. Quando cheguei lá e vi meus amigos, todas aquelas pessoas boas que foram me ver. Olhava ao redor e estavam todos alegres. Foi a coisa mais bonita do mundo”, lembrou.
Infância
Apesar da memória um pouco desgastada, Maria possui algumas lembranças da infância e da época em que estava na escola. Ela contou que, quando criança, gostava de aprontar e por vezes era alvo da palmatória da professora.
Em uma das ocasiões, Maria foi aos fundos da escola, onde tinha uma árvore de tamarindo. Ela contou que pegou as frutas e levou para o pátio da escola, mas se recusou a dividir com os colegas, que contaram para a professora.
“Estudei muito pouco, ia para a escola para bagunçar. As professoras usavam palmatória, acabava com minha mão. Era uma criança danada demais”, lembrou.
A avó de Maria, que a criou, vendia café, queijo e bolo para sustentar a família. Das lembranças com ela, a mulher se lembra de uma das vezes em que pegou uma garrafa de pinga que a avó deixava em baixo da cama.
“Um dia eu peguei a garrafa, chamei uns colegas e fomos para uma casa que meu avô tinha perto do sítio. Falei pra eles: ‘vocês querem beber pinga?’. Mas eu não bebi, fui embora. Sabia que se eu bebesse apanharia da minha avó”, contou.
Maria também se lembra que gostava de fazer armadilhas para os colegas caírem quando iam ao rio para buscar água.
“Enchia meu cantil e ia na frente. Quando chegava na estrada, eu pegava um pedregulho e fazia uma armadilha para eles caírem”, disse.
Fonte: G1