Quando falamos em seres humanos, falamos em um ser tão livre por um lado, mas tão coagido por outro. Não é atoa que a pergunta sobre a existência da liberdade é um problema filosófico ainda discutido. Se assumirmos um determinismo, aniquilamos com a ética, mas se ignorarmos todas as influências que o mundo tem sobre a nossa vida, estaríamos sendo tolos. Qual o ponto de equilíbrio?
Esse artigo é sobre mais uma das influências, dessa vez no que diz respeito a nossa evolução na terra, a tese é de que algumas mudanças na órbita terrestre e a passagem do Sol próximo a explosões de supernovas poderiam explicar certos acontecimentos na vida desse planeta.
Os astros que vemos no céu influenciam sobre a vida na Terra, ainda que não do modo que sugerem os horóscopos. O Sol é a presença central, a fonte da energia que permite a existência de seres vivos em nosso planeta, mas a Lua também desempenha um papel fundamental. Sua presença estabiliza a Terra que, se não tivesse um satélite tão grande, dançaria como um pião a ponto de cair. As grandes mudanças na inclinação em relação ao Sol fariam com que em períodos relativamente curtos de tempo fosse de um planeta sem calotas polares e até 50 graus mais quente do que é hoje a outro em que os gelos permanentes chegariam até o Marrocos.
Os pesquisadores que analisam o passado da vida terrestre observaram que, apesar dessa relativa estabilidade oferecida pela Lua, a biodiversidade flutuou regularmente durante prolongados períodos. Essas mudanças, segundo estudo recém-publicado na revista PNAS, podem ter a ver com os movimentos da Terra em sua viagem pelo cosmos.
Uma equipe de pesquisadores da Nova Zelândia e dos EUA analisou os ritmos de evolução e extinção dos graptólitos, um grande grupo de organismos marinhos que deixou fósseis por todo o planeta, no período entre 480 e 420 milhões de anos atrás, um tempo que viu o surgimento de muitos dos grupos animais que conhecemos hoje e a primeira grande extinção por uma glaciação, que aniquilou 85% das espécies marinhas. Os autores consideram que de 9% a 16% das mudanças na presença e variação dos graptólitos nesses anos podem ser atribuídas a ciclos astronômicos nos quais a Terra segue uma órbita mais elíptica ou mais circular e em que o eixo de rotação do planeta muda. Esses períodos, conhecidos como ciclos de Milankovitch, mudam a variabilidade do clima terrestre, que passa de épocas mais estáveis a outras mais voláteis e de períodos glaciares a outros dominados pelo efeito estufa.
Essas mudanças nos movimentos da Terra em relação ao Sol são influenciadas pelas interações gravitacionais com outros planetas, como os gigantes Saturno e Júpiter, mas ao mesmo tempo que segue seu caminho ao redor da estrela, todo nosso sistema viaja pela Via Láctea exposto a outras influências. Em um artigo publicado na revista Monthly Notices to the Royal Astronomical Society, Henrik Svenskmark, da Universidade Técnica da Dinamarca, analisou registros fósseis dos últimos 500 milhões de anos à procura de picos no surgimento de novas espécies que pudessem estar relacionados a fenômenos astronômicos conhecidos. Dessa forma, observou, por exemplo, que a explosão de uma supernova nas Plêiades pode estar ligada a um aumento na diversidade de animais marinhos como os amonites.
Uma hipótese ainda mais especulativa colocada por pesquisadores do Instituto Tecnológico de Kyoto (Japão) relaciona uma grande glaciação que transformou a Terra em uma grande bola de neve entre 550 e 700 milhões de anos atrás com um período da história da Via Láctea em que ocorreram muitas explosões de supernovas. Os restos desses cadáveres de estrelas teriam formado nebulosas negras que, ao chegar às imediações do Sistema Solar, perturbaram a heliosfera, uma bolha magnética gigantesca que detém boa parte da poeira e dos raios cósmicos que chegam do meio interestelar. De acordo com os cientistas japoneses, a interação dos raios cósmicos com a troposfera e a ocultação da radiação solar teriam produzido um esfriamento da atmosfera e a conseguinte glaciação.
Fonte: El País