Mais de 220 mil pessoas tiveram o Bolsa Família bloqueado ou cancelado no estado da Bahia, após um cruzamento de dados apontar irregularidades no recebimento do benefício do governo federal. A Bahia é o segundo estado em número de cancelamentos e de bloqueios no programa.
De acordo com relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Ministério da Transparência, divulgado na quinta-feira (4), o estado teve 170 mil cancelamentos e 55 mil bloqueios do benefício. Em todo o país, foram encontradas inconsistências cadastrais nos dados de 2,5 milhões de famílias.
Pelas regras do Ministério do Desenvolvimento Social, tem direito ao Bolsa Família quem tem renda mensal familiar de até R$ 170 por mês. As pessoas que ganham entre R$ 170 e R$ 440 tiveram o benefício bloqueado. Já os que ganham acima de R$ 440 tiveram o benefício cancelado.
Os órgãos realizaram cruzamento de dados de gastos e renda das famílias em busca de possíveis fraudes. Isso foi feito usando informações do Cadastro Único declaradas pelos beneficiários quando se inscreveram no programa e outros dados oficiais da base do Ministério da Transparência.
Foram verificados, entre outros pontos, vínculos empregatícios, aposentadorias e a situação de pensionistas.
Algumas pessoas que tiveram o benefício cancelado ou bloqueado na Bahia, no entanto, dizem não saber o motivo da suspensão do benefício. É o caso da autônoma Simone Almeida, que vive com os dois filhos.
Ela conta que ganha R$ 200 por mês com a venda de água, refrigerante e salgadinhos. Mas desde o ano passado, quando o filho mais velho começou a trabalhar, ela teve o benefício do Bolsa Família, de R$ 196, cancelado.
No documento de cancelamento, consta que na casa dela a renda é de R$ 356 reais por pessoa. Ela nega. “Não é verdade de forma alguma. Tenho dois filhos, sendo que apenas um trabalha, mas não recebe salário mínimo. Além disso tenho um filho menor de 8 anos, que não tem renda nenhuma”, diz.
A dona de casa Antônia também não tem renda fixa e diz que vive fazendo “bicos”, e que ainda cria um neto de 13 anos. No ano passado, ela teve o Bolsa Família bloqueado. Já fez o recadastramento, mas até agora não voltou a receber o benefício.
“Se eles forem olhar no meu histórico, eles não vão ver renda. A minha carteira não é assinada e não sou aposentada. Eles me prometeram que eu iria receber, e eu não perco a esperança”, diz.
A Secretaria de Promoção Social e Combate à Probreza de Salvador disse que está esperando mais informações do Ministério do Desenvolvimento Social para falar sobre os indícios de fraude nos cadastros do programa Bolsa Família. Disse ainda que o recadastramento não é garantia de retorno do benefício, porque a pessoa inscrita ainda pode estar em situação irregular.