Por Florisvaldo Ferreira dos Santos
Primeira fase do plano de paz e os desafios para sua concretização
Após meses de intensos combates e negociações diplomáticas, Israel e o grupo Hamas chegaram a um acordo inicial de cessar-fogo, que marca a primeira fase de um plano de paz mais amplo, mediado por Estados Unidos, Egito e Catar, com apoio da ONU. O entendimento busca encerrar um dos conflitos mais sangrentos das últimas décadas e abrir caminho para uma solução política duradoura na Faixa de Gaza.
Primeira fase do plano de paz
O plano estabelece uma trégua temporária como etapa inicial, com medidas concretas a serem cumpridas por ambas as partes. Entre elas estão:
- Libertação de reféns israelenses mantidos pelo Hamas, priorizando mulheres, idosos e pessoas em condições médicas graves;
- Libertação de prisioneiros palestinos detidos por Israel, conforme listas previamente negociadas;
- Retirada gradual das tropas israelenses de áreas densamente povoadas de Gaza;
- Acesso ampliado de ajuda humanitária, incluindo alimentos, medicamentos e combustível, sob supervisão internacional;
- Abertura parcial de fronteiras, como o ponto de Rafah, para permitir o retorno de civis deslocados.
Essa primeira etapa é vista como um teste de confiança. Se bem-sucedida, abrirá caminho para as fases seguintes — voltadas à reconstrução, ao desarmamento gradual e à criação de um governo civil na Faixa de Gaza.
Dá para acreditar que será cumprido?
A história recente mostra que acordos semelhantes já fracassaram. Desde os anos 1990, cessar-fogo entre israelenses e palestinos costumam ser temporários, rompidos por ataques isolados ou por desconfiança mútua.
Um exemplo recente reforça essa percepção: a última grande tentativa de trégua entre Israel e Hamas foi firmada em 19 de janeiro de 2025. O acordo previa cessar-fogo por seis semanas, além da troca de reféns e da ampliação da ajuda humanitária. No entanto, o entendimento durou pouco mais de dois meses, chegando ao fim em 18 de março de 2025, quando novas hostilidades foram retomadas.
Essa curta duração mostrou que, mesmo quando há boa vontade diplomática, a realidade no terreno impõe obstáculos quase intransponíveis — seja pela falta de confiança entre as partes, seja pela pressão de alas mais radicais que se opõem a qualquer cessar-fogo.
Os desafios persistem:
- Israel teme que o Hamas use a trégua para se rearmar e fortalecer posições estratégicas;
- Hamas teme perder influência política e militar sobre Gaza;
- Setores radicais de ambos os lados rejeitam qualquer negociação e podem agir para sabotar o processo;
- A pressão interna em Israel continua alta, entre familiares de reféns e grupos políticos contrários a concessões.
Ainda assim, analistas apontam que há maior envolvimento internacional e vigilância diplomática mais firme, o que pode aumentar as chances de cumprimento parcial, ao menos na fase inicial.
Troca de reféns: vivos e mortos
A troca de reféns é um dos pontos mais sensíveis do acordo. As listas são mantidas em sigilo, mas estima-se que dezenas de civis e soldados israelenses estejam nas mãos do Hamas.
O acordo prevê:
- Entrega imediata de reféns vivos, especialmente idosos, mulheres e enfermos;
- Devolução posterior de corpos de reféns mortos, em troca dos restos mortais de palestinos sob custódia israelense;
- Supervisão internacional durante todo o processo, para garantir integridade e transparência.
A troca de reféns é tanto um gesto humanitário quanto um símbolo político, representando a disposição de cada lado em cumprir o que foi pactuado.
Desarmamento dos guerrilheiros
Outro ponto controverso é a entrega ou controle das armas usadas por grupos armados ligados ao Hamas.
Israel exige o desmantelamento total das capacidades militares do grupo, incluindo túneis, foguetes e artilharia pesada. O Hamas, no entanto, considera a exigência uma tentativa de enfraquecer sua resistência e busca negociar um desarmamento parcial, com supervisão internacional.
O desafio é garantir um equilíbrio entre segurança e soberania local — algo que até hoje nenhum acordo conseguiu efetivar completamente.
Quem vai comandar a Faixa de Gaza?
Após um eventual cessar-fogo duradouro, a grande incógnita será quem governará Gaza. Três hipóteses principais estão sobre a mesa:
- Autoridade Palestina (AP) reassume o controle civil e administrativo, sob apoio internacional;
- Administração provisória internacional, supervisionada pela ONU ou por uma coalizão regional, até novas eleições;
- Governo híbrido palestino, com participação limitada de membros do Hamas que aceitarem renunciar à luta armada.
A definição da liderança local será determinante para a estabilidade política e para a reconstrução do território devastado.
O papel da ONU
A Organização das Nações Unidas deverá atuar como mediadora e fiscalizadora do processo. Entre suas principais atribuições estão:
- Monitorar o cumprimento do cessar-fogo;
- Coordenar ajuda humanitária e reconstrução civil;
- Supervisionar o desarmamento sob mandato do Conselho de Segurança;
- Acompanhar eleições futuras ou processos políticos locais.
Contudo, a ONU enfrenta limitações práticas — depende da cooperação de ambas as partes e da autorização de entrada em território de conflito. Ainda assim, sua presença é essencial para garantir legitimidade e transparência ao acordo.
Desafios e perspectivas
Apesar das boas intenções, o Acordo Israel & Hamas está cercado de incertezas. As feridas do conflito são profundas, a desconfiança é mútua e os interesses regionais se entrelaçam.
Por outro lado, existe uma pressão inédita da comunidade internacional — cansada de ver o Oriente Médio em constante estado de guerra. O acordo representa, portanto, uma rara oportunidade de recomeço, ainda que frágil.
Se a primeira fase for cumprida, poderá se transformar em um marco histórico. Se fracassar, será mais um capítulo de promessas quebradas e de sofrimento civil.
Conclusão
O acordo entre Israel e Hamas é, ao mesmo tempo, um sinal de esperança e de cautela. Sua viabilidade dependerá da capacidade de ambos os lados de priorizar vidas humanas acima de interesses políticos e militares.
Em meio à desconfiança e ao cansaço da guerra, o mundo observa: será este o início de uma paz real, ou apenas mais uma pausa em um conflito sem fim?
Fontes: ONU, Reuters, Washington Post, Le Monde, Wikipedia (Resolução 2735 e cessar-fogo de janeiro de 2025).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
3 Comentários
Boa matéria, caro Editor. Exposição perfeita do problema histórico que permeia o presente acordo, susceptível de rompimento por banalidades. Em nome dos milhares de palestinos que já perderam as suas vidas e dos 1.200 israelenses que se foram no atentado terrorista do Hamas em 2023, vamos esperar que sejam corretos no cumprimento do acordo atual. Parabéns!
O NOBRE FLORISVALDO FOI DIDÁTICO. EXEMPLIFICOU E PONTUOU COM DOMINIO DO ASSUNTO. ESPEREMOS POIS QUE, OS ACORDOS SEJAM CUMPRIDOS E QUE A FELICIDADE DAS PESSOAS VISTO PELA TV NÃO SEJA APENAS UMA TRÉGUA. BELO ARTIGO!
O governo de Israel, ontem (quinta-feira 9) ratificou o acordo com o Hamas para um cessar-fogo e a devolução dos reféns em poder do grupo terrorista. Com isso, começa a contar o prazo de 24 horas para a implementação do cessar-fogo na Faixa de Gaza.
O acordo prevê a libertação dos reféns pelo Hamas em um prazo de 72 horas. Mais cedo, o Hamas já havia assinado o acordo e declarado um cessar-fogo permanente.
Antes da aprovação do governo de Israel, a proposta passou pelo Conselho de Segurança do país.