Ao contrário do que se tem notícia, a célebre Velhinha de Taubaté, assim como Elvis Presley, não morreu. Apesar de seu criador, o escritor Luis Fernando Veríssimo, ter decretado há mais de uma década, em crônica publicada em O Estado de S.Paulo, o falecimento da venerada senhora, vira e mexe alguém insiste em descobrir seu atual paradeiro para perguntar a quantas anda sua convicção sobre a credibilidade do governo e a situação política do país.
Para refrescar a memória, ou informar os mais jovens que não conheceram tão ilustre personagem, vale lembrar que a Velhinha de Taubaté – criada durante o último governo militar, do presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985) – era uma alma inocente, que acreditava em tudo que lhe diziam, principalmente se a fonte era Brasília. “Ela acredita em anúncio, acredita em nota de esclarecimento, acredita até nos ministros da área econômica”, segundo Veríssimo.
Porém, mesmo a inabalável fé da Velhinha sucumbiu diante do choque de realidade provocado pelo escândalo do Mensalão. Em 2005, sofreu um piripaque na frente da televisão e partiu desta para melhor. Dizem que foi desgosto ao descobrir que seu ídolo, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, estava mergulhado em um mar de lama. Mas ainda paira a suspeita de suicídio. Ela teria se envenenado, com uma xícara de chá batizado, tamanha a desilusão com o governo que vinha carregando havia algum tempo.
Corte rápido para 2018 – quando se aguarda um tremor em solo pátrio, não apenas por ser ano de Copa do Mundo, mas sobretudo por ser ano de eleição presidencial – e VEJA foi até a conhecida cidade do Vale do Paraíba, localizada a 130 quilômetros da capital paulista e terra de outros brasileiros notáveis, como Monteiro Lobato e Hebe Camargo, para verificar a veracidade dos fatos: estaria mesmo, morta e enterrada, a crédula Velhinha?
Mesmo sem ter em mãos o endereço da senhorinha em questão, resolvemos arriscar e tentar encontrá-la nos locais onde ela poderia frequentar: o Mercado Municipal, a Praça Santa Terezinha, no centro da cidade, e a Casa do Figureiro, o maior centro de artesanato da região. Procura daqui, vasculha dali, pede-se informação a um transeunte e outro, e nada.
A Velhinha de Taubaté, a própria, realmente saiu de circulação na década passada, mas encontramos aquelas que podem muito bem representar a versão atual do personagem. Em 2018, não podemos dizer que elas são exatamente velhinhas, mas têm lá suas crenças. O governo, decididamente, não é uma delas.
Por exemplo, trabalhando em sua barraca de frutas no Mercado Municipal, está d. Aparecida (Medeiros da Silva, 80 anos), semblante altivo, voz firme e sem meias palavras vai avisando: “Nunca votei na vida. Aprendi com meu pai, que era da lavoura e ensinou assim para todos os filhos”. Ela também conta que está ali, trabalhando no mesmo local, há 53 anos – antes ela passou 20 anos “na roça”. Levanta-se todos os dias às três e meia da manhã, porque antes de pegar no batente faz potes de doces e compotas, vendidos para reforçar o orçamento doméstico. “O senhor acha que é possível que com 80 anos eu ainda tenha que trabalhar, porque a minha aposentadoria é de apenas um salário mínimo?”, indaga indignada. E declara com todas as letras: “Lá (em Brasília) são todos ladrões, sempre quem ganha são os políticos, o povo está vendo toda essa pouca vergonha e continua votando nessa gente”, diz inconformada. Na sua casa, conta, filhos, netos e bisnetos dizem que vão votar nas eleições: “Mas isso é com eles, eu não me meto”. E dispara: “A minha opinião eu não mudo, porque tem duas coisas que eu não gosto nessa vida, dívida e mentira”. Declaração impensável para a Velhinha de Veríssimo.
Fonte: https://veja.abril.com.br
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 29/05//2018