As arquitetas Carolina Montalvao e Luiza Sena utilizam ferramentas de inteligência artificial no desenvolvimento de seus projetos – Tarefas cotidianas serão feitas sem abrir aplicativos. Smartphones que chegam a partir de 2025 terão habilidade de interagir com usuários – Foto: Leo Martins
Primeiro, a inteligência artificial (IA) generativa permitiu criar resumos de texto, gerar imagens e traduzir conversas em tempo real durante videoconferências. Em seguida, ganharam espaço aplicações mais complexas, que podem atender clientes, gerenciar fluxos de produção ou ajudar a desenvolver produtos numa empresa.
É assim que, desde o lançamento do ChatGPT, há dois anos, que a IA generativa tem transformado a relação dos usuários com seus celulares e computadores. Agora, as gigantes globais da tecnologia prometem tornar essa tecnologia ainda mais integrada ao cotidiano.
Já em 2025, novos aparelhos dotados de superchips e ferramentas de IA para “conversar” com seus usuários chegam para abrir uma nova fase de desenvolvimento dessa tecnologia.
Na chamada IA multimodal, o usuário vai “falar” com o dispositivo sem a necessidade de abrir um aplicativo. Será possível, por exemplo, solicitar ao celular o saldo na conta bancária, marcar as férias ou encomendar o jantar sem ter de interagir com o app de banco, hospedagem ou delivery. Bastará um comando de voz e a IA percorrerá sozinha os caminhos para cumprir a tarefa.
Na prática, segundo especialistas e empresas, a promessa é que a IA “entenda o contexto” usando todas as fontes de dados nos aparelhos, como informações capturadas em câmeras, GPS, microfones, carteiras digitais e apps já instalados para gerar respostas com baixo índice de erros.
Jesper Rhode, fundador da consultoria de tecnologia Tr4nsform, compara esse deslocamento da IA do software para o hardware a uma fábrica:
– Há dois anos, eram apenas pequenos blocos isolados em uma linha de montagem. Agora, essas unidades estão se conectando e formando uma linha de produção automatizada, permitindo que usuários e aparelhos tenham uma conversa natural, que vai sendo aperfeiçoada conforme o uso e o histórico das preferências. E a inteligência artificial é o combustível. Você vai conversar com o celular e o computador e pedir o que quiser.
E a corrida entre as big techs está acelerada. A Apple, por exemplo, que anunciou recentemente o Apple Intelligence, sua plataforma de IA, iniciará neste mês a integração da Siri e das ferramentas de escrita do iPhone com o ChatGPT, permitindo que sua assistente virtual busque informações em e-mails e calendário, por exemplo.
Disponível em inglês inicialmente, a americana diz que a novidade terá outros idiomas, como o português, ao longo do próximo ano.
Info nas câmeras
Fabricantes de smartphones como Samsung, Xiaomi, Realme e Asus já deram pistas da próxima geração de dispositivos com IA após anunciarem parceria com a Qualcomm, que apresentou recentemente seu novo processador preparado para os desafios da nova tecnologia, o Snapdragon 8 Elite.
A nova IA na palma da mão vai permitir funções até agora restritas a filmes de ficção científica, como perguntar ao celular o significado de algo captado pela câmera em tempo real. Será possível, por exemplo, fotografar a conta de um restaurante e dividi-la proporcionalmente entre as pessoas à mesa.
– A IA generativa passa a ser personalizada e multimodal diretamente no dispositivo, permitindo a compreensão da fala, do contexto e das imagens para aprimorar tarefas de trabalho e lazer. Após o celular se tornar o novo computador, os aparelhos podem agora entender como os seres humanos se comunicam e a sua linguagem – diz Chris Patrick, vice-presidente sênior e gerente-geral de Aparelhos Móveis da Qualcomm. – A IA permitirá aos dispositivos entender o ambiente ao redor, reconhecendo sons e espaços com precisão.
A Samsung deve anunciar em janeiro o S25 em parceria com Qualcomm e Google. Ao longo deste ano, a sul-coreana lançou o Galaxy AI, que ajudou a popularizar recursos generativos, como edição e criação de imagens, tradução de ligações e resumo de textos.
– A IA está mudando a forma como as pessoas se comunicam e se relacionam. E isso não apenas no celular, mas também em PCs e relógios com IA, tanto no próprio aparelho como na nuvem. Com essas soluções, começaremos a ver os benefícios da IA – afirma TM Roh, chefe global da Divisão de Dispositivos Móveis da Samsung.
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As chinesas Xiaomi e a Realme já anunciaram no exterior de seus novos telefones com IA multimodal, o Xiaomi 15 e o Realme GT 7 Pro, respectivamente. A nova geração contará ainda com o 5G Advanced, que amplia a velocidade de conexão já alta do 5G atual.
Além dos smartphones, os fabricantes investem em notebooks integrando IA na unidade central de processamento (CPU) e no mecanismo gráfico (GPU) para proporcionar respostas mais rápidas e precisas. Alguns já são fabricados com teclas que acionam a IA diretamente.
A Dell, por exemplo, apresentou recentemente o notebook Latitude 5455 com os novos recursos do Copilot+, da Microsoft. A máquina atinge até 45 trilhões de operações por segundo e sua bateria dura até 27 horas.
Rodrigo Nogueira, fundador da Maritaca IA e doutor em Ciência da Computação pela New York University (NYU), explica que as novidades só são possíveis graças à evolução do hardware, com aparelhos mais potentes e baterias de maior duração:
– Com mais capacidade, os aparelhos processam vídeos, fotos e fala de forma mais rápida. Isso vai permitir uma interação mais complexa com os aparelhos por voz, deixando a era do clique atrás de clique para trás. Esse movimento tende a ser cada vez mais rápido.
Dia a dia digitalizado
Muita gente já incorporou a IA generativa ao cotidiano e está pronta para começar a dialogar com seus aparelhos, uma vez que a principal interface da nova tecnologia é a linguagem. As arquitetas Luiza Sena e Carolina Montalvão consideram o celular e o tablet uma “extensão” de suas pranchetas. Aderiram a aplicativos de IA que ajudam desde o esboço inicial até a apresentação final de um projeto ao cliente.
– Com um aplicativo, apontamos a câmera do celular para medir espaços e criar plantas diretamente, otimizando nosso tempo e diminuindo a necessidade de medições manuais. Com óculos de realidade virtual, os clientes conseguem, na própria obra, visualizar como tudo vai ficar. Permitem enxergar o projeto em escala real e caminhar virtualmente pelo espaço antes mesmo de a obra começar. A IA não substitui nossa visão como arquitetas, mas potencializa nosso trabalho – diz Luiza.
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Foi essa mesma lógica que levou Fernando Brandão, fundador da sorveteria Sole Neve, a criar um sorvete com IA. Ele conta que combinou a visão estratégica da marca com algoritmos que analisam preferências de mercado, combinações inusitadas e tendências de consumo. Assim, nasceu uma versão com cacau, castanha de caju caramelizada e rapadura, finalizada com geleia de pimenta dedo de moça.
– Deu certo. O novo produto ganhou a aprovação do público e foi para o cardápio das 200 lojas. Já usamos a IA para auxiliar no gerenciamento da empresa, utilizando assistentes para organizar compras, gerenciar fornecedores e otimizar processos internos —afirma Brandão, que trouxe o novo sabor para Copacabana, na Zona Sul do Rio, onde abriu a primeira loja carioca da rede.
As inovações dos dispositivos com IA vêm acompanhadas ainda de aprimoramentos nos sistemas de áudio e imagem. Os novos smartphones terão capacidade de converter qualquer imagem em 4K. A câmera terá capacidade de adicionar mais luz apenas em pontos específicos da foto e do vídeo, como no rosto da pessoa enquadrada com a ajuda de algoritmos que mapeiam as imagens e dão respostas imediatas.
O zoom com qualidade está cada vez mais potente, chegando a 20 vezes. O GPS, por sua vez, ganha mais precisão e poderá antecipar os próximos movimentos dos usuários, aprimorando a conectividade.
Combinando todas essas novas funções, a Asus lança o Rog Phone 9, voltado para o público gamer. A IA multimodal vai permitir que as imagens dos jogos se apresentem bem realistas, reproduzidas em 3D. Um dos diferenciais, diz Sascha Krohn, diretor de Marketing da Asus, é que os smartphones terão pela primeira vez uma CPU semelhante à de notebooks.
– Essas inovações ganharão tração em 2025. A adoção será rápida. Por outro lado, a IA é constantemente treinada e atualizada para melhorar a precisão das respostas em um cenário cercado de desafios. Há a necessidade de as big techs informarem como esses ecossistemas de IA são construídos. É importante que o usuário entenda até que ponto ele pode fornecer informações pessoais a essas plataformas – alerta Jesper Rhode, da consultoria de tecnologia Tr4nsform.
Fonte: https://oglobo.globo.com – Por Bruno Rosa – Rio de Janeiro
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
3 Comentários
O artigo “Vai pedir comida ou consultar saldo? Na nova era da ‘IA’, apenas dê uma ordem ao celular” é um exemplo marcante do impacto transformador da inteligência artificial em nossas rotinas. Ele destaca como a evolução da IA, especialmente na forma multimodal, está revolucionando a interação com dispositivos ao tornar a comunicação mais intuitiva e integrada. A perspectiva de “conversar” com aparelhos sem a necessidade de navegar por aplicativos reflete um avanço que promete redefinir tanto a produtividade quanto o lazer.
Com um panorama abrangente, o texto explora o papel das grandes empresas de tecnologia, como Apple, Samsung e Xiaomi, que lideram essa corrida, e demonstra como a inovação em hardware e software está viabilizando experiências quase ficcionais. Desde a organização de tarefas cotidianas até a criação de produtos personalizados, como o sorvete da Sole Neve, o artigo ilustra como a IA está impactando tanto a vida pessoal quanto a profissional.
O equilíbrio entre enaltecer os benefícios dessa transformação e abordar questões como privacidade e transparência na utilização de dados fortalece a relevância do texto. É uma leitura essencial para compreender o futuro digital que já está se consolidando em nossas mãos.
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https://oglobo.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2024/12/01/em-dois-anos-o-chatgpt-pos-a-ia-no-nosso-dia-a-dia-e-agora.ghtml