Era um fim de tarde de sábado. Eu estava molhando o jardim da minha casa, quando fui interpelada por um garotinho com pouco mais de 9 anos, dizendo:
– Dona, tem pão velho?
Essa coisa de pedir pão velho sempre me incomodou desde criança.
Olhei para aquele menino e perguntei:
– Onde você mora?
– Do outro lado do trevo, me disse.
– Bem longe, hein?
– É… mas eu tenho que cruzar a cidade para pedir as coisas para comer.
– Você está na escola?
– Não. Minha mãe não pôde comprar material escolar pra mim.
– Seu pai mora com vocês?
– Não, meu pai sumiu e deixou eu, minha mãe e mais três irmãos menores.
E o papo prosseguiu, até eu que disse a ele:
– Vou buscar o pão que você me pediu.
Foi quando ele me respondeu:
– Não precisa, não. A senhora já conversou comigo! Tá bom, isso é suficiente.
A resposta caiu em mim, como um raio. Tive a sensação de ter absorvido toda a solidão e falta de amor daquela criança, daquele menino de apenas nove anos, já sem sonhos, sem brinquedos, sem comida, sem escola e tão necessitado de um papo, de uma conversa amiga.
Quantas lições podemos tirar dessa resposta: “Não precisa, não. A senhora já conversou comigo, e isso é suficiente”.
Que poder mágico, tem o gesto de falar e ouvir com amor. Alguns anos já se passaram, e continuam a pedir “pão velho” na minha casa… e eu, dando pão novo, mas procurando, antes, compartilhar o pão das pequenas conversas, o pão dos gestos que acolhem e promovem.
Este pão de amor, não fica velho porque é fabricado no coração de quem acredita naquele que disse: “Eu Sou o pão da vida!”
Fiquemos atentos a quantas pessoas podem estar esperando uma só palavra de acolhimento da nossa parte…… (Autor Desconhecido).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 23/05/2020