Apesar de ter encerrado suas atividades em 1991, a Companhia Internacional de Seguros (CIS) permanece mais presente do que nunca nas lembranças dos seus ex-funcionários. A experiência de ter trabalhado em uma seguradora independente e que priorizava a qualidade técnica de seguro tem rendido boas histórias nos encontros dos Amigos da CIS, denominação do grupo que reúne ex-colaboradores da companhia, corretores, segurados e simpatizantes. Neste ano, os Amigos da CIS realizaram seu sétimo encontro no dia 29 de março, no restaurante do Circolo Italiano, com a presença de 24 pessoas. Organizado por Adevaldo Calegari, o evento teve novidades e muita emoção.
O livro sobre Celso da Rocha Miranda
Uma das novidades foi apresentada por Rodolfo da Rocha Miranda, filho de Celso da Rocha Miranda, fundador da CIS. Como havia prometido em encontros anteriores, ele trouxe para os Amigos da CIS exemplares do livro O Semeador Celso da Rocha Miranda, de autoria de Tom Cardoso. O livro é resultado da recomposição histórica da trajetória do empresário, trazida à tona pela Comissão da Verdade, em 2011. Além do fechamento das empresas da família Rocha Miranda pelo regime militar, em especial da Panair do Brasil, a obra relata a perseguição política ao empresário, que atingiu a Ajax Corretora de Seguros, e a sua dura luta contra a entrada dos bancos no seguro, na época em que dirigia a CIS.
“O livro nasceu dessa busca ao passado, da restauração das verdades, da recomposição da história, na época em que começamos a estudar e a rever os fatos na Comissão da Verdade. Mas, não foi feito para ser vendido ao público e sim para contar a história do grande empresário Celso da Rocha Miranda, morto aos 68 anos de idade, e que nem os seus netos conheciam”, disse Rodolfo.
O livro sobre a CIS
Outra novidade anunciada durante o sétimo encontro foi o projeto de um livro para contar a história da Companhia Internacional de Seguros, fundada em 1946. Os Amigos da CIS, que desejavam muito perpetuar a memória da companhia, iniciaram a coleta de material desde o primeiro encontro, em 2013. Agora, o livro, enfim, está tomando forma no projeto do experiente jornalista e escritor Ricardo Viveiros. Ele, que também trabalhou na CIS, deu um depoimento emocionante sobre as razões que o levaram a assumir essa missão.
“Sinto-me bastante à vontade para tocar esse projeto, porque trabalhei na companhia. Quando voltei do exílio, no começo dos anos 70, vim para São Paulo, porque a ditadura estava no fim e no Rio de Janeiro eu seria facilmente identificado. Fui abrigado na Companhia Internacional de Seguros, pela qual tenho um carinho muito especial e também por vocês, que me ajudaram, permitindo que reconstruísse a minha vida. Obrigado”.
Segundo Viveiros, o título provisório do livro será “Trajetória da Companhia Internacional de Seguros e o seu legado para o setor de seguros no Brasil”. Além de registrar a memória institucional da seguradora, o objetivo será também recuperar a história dos empreendimentos da família Rocha Miranda (Ajax, Prospec, Cobraf, Panair etc.) e outras iniciativas, como o apoio ao desenvolvimento do pólo petroquímico de Camaçari, na Bahia.
Viveiros explicou que o livro será dividido em quatro partes. A primeira parte será dedicada à história pessoal de Celso da Rocha Miranda: nascimento, infância, adolescência, início da vida profissional na Companhia São Paulo e depois na italiana Generali. A segunda parte trará as ideias inovadoras, empreendedoras e até revolucionárias dele a partir de 1940, quando constituiu uma empresa brasileira a partir da união de uma organização britânica que conheceu em Petrópolis com as técnicas italianas de vendas aprendidas na Generali.
Na terceira parte, a obra mostrará o segurador Celso da Rocha Miranda e suas contribuições à cultura do setor, durante o governo Juscelino Kubitschek, destacando, ainda, o trabalho de seu irmão e braço direito Plácido da Rocha Miranda. A quarta parte será reservada ao período mais difícil da vida do empresário durante o regime militar. Nessa época, a Internacional atingiu o auge, ocupando, em 1977, o terceiro lugar no ranking do setor e, posteriormente, começou a declinar, nos anos 80, durante os altos e baixos da economia. “Esta parte termina com o cenário do mercado de seguros na década de 1990, o encerramento das atividades da Internacional e o grande e importante legado histórico”, disse.
Com a palavra, os amigos
Antes de franquear a palavra ao grupo, Calegari prestou uma homenagem a Silvio Gebram (Chico) pelos 80 anos da corretora Gebram, celebrados em dezembro do ano passado. Não passou despercebido de Chico o fato de três dos dez ícones do setor homenageados durante a festa da Gebram estarem presentes no encontro dos Amigos da CIS. “O Osmar Bertacini, o Hélio Opípari e o Rodolfo da Rocha Miranda (que representou o Plácido da Rocha Miranda) receberam o troféu Marco Antonio Rossi, que foi batizado com este nome porque ele era um grande amigo e uma pessoa agregadora. A Internacional foi a melhor seguradora graças a vocês”, disse.
Em seguida, por sugestão de Reinaldo Oliveira, ele homenageou a memória de Renato Zia e de Rene, ex-colaboradores da CIS falecidos recentemente, e pediu vibrações positivas para Élcio Fiuza Lobo, também ex-funcionário, e Mauro Solssia, corretor de seguros, para que ambos se recuperem de problemas de saúde.
Dentre os que participaram pela primeira vez do encontro, Roberto Westenberger, ex-superintendente da Susep, foi o primeiro a falar. Ele explicou que apesar de ter recebido convite para os demais encontros, somente agora pode comparecer. “Agora, estou liberado. Tive uma breve, mas muito intensa, passagem pela Internacional entre 1983 e 1985. Estava concluindo meu doutorado em atuária, quando conheci Celso da Rocha Miranda em Londres. Depois, tive o privilégio de ser testado por ele no Brasil. Cheguei na companhia pensando que sabia tudo, mas vi que não sabia nada. Por isso, a Internacional para mim foi uma grande escola. Lá, iniciei minha trajetória de conhecimento na técnica de seguro. Tenho muita honra de ter trabalhado na Internacional e agradeço a Deus por ter me dado essa felicidade”.
Também pela primeira vez no encontro, Sueli Lima, hoje corretora de seguros, lembrou as amizades que conquistou na Internacional e mantém até hoje. “O que faz me sentir muito, muito honrada é perceber como algumas companhias, como a Internacional, marcam a nossa vida. É muito gratificante ver amigos de tanto tempo reunidos aqui”, disse.
Estreando no evento, Marcos Antonio Paturalski relatou o início de sua carreira como office-boy. “Foram anos maravilhosos. Era gostoso sair na rua com o uniforme, a calça azul e a camisa branca. Hoje, vejo a moçada e sei que ninguém passou por isso. Mas, quem passou nunca esquece”, disse.
Tony Galvão, outro que participou pela primeira vez, contou que depois de sair da Internacional teve o privilégio de ser um dos oito corretores de seguros especializados em transporte de valores no país. “Foi nessa época que aprendi a trabalhar e, posteriormente, passei a ter oito contas de valores no Brasil. Tenho muito orgulho dos meses que atuei na empresa, na qual aprendi o que é seguro e o que é prazer”, disse.
Outro estreante, Luis Roberto Prebelli agradeceu a Ronald Kaufmann a importante orientação técnica recebida quando ainda trabalhava na Montreal. “Depois fui para a Ajax, fiz um estágio na SulAmérica e, em seguida, entrei na Internacional, na qual tive o privilégio de ter uma formação não apenas técnica, como comercial e atuarial. Enfim, foi um aprendizado completo que me deu a oportunidade e a bagagem para seguir na vida profissional”, disse.
Já dentre os veteranos, Osmar Bertacini destacou que completará 55 anos de mercado de seguros em 7 junho, data que marca seu início na Internacional, na qual atuou por 22 anos. Ele fez questão de agradecer mais uma vez a Rodolfo da Rocha Miranda o apoio recebido 43 anos atrás, por ocasião do seu casamento. “Eu, vindo do interior, humilde, tímido, chegar aonde cheguei, parte do mérito foi a minha dedicação, honestidade e competência e parte foi a Internacional. Tenho orgulho do aprendizado e das amizades que conquistei”, disse.
Hélio Opípari fez todos rirem com seus causos pitorescos da época em que atuava como inspetor na Internacional, em Uberaba (MG). Ele contou como se assustou quando foi recebido por um segurado armado de revolver, que tentava intimidá-lo para que não denunciasse o sinistro fraudulento. “Fui embora, fiz meu relatório e a companhia negou o sinistro”, disse. Opípari também relatou seu inicio por acaso em seguros, aos 17 anos, época em que recebia pequena comissão do primo para ajudá-lo a vender seguro de vida. “Eu vendia bastante e recebi o convite do gerente da Internacional para ser inspetor de zona”, disse. Foi nessa época que conheceu Karl Blindhuber, um alemão, que, a seu ver, era o maior homem de incêndio do país e cujos ensinamentos foram essenciais para a sua evolução na profissão.
Dentre os presentes, Rogério Antonio Alves foi o que mais tempo trabalhou na CIS. “Foram 30 anos dos meus 58 anos de seguros”, disse. Ele revelou que tem histórias “saborosas” da sua trajetória na companhia e que teve o privilégio de ser o primeiro gerente a visitar a sede da empresa no Rio de Janeiro. Lembrou-se, ainda, das palavras de Plácido da Rocha Miranda quando o indicou para presidir uma das empresas da família. “Ele me apresentou como candidato a ocupar a vaga, dizendo que eu era um homem de confiança da família. Fiquei lisonjeado porque sempre busquei corresponder essa confiança”, disse.
Artur Santos relatou a sua reação ao contratar o então jovem promissor Roberto Westenberger. “Disseram-me que havia um menino vindo de Londres, com doutorado, e que era oportuno contratá-lo. Mesmo sem conhecê-lo, também achei oportuno. Ele fez parte de minha equipe e aquele foi o início de uma carreira brilhante”, disse. Lembrou-se também de ter sido o diretor mais jovem da Internacional e de como gostava das festas. “Tudo era motivo para festejar”, disse.
Coube a Adilson Prata resgatar um documento que simboliza a excelência técnica da Internacional também na arte da escrita. Trata-se de uma justificativa para negativa de um sinistro de automóvel por condutor não habilitado, após o pai do segurado se queixar à Susep de que na proposta não havia campo para informar a habilitação.
“A própria missiva do pai do segurado se basta para se pronunciar a improcedência do seu pedido. É que, por ela, o postulante confessa ser o segurado inabilitado para dirigir, não contestando inclusive a validade da cláusula excludente em foco. Por isso, apenas se insurge o fato de a seguradora não ter solicitado ao segurado a prova da sua inabilitação”, registra um trecho da carta assinada por Domingos Neri Penido, diretor superintendente, em 1983.
Os Amigos da CIS deverão se encontrar mais uma vez neste ano. Calegari aproveitou a oportunidade para “intimar” Chico Gebram a promover um novo churrasco para o grupo no seu sítio, em Jundiaí. “Pensei em setembro, quando poderemos comemorar também o aniversário do Chico”, disse.
Texto e Fotos: Márcia Alves
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade -14/04/2017