Relacionar o mercado brasileiro de automóveis com o norte- americano vai além de uma conversão simples de valores. É preciso entender preços, tributação, diferenças na composição do combustível e até estatísticas de retorno de imposto. Afinal, como pudemos ver na lista dos supercarros apreendidos pela Polícia Federal, nem sempre o nosso dinheiro está indo para o destino correto. Partindo disso, a reportagem do iG Carros apresenta o levantamento de diversos tópicos para comparar os custos de se manter um carro no Brasil.
1 – Financiar um carro é (bem) mais fácil
Este é um dos tópicos que mais gera polêmica entre os custos. Em uma conversão de valores, concluímos que, em dólar, os carros brasileiros não ficam tão distantes dos americanos. Convertendo o valor do Honda Fit EXL, avaliado em R$ 80.900, para dólar, chegamos em exatos US$ 25 mil. Valor bem próximo dos US$ 21.410 que a Honda pede por ele nos Estados Unidos, na mesma versão. Tudo muda quando tratamos das condições de financiamento.
Nos Estados Unidos, é possível dar uma entrada mínima e financiar o resto diretamente com o vendedor. Ao fim do financiamento, você não terá pago nem 10% de juros pela compra. Vamos, novamente, tomar o Fit EXL como exemplo. O site da Honda americana permite simulações de financiamento, que são feitas diretamente com a marca, sem intermédio de bancos, como acontece no Brasil. Escolhemos o financiamento em 60 meses, oferecendo 10% de entrada (US$ 2.100), que é um dos tipos mais comuns de compra de carro por lá.
O valor mensal a ser pago ficaria na casa dos US$ 351, que multiplicado pelo número de meses resultaria em US$ 21.060. Somando os US$ 2.100 que oferecemos de entrada, chegamos ao valor real de um Honda Fit EXL financiado com 10% de entrada nos Estados Unidos: US$ 23.160 (cerca de R$ 75.243 numa conversão simples). Nesse caso, ao longo dos 60 meses, você terá pago US$ 1.750 de juros, ou cerca de R$ 5.685.
Logo de cara, é impossível reproduzir o mesmo esquema de financiamento aqui no Brasil. Os bancos permitem que as concessionárias aceitem, no mínimo, 20% do valor do carro para que o negócio seja efetuado. E com taxas de juros elevadas, o negócio fica bem mais complicado. Entramos em contato com uma concessionária da Honda em São Paulo e perguntamos, por curiosidade, o tempo máximo de financiamento. O vendedor nos informou que o limite é de 48 meses, com 20% de entrada, o que faria o Honda Fit de R$ 80.900 passar dos R$ 100 mil, considerando taxa de 1.20% ao mês que nos foi oferecida.
Trouxemos o negócio para a nossa realidade e oferecemos metade do valor do carro de entrada (R$ 40 mil). Nos foi concedido um parcelamento de R$ 1.234,92, que seriam pagos ainda em 48 meses. Nesse caso, ao fim do parcelamento, o cliente terá desembolsado R$ 99.232 pelo modelo compacto da Honda, o que representa R$ 17.232 apenas em juros. Portanto, por mais que o valor de tabela, em dólar, não seja tão discrepante entre Brasil e Estados Unidos, as condições de financiamento permitem um negócio muito mais fácil e viável nos EUA. Antes de colocar a nota fiscal astronômica do seu carro na conta das montadoras, lembre também de culpar os bancos.
O imposto para manter um carro lá também é menor. O IPVA do Honda Fit EXL custa R$ 3.236, enquanto o seu equivalente nos Estados Unidos (Motor Vehicle Excise Tax) está na casa dos US$ 256,25, ou R$ 827,68.
2 – Revisões em conta
Paga-se muito mais para manter um Honda Fit no Brasil que nos Estados Unidos. Por aqui, as manutenções do Fit EXL estão tabeladas em R$ 279,28 aos 10 mil quilômetros, R$ 410,87 aos 20 mil quilômetros e mais R$ 440,28 aos 30 mil quilômetros. Ou seja, ao chegar nos 30 mil quilômetros rodados, o cliente terá deixado R$ 1.129 na concessionária.
A Honda dos Estados Unidos oferece um plano de manutenção semelhante, porém mais barato. De acordo com a planilha de reparos disponível no site de uma concessionária em Jacksonville (FL), as revisões acontecem às 5, 10, 15 e 20 mil milhas rodadas, sendo que o último número corresponde a 32 mil quilômetros. Nesse caso, um americano pagaria US$ 100 nas duas primeiras, US$ 299 na terceira e mais US$ 100 na quarta, totalizando US$ 600 (em torno de R$ 1.949) por um serviço mais completo, lembrando que nos EUA é feita uma revisão a mais.
3 – O preço do pedágio
Se você mora em São Paulo e gosta de ir para a região litorânea, está entre as pessoas que sofrem com o pedágio da Anchieta, na altura do Riacho Grande, em São Bernardo do Campo. Ele foi reajustado para R$ 25,60 na metade do ano passado, e passou a pesar ainda mais no bolso de quem desce a serra para Santos.
Pois bem, o pedágio mais caro dos Estados Unidos está localizado na Cheaspeake Expressway, na Virgínia, e custa US$ 1,05 (ou R$ 3,39, em uma conversão simples). Achou pouco? Pois saiba que o segundo pedágio mais caro do país está na Califórnia, mais especificamente na 17-Mile Drive, e custa US$ 0,54 (ou R$ 1,74). E ainda tivemos outra surpresa: é possível trafegar por metade dos estados americanos sem encontrar qualquer pedágio para interromper sua viagem. Alguns estados, como a Flórida, ainda disponibilizam o SunPass, que seria equivalente ao nosso Sem Parar. Entretanto, além de passagem livre nas catracas pelas extremidades, o condutor ainda terá 20% de desconto em qualquer pedágio.
4 – Combustível com preço justo, e de qualidade
O que desencadeou a ideia para nossa lista foi a notícia de que o preço da gasolina nos Estados Unidos é o mais alto desde 2014. A partir deste ano, a gasolina terá um aumento de US$ 0,19, totalizando o novo valor de US$ 2,57 por galão, ou R$ 8,35 por 3,78 litros de combustível. É como se os americanos estivessem pagando R$ 2,20 pelo litro da gasolina, valor muito mais baixo que o preço praticado no Brasil. Em uma volta rápida pelos postos na Zona Norte de São Paulo, os menores preços encontrados para a gasolina comum estão na faixa dos R$ 3,79
Há um agravante para deixar a conta ainda mais absurda: a quantidade de etanol presente na gasolina brasileira é de 27% para o combustível comum e aditivado, e 25% para o premium. Isso não é segredo, e os números podem ser encontrados no site oficial da Petrobras. Ou seja, além de mais caro, o nosso combustível rende bem menos que o americano, com 10 % de etanol de milho.
5 – Manter o carro também é mais barato
Selecionamos três itens básicos na manutenção de qualquer veículo para compará-los aos produtos americanos: óleo, pneus e jogo de velas. No Brasil, encontramos um litro de óleo Castrol Edge 5w30 sintético por R$ 51. O mesmo óleo pode ser adquirido por US$ 15,80 (em torno de R$ 51,30) nos Estados Unidos. Convertendo o que os americanos pagam para a nossa moeda, os preços se equiparam. Entretanto, o valor de compra do Castrol Edge por lá é bem menor, por conta das condições econômicas do país.
Partimos então para o jogo de velas da NGK IZRF6K, e a disparidade volta a aparecer. O conjunto foi encontrado por US$ 19,06 nos Estados Unidos através do e Bay (ou R$ 61,56 em uma conversão simples). Por aqui, o melhor preço que encontramos para o mesmo produto foi R$ 187.
Uma das coisas que mais pesam no nosso bolso quando falamos da manutenção e segurança de um veículo é o jogo de pneus. Escolhemos um conjunto Michelin Premier A/S 255/60 R16, que é vendido nos dois países e equipa modelos populares. O melhor preço encontrado nos Estados Unidos está na casa dos US$ 567,88 (ou R$ 1.832), pelo jogo completo de quatro pneus. Nas mesmas condições, a Michelin pede R$ 4.205 aqui no Brasil. Sem falar que pneus são menos duráveis no nosso País por conta da qualidade do asfalto.
Tiramos algumas conclusões ao final de nossa lista. Nem sempre o que vai pesar no seu bolso é o preço do carro, mas sim a taxa de juros elevada e os impostos. Lembramos que nos áureos tempos da indústria automotiva, em meados de 2012, tanto o IPI quanto os juros eram bem mais baixos. Com o aumento na carga tributária, que começou entre 2014 e 2015, os números do mercado brasileiro entraram em queda livre com os custos. Para comprar um carro zero com boas condições nos dias de hoje, só dando uma boa parcela de entrada ou oferecendo outro veículo na troca.
Fonte: http://carros.ig.com.br
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 11/01/2018