Passados 80 dias do início da contaminação das águas do litoral brasileiro, o óleo bruto que passou por todo o Nordeste e chegou ao Espírito Santo atingirá o Rio de Janeiro “em questão de dias”, afirmam técnicos do Ibama (Instituto Brasileiros do Meio Ambiente).
Enquanto isso, o governo minimiza o problema na situação na costa brasileira e reafirma a todo instante que atuou desde o princípio para conter o derramamento de petróleo. Para uma situação dada como controlada, o óleo se espalha com estranha agilidade; na última semana – da segunda-feira (11) a domingo (17), mais 149 localidades foram atingidas. O número de locais afetados passou de 494 para 643.
No fim de semana, o Delta do Parnaíba, no Piauí, o maior delta (foz de um rio formada por vários canais ou braços do leito do rio) das Américas, voltou a ter manchas de óleo em sete praias: Ilha das Canárias, Ilhas dos Poldros, Praia de Caiçaras, Praia do Pontal, Ilha do Caju, Barra da Melancieira e Ilha do Passeio. A preocupação das autoridades é que o óleo chegue também aos rios da região. Também no Piauí, as praias do Atalaia, Pedra do Sal e Peito de Moça foram decretadas impróprias para banho. Quase duas toneladas de óleo foram recolhidas no estado desde sexta-feira (15).
O último monitoramento do Ibama destaca que, de 142 locais vistoriados nas últimas 24 horas, ou seja, de sábado (16) para domingo (17), três ainda tinham manchas grandes de óleo, 69 apresentavam vestígios esparsos e 70 estavam limpos.
O levantamento, contudo, vai de encontro com as informações da Marinha. O boletim divulgado da noite de sábado afirma que “os estados do RN, CE, PB, PE e ES estão com as praias limpas” e apenas há ação em andamento em Araioses e Tutóia, no Maranhão; Luís Correia, Ilha Grande e Parnaíba, no Piauí; Barra de São Miguel, Feliz Deserto e Piaçabuçu, em Alagoas; Barra dos Coqueiros, em Sergipe; e Maraú e Cairu, na Bahia.
Fato é que imagens comprovam o avanço do petróleo no Espírito Santo, onde já chegou à capital, Vitória, e ruma ao sul. Técnicos do Ibama que conversaram com o HuffPost afirmaram que em breve o óleo chega à costa do Rio de Janeiro. E é justamente aí que mora a principal preocupação das autoridades.
Óleo no Sudeste
O governo do Rio de Janeiro já se mobilizou e montou um plano de ação para atuar contra o óleo que atinge o Nordeste desde 30 de agosto — o Plano de Emergência para o Surgimento de Óleo em Praias.
O estado se mobiliza em três frentes: vigilância, monitoramento e resposta.
A primeira etapa, acionada caso haja suspeita de as manchas chegarem à costa do estado, já está em andamento.
No passo seguinte, monitoramento, são feitas vistorias de rotina nas praias e elaborados relatórios, que podem incluir patrulhamento aéreo e marítimo. O governo já decidiu montar também um comitê de monitoramento, para gerenciar as informações recebidas dos municípios, operacionalizar as frentes de atuação e apurar denúncias.
Na fase das respostas, é a hora de atuar para a retirada do petróleo, após se constatar onde as manchas chegaram de fato. Nessa etapa, de acordo com o plano traçado, já terá sido feita uma avaliação de como se dará o recolhimento do material, se de forma manual, ou com equipamentos.
Cerca de 200 pessoas já foram capacitadas, entre elas, de 25 municípios da costa.
Também o governo de São Paulo está preocupado com o óleo. Isso porque, embora se diga que, após Cabo Frio, a correnteza faça uma curva natural para dentro do oceano e se afaste da costa brasileira, pouco se sabe sobre o que está ocorrendo. Por isso a dificuldade das autoridades em reagir antecipadamente, bem como em determinar as causas e os rumos do petróleo. Não à toa representantes dos governos de São Paulo e do Rio estiveram com representantes do Ibama na semana passada para discutir ações preventivas.
Respostas obscuras
Como mostrou o HuffPost no sábado, nem todos os pescados estão liberados para consumo, como havia afirmado na última semana o Ministério da Agricultura. Os testes, conduzidos pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), foram realizados até o momento somente com peixes industriais, não artesanais.
O que o governo também tem reiterado é que o óleo é de origem venezuelana e apontou suspeitas de que o navio-tanque grego Boubolina, que saiu da Venezuela para a África do Sul, passando pela costa brasileira, tenha sido responsável pelo derramamento do petróleo que está provocando o desastre sem precedentes vivenciada nos últimos meses.
O jornal O Globo informou neste domingo que o laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) encontrou uma nova imagem de satélite que mostra uma grande mancha de óleo no dia 19 de julho, a 26 km do litoral da Paraíba. O satélite Sentinel-1A capturou a imagem da mancha com cerca de 25km de extensão e 400 metros de largura.
De acordo com a reportagem, isso não apenas isenta o Boubolina, como abre a possibilidade de que outro navio seja o suspeito pelo derramamento. Os resultados serão apresentados em uma audiência pública no Senado na próxima quinta-feira (21), em uma audiência pública da comissão externa que acompanha as investigações.
O envolvimento do navio grego no caso, contudo, já havia sido colocado sob suspeita. Na semana passada, o Estadão mostrou que uma consultoria norteamericana, a Skytruth, especializada em análises do mar via satélite, afastou essas suspeitas, alegando não haver na rota do navio nenhum comportamento atípico. O navio é da empresa Delta Tankers, que tem negado as acusações e já disse ao governo brasileiro que está disposta a colaborar com as investigações. Ao questionar as imagens de satélite divulgadas pelas investigações do Brasil, a Skytruth disse que não há indícios de óleo, relata a reportagem.
Até o momento, o presidente Jair Bolsonaro não sobrevoou as regiões atingidas, como normalmente fazem os governantes em situações críticas. O mandatário esteve na segunda passada, dia 11, em Campina Grande para entregar unidades do Minha Casa, Minha Vida. Fez isso após saber que o ex-presidente Lula tinha confirmado presença no Festival Lula Livre, dia 17, em Recife. O Nordeste é a região onde Bolsonaro teve menos votos e tem a popularidade mais baixa.
Fonte: https://www.huffpostbrasil.com – By Debora Álvares
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 19/11/2019