Segundo os amigos da sua geração, era um jovem como outro qualquer da sua época, estudava, frequenta as rodas de amigos, não denotava nenhum problema aparente.
Um dia, resolvera não mais sair de casa. Abandonou amigos, escola, todo e qualquer convívio social. Ninguém mais o via, e assim ele se fez ser esquecido, ou algumas vezes lembrado por esse comportamento.
Ao longo do tempo, algumas pessoas o viam apenas na janela da casa, onde passava poucos minutos em silêncio e logo saía.
Os anos foram passando e sua presença instantânea na janela, fora diminuindo. Depois de muitos anos, já sabendo da sua história, o vi na janela. Já não era mais um jovem. Seus cabelos estavam grisalhos e, sua face já marcada pelo tempo, revelava uma expressão nem dura, nem triste, mas indiferente. Ignorava os transeuntes, não tinha nenhum tipo de interação com o mundo externo. Seu olhar parecia mirar o nada, ou um horizonte inalcançável. Naquele breve instante senti apenas um vazio imenso em seus olhos cinzas, descabidos de qualquer cor.
Da janela daquela casa antiga, era apenas um assistente da vida, indiferente ao mundo que, por algum motivo, que talvez somente ele soubesse, abandonara.
Outro dia, soube que ele havia morrido. Fiquei comovido com aquela sua segunda e definitiva morte.
Ou com a sua libertação do mundo, externo ou interno, que ele não dera conta.
Fonte e Autoria: Ivan Santtana
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 10/07/2020
2 Comentários
Existem pessoas que se deixam esquecer, muitas vezes por comodismo.
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Creio que muitas vezes vai além disso. Pense numa depressão, por exemplo. Síndrome do pânico e tantos outros males que acometem a alma, que nos aprisionam. Esse caso, em específico, não tenho como afirmar nada, porque não o conheci, não convivi. Enfim, a gente as vezes não dá conta de existir.
Ivan Santtana