O Poeta, escritor e teatrólogo maranhense Ferreira Gullar morreu na manhã deste domingo (4) no Rio, aos 86 anos. Gullar é um dos maiores autores brasileiros do século 20 e foi eleito “imortal” da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 2014, tornando-se o sétimo ocupante da cadeira nº 37.
De acordo com a ABL, Gullar foi vítima de uma pneumonia. Ele estava internado há 20 dias no hospital Copa D’Or, na Zona Sul do Rio.
O corpo do escritor será transportado às 17h deste domingo à Biblioteca Nacional, no Centro do Rio. Às 9h de segunda (5), ele sai para o velório no prédio da Academia Brasileira de Letras. Às 15h, o corpo será levado para o enterro no mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo.
Ferreira Gullar deixa dois filhos, Luciana e Paulo, oito netos, e a companheira Cláudia, com quem vivia atualmente. Seu último livro foi “Autobiografia poética e outros textos”, lançado este ano.
Nascido José de Ribamar Ferreira em São Luís (MA), em 10 de setembro de 1930, Ferreira Gullar cresceu em sua cidade natal e decidiu se tornar poeta na adolescência. Com 18 anos, passou a frequentar os bares da Praça João Lisboa e o Grêmio Lítero-Recreativo da cidade. Aos 19 anos, descobriu a poesia moderna depois de ler Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.
O perfil de Gullar no site da ABL informa que, inicialmente, o escritor “ficou escandalizado com esse tipo de poesia”, mas mais tarde aderiu ao estilo, tornando-se “um poeta experimental radical”. Certa vez, ao comentar o período, afirmou: “Eu queria que a própria linguagem fosse inventada a cada poema”.
Nessa época, trabalhou no volume de poesia “A luta corporal” (1954), que o lançou no cenário nacional. Essa obra que resultou de “uma implosão da linguagem poética” é associada ao surgimento da poesia concreta. Gullar, porém, romperia com o grupo mais tarde, passando a fazer parte do movimento neoconcreto, ao lado de artistas plásticos e poetas do Rio.
Foi Gullar quem escreveu o manifesto que marcou a aparição, em 1959, do movimento neoconcreto, do qual também foram expoentes artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica. No mesmo ano, saiu o ensaio “Teoria do não-objeto”, outro texto fundamental do movimento.
Dentre as obras neoconcretas de Gullar, destacaram-se o “livro-poema”, o “poema espacial” e “poema enterrado”.
Derradeiro trabalho neoconcreto do poeta, este último consistia de uma sala que ficava no subsolo do espaço de exposição. A ela, chegava-se por uma escada. Quem “entrava” no poema encontrava lá embaixo um cubo vermelho. Dentro dele, um cubo verde. E dentro deste, um outro cubo, branco, onde se lia em uma das faces a palavra “rejuvenesça”.
Depois do “poema enterrado”, Gullar se afastou do movimento e se envolveu com política, tema de seus trabalhos seguintes. Ingressou no partido comunista e passou a militar contra a ditadura militar. Chegou a ser preso e a viver na clandestinidade. Fugiu do país, passando por Moscou, Santiago, Lima e Buenos Aires.
Durante o exílio na capital argentina, escreveu sua obra-prima: “Poema sujo” (1976). Trata-se de um poema com quase 100 páginas que teve ótima recepção. Foi traduzido para diversas línguas.
Gullar só voltou ao Brasil em 1977, onde foi novamente preso e também torturado. Conseguiu ser solto depois de pressão internacional e trabalhou na imprensa do Rio e como roteirista de TV. Nos anos 1980, escreveu o seriado “Carga pesada” e assinou a novela “Araponga”, essa em parceria com Dias Gomes e Lauro César Muniz.
Em 1985, com a tradução da peça “Cyrano de Bergerac”, ganhou o prêmio Molière, um feito inédito na categoria tradução.
No país, lançou “Na vertigem do dia” (1980) e a coletânea “Toda poesia”. Também artista plástico e crítico, escreveu “Etapas da arte contemporânea” (1985) e “Argumentação contra a morte da arte” (1993).
Gullar também foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 2002.
Veja, abaixo, os livros publicados por Ferreira Gullar
Poesia
Um pouco acima do chão (1949) – A luta corporal (1954) – Poemas” (1958) – João Boa-Morte, cabra marcado para morrer [cordel] (1962) – Quem matou Aparecida? – [cordel] (1962) – A luta corporal e novos poemas (1966) – Por você, por mim (1968) – Dentro da noite veloz (1975) – Poema sujo (1976) – Na vertigem do dia (1980) – Crime na flora ou ordem e progresso (1986) – Barulhos (1987) – Formigueiro (1991) – Muitas vozes (1999).
Crônica
A estranha vida banal (1989) – Infantil e juvenil – Um gato chamado gatinho (2000) – O menino e o arco-íris (2001) – O rei que mora no mar (2001) – O touro encantado (2003) – Dr. Urubu e outras fábulas (2005).
Conto
Gamação (1996) – Cidades inventadas (1997).
Memória
Rabo de foguete (1998)
Biografia
Nise da Silveira (1996)
Ensaio
Teoria do não-objeto (1959) – Cultura posta em questão (1965) – Vanguarda e subdesenvolvimento (1969) – Augusto dos Anjos ou morte e vida nordestina (1976) – Uma Luz no Chão (1978) – Sobre Arte (1982) – Etapas da Arte Contemporânea: do Cubismo à Arte Neoconcreta (1985) – Indagações de Hoje (1989) – Argumentação Contra a Morte da Arte (1993) – Relâmpagos (2003) – Sobre Arte, sobre Poesia (2006).
Teatro
Se Correr o Bicho Pega, se Ficar o Bicho Come (1966), com Oduvaldo Vianna Filho – A saída? Onde fica a Saída? (1967), com Antônio Carlos Fontoura e Armando Costa – Dr. Getúlio, Sua Vida e Sua Glória (1968), com Dias Gomes – Um rubi no umbigo (1978) – O Homem como Invensão de si Mesmo (2012).
Fonte: http://g1.globo.com
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 04/12/2016