Otavio Frias Filho, diretor de redação da “Folha de S.Paulo”, morreu nesta terça-feira (21), aos 61 anos, em São Paulo. Otavio estava internado no Hospital Sírio Libanês, no Centro da capital, e lutava contra um tumor no pâncreas desde 2017.
O velório será no Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, e a cerimônia de cremação às 14h, no mesmo local.
Casado com Fernanda Diamant, editora da revista “Quatro Cinco Um”, deixa duas filhas, Miranda e Emília, e os irmãos Luiz, Maria Cristina e Maria Helena.
Primeiro filho de Dagmar Frias de Oliveira e de Octavio Frias de Oliveira, empresário que comprou em 1962 a “Folha de S.Paulo”, Frias Filho nasceu em São Paulo no dia 7 de junho de 1957. Ele estudou direito e ciências sociais. Assumiu a direção de redação aos 26 anos, criou o Projeto Folha, o Manual de Redação e a função de ombudsman, entre outros feitos.
A TRAJETÓRIA DE UM JORNALISTA TRANSFORMADOR:
Em um 24 de maio de 1984, a ‘Folha de S. Paulo’ estampava um passo importante na trajetória de Otavio Frias Filho e na sua própria: a primeira capa em que o jornais aparecia como diretor de redação.
O começo não foi fácil. O jovem, de 26 anos, enfrentou resistência interna e externa. Especialmente porque era filho do dono, Octávio Frias de Oliveira.
“A memória do meu pai é um emblema muito importante na minha vida, na minha formação”, disse Otavio à GloboNews.
O início na Folha tinha sido bem antes.
“Aos 21 anos, por conta da conexão familiar”, disse Frias Filho. “Comecei muito cedo trabalhando com meu pai, trabalhei também com o Claudio Abramo, passei por diversas fases do jornal.”
Naquele período, a folha já tinha começado seu processo de modernização havia dez anos, buscando ser um veículo de imprensa independente das forças políticas.
Já tinha se afastado havia uma década do apoio que, por dez anos, deu à ditadura militar.
Nos 50 anos do golpe de 1964, sob sua direção, a Folha abordou o tema em um editorial:
“Às vezes se cobra desta folha ter apoiado a ditadura durante a primeira metade de sua vigência, tornando-se um dos veículos mais críticos na metade seguinte. Não há dúvida de que, aos olhos de hoje, aquele apoio foi um erro.”
Mas foi sem dúvida nas mãos de Otavio que esse processo de modernização se radicalizou, se aprofundou e se consolidou.
A Folha de S. Paulo se tornou o que é hoje: um jornal radical na busca por independência e isenção.
Otavio Frias Filho, assim que assumiu o comando da redação, lançou o Projeto Folha, que transformou o jornal e foi referência para as outras mudanças.
E com esse espirito, criou um manual de redação.
O documento pregava um texto mais descritivo, rigoroso e impessoal — menos sujeito a impressões do autor e que influenciou toda uma geração de jornalistas, professores e estudantes da profissão.
“Nós estabelecemos alguns pressupostos em termos de projeto editorial. A gente costuma dizer que a gente está empenhado em praticar um jornalismo que seja crítico, apartidário e pluralista”, disse Frias Filho em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura.
Um momento que marcou o jornal logo no início da gestão de Otavio foi a decisão de encampar o movimento pelas Diretas-Já, em 1984, que pedia eleições diretas para presidente da república após o fim do mandato de João Figueiredo.
Em 1989, a Folha foi o primeiro jornal brasileiro a implantar a função de ombudsman – um jornalista cuja função é criticar com liberdade a forma e o conteúdo do jornal.
Paulistano, Otavio dizia que a folha ficou conhecida como o jornal dos imigrantes.
“Voltou-se para as pessoas que nasciam ou chegavam a São Paulo dispostas a abrir seu próprio caminho e encontrar seu lugar ao sol. A Folha tornou-se um espelho dessas pessoas. Incorporou sua inquietude, seu arrojo e suas ambições”, disse Otavio à TV Folha.
Nos 34 como diretor do jornal, passou por turbulências políticas e econômicas. E um período de profundas transformações no mundo e no Brasil, que ele dizia que foram acompanhadas também pela Folha e pelo jornalismo.
“O jornalismo se desenvolveu muito, passou a contemplar áreas que não eram objeto da atenção dos jornalistas, acho que as coberturas se tornaram mais críticas, mais incisivas, acho que houve também um avanço também dos jornais e o jornalismo de um modo geral apresentarem visões mais plurais a respeito da realidade, diferentes pontos de vista”, disse Otavio à GloboNews.
Sobre o surgimento das novas mídias, era um entusiasta.
“Elas colocam dificuldades, problemas, desafios também, mas eu acho que quanto mais plataformas e veículos e possibilidades de comunicação jornalística houver, isso vai beneficiar a sociedade e o próprio jornalismo. Haverá mais competição e a competição em si é algo de bom.”
Em 2000, participou da criação do jornal Valor Econômico, uma parceria do Grupo Folha com o Grupo Globo.
Em 2016, o Grupo Globo passou a ser o único proprietário do jornal.
Frias Filho era apaixonado por teatro, cinema, literatura e dizia ser muito exigente com a própria produção.
Autor de peças de teatro e livros.
Entre eles, um infantil e uma coletânea de 25 ensaios escritos ao longo da carreira.
“Eu sempre gostei de escrever, sempre gostei de ler, sempre foi assim um tipo de atmosfera na qual eu me sentia à vontade. Existe de esquizofrenia, você acaba levando duas vidas, uma vida que é a sua atividade profissional, sua responsabilidade, seu dia a dia e uma outra vida que no meu caso eu desenvolvi esse lado autoral.”
Mas foi no jornalismo onde, sobretudo, deixou sua marca.
“Divulgar a verdade, estimular um exercício consciente da cidadania, iluminar o debate dos problemas coletivos – que outra atividade seria mais elogiável e necessária do que essa?”
Fonte: https://g1.globo.com
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 21/08/2018