Golpistas estão aproveitando a fragilidade de parentes de pessoas internadas em hospitais com problemas sérios de saúde para extorquir dinheiro das famílias. Os criminosos fazem uma ligação para os familiares exigindo a transferência urgente de dinheiro para pagar por um exame.
“A minha mãe tem 82 anos e ela foi internada na Clínica São Bento por um problema que até então a gente não sabia, que depois veio a descobrir que é diverticulite, um problema no intestino que se não tratar pode agravar”, afirmou José Luís Mendes dos Santos, filho da paciente.
Foi em meio a essa circunstância que a família do José Luís recebeu um telefonema de uma pessoa que se apresentou como doutor Bruno e disse que a mãe dele precisava fazer um exame urgente e que seria um caso de vida ou morte.
“Segundo esse doutor Bruno, se ela não fizesse o procedimento naquele dia ela poderia não resistir. E era uma sexta-feira. E ele disse que o valor era três mil e novecentos reais e se a família tinha condições de custear que depois o plano ressarcia esse valor. Eu entrei em parafuso. Na hora, você, tipo assim, você não consegue raciocinar. E eles são muito rápidos, muito ágeis”, afirmou a vítima.
Nesse dia, o filho da paciente precisou correr até uma lotérica para chegar a tempo de depositar R$ 1 mil em uma conta da Caixa Econômica Federal, em nome de Juliana dos Santos Silva Soterio. Mas depois de se acalmar de susto, ele pensou melhor e, junto com a família, se deu conta de que tinha tudo para ser um golpe. Eles foram até a Casa de Saúde São Bento, na Ilha do Governador, onde a dona Clementina estava hospitalizada.
No hospital, a família recebeu a informação de que ninguém havia ligado fazendo pedido de depósito. “Eles acreditam ser hackers que entram no sistema e descobrem todo o histórico do paciente que está internado e que aí eles entram em contato com familiares e agiram da forma que agiram”, afirmou José. A Casa de Saúde São Bento ressarciu José do golpe e ele conseguiu reaver os R$ 1 mil.
Um telefonema bem parecido foi feito para a filha de um paciente internado no Hospital Samaritano, em Botafogo. “Me ligaram, informando que ele precisava fazer um exame com certa urgência e o plano não estava liberando. E que a gente precisava depositar R$ 3.800 para que esse exame fosse feito. E resolvi ligar pro médico dele, que na mesma hora me informou que é um golpe, que estava tudo bem com meu pai”, disse a filha do paciente.
Foi então que a mulher resolveu gravar o segundo contato feito pelo golpista, que insistia na pressa do pagamento.
– “Você conseguiu efetuar o pagamento?”, questionou o golpista.
– “Eu já falei com o meu irmão pra resolver. Ele vai fazer pela internet mesmo”, afirmou a vítima.
– “Efetuou o pagamento ou não? Porque eu preciso dar início ao procedimento, minha querida”, insistiu o homem.
– “Ele vai me retornar”, disse.
– “Há uma hora eu estou entrando em contato contigo e não obtive resposta até agora, minha querida”.
– “Só um momentinho. Ele já vai fazer pela internet”.
Depois da denúncia, o hospital Samaritano chegou a distribuir panfletos para os parentes de pacientes internados. A vítima foi até a delegacia registrar queixa. “Fui até a delegacia próxima ao hospital e disseram que é uma prática comum, infelizmente. E que tanto ‘pode’ ser pessoas infiltradas, né, como hackers, né”.
E descobriu que as duas contas bancarias indicadas para o pagamento, em nome de doutor Jose Luiz Saraiva, são da cidade de Jaciara, no Mato Grosso. “Foi um susto enorme, enorme. Os detalhes muito específicos da situação do meu pai é… te deixam um pouco cega, surda, né. Você quer tentar resolver aquilo. Mas, graças a deus, me deu um estalo de ligar pro médico mesmo”.
O Hospital Samaritano disse que informa pacientes e acompanhantes do risco desses golpes. E em comunicados distribuídos no hospital explica que todos os trâmites de pagamento são feitos pelo departamento financeiro – e não por médicos, como os golpistas costumam simular.
A Polícia Civil disse que os dois casos que a gente mostrou na reportagem estão sendo investigados, e que qualquer outra tentativa deve ser denunciada na unidade policial da região.
Fonte: http://g1.globo.com
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 02/11/2016