Fui conhecer o Angico de Pedro Lopes, em outubro de 2018, era quase um sonho conhecê-lo, pois lembro que quando criança (grande), e também quando já adolescente e meus primos Helena e Augusto Pinheiro, vinham de Ilhéus passar as férias na nossa casa da Avenida Monte Santo, na Parelha de vovó Lúcio, e por fim no Angico, eu ficava junto o tempo todo, mas no dia de irem para o Angico eu já não os acompanhava, eles eram netos de Pedro Lopes, eu não.
A casa antiga dos Lopes foi demolida, daquele tempo resta a Barriguda de beleza monumental, com galhos que se abrem para o céu azul celeste, nuvens brancas, riachos e lagoas de águas límpidas, que me levam o pensamento para distante… mas desperto para o momento real de muita satisfação por estar ali… mesmo com tanto atraso.
Quem me recebeu foi Sr. Osaná Lopes, o caçula dos filhos de Pedro Lopes, e sua esposa.
Sr. Osaná me surpreendeu com sua memória viva, contou sobre a lida da roça, do seu dia a dia e o que se lembra do que ouviu do pai sobre as visitas indesejadas de Lampião.
Foi Pedro Lopes quem contou a Osaná, e a quem mais chegasse para ouvir as histórias de Lampião. Contou que certa feita, avistou um homem montado observando os animais que estavam presos no curral, e um grupo de muitos outros homens montados se aproximando… Já se sabia que um tal de Lampião, em companhia de outros bandidos, jagunços, cangaceiros, montados viviam atormentando as pessoas lá pros lado de Pernambuco, coisa longe dali como um sonho, mas entendeu que era o tal só quando chegou perto e viu que todos estavam armados.
Então se tremendo, perguntou “quem é Lampião aqui?” e Lampião respondeu meio atravessado e olhando feio: “sou eu, o que você quer?” Pedro Lopes ainda tremendo respondeu que o seu chefe tinha lhe avisado, que caso Lampião passasse por ali, era para arrumar animais, um carneiro, e o que mais ele precisasse, – “só não tem dinheiro!…”.
Lampião quis saber quem era o chefe, e Pedro Lopes informou que era o Arlindo da Itiúba, (este foi o nome que lhe veio à mente, naquele momento), em seguida cedeu-lhe arreios para os animais, umas celas velhas e seguiu com eles na esperança de que os animais lhe seriam devolvidos conforme lhe dissera o próprio Lampião, que também disse estar com pressa para seguir caminho, estavam vindo dos lado do Ambrósio e queria ir a Cansanção.
Chegando em Cansanção, muita gente já tinha fugido e as portas do pequeno comércio fechadas, mas já chegaram chutando e derrubando as portas da loja de “fazenda” (tecidos) do Valério do Caetano; tiraram tudo para fora, foram cortando de peixeira, rasgando e distribuindo entre eles mesmos e à Pedro Lopes também ofereceu alguns metros daquela “fazenda”, -” leve pra vestir sua família” e ainda recomendou: – “mas tome cuidado com os “macacos”” (nome dado à “volante”, que vinha perseguindo Lampião).
Pedro Lopes voltou feliz pra seu Angico e sua família, levando os animais e tecidos para sua esposa presentear as crianças.
Passados uns dias, chega a volante no Angico… andava no encalço de Lampião fez interrogatório e ouviu de um dos ajudantes da roça que Lampião dera inclusive uma “fazenda” (tecido), de presente para Pedro Lopes… a coisa ficou feia, foi uma confusão danada, de forma que os policiais quase batem em Pedro Lopes. Acabaram achando o tecido que estava escondido em uma mala no meio do mato, botaram tudo em cima dos animais e tocaram pra frente.
Tudo estava tranquilo, quando passado certo tempo, Pedro Lopes ouviu que Lampião estava chegando outra vez, e que já estava nas imediações do Guloso. Ele então pegou a família, nesta época tio Mário, o filho mais velho já tinha 9 anos, e correu para um rancho que eles tinham perto do riacho, e lá ficaram escondidos… só Pedro Lopes veio para um ponto estratégico no meio da caatinga e viu quando Lampião chegou e também quando se foi.
Esta era uma atitude comum, todos tinham medo de Lampião e tinham também obrigação de esconder a si e sua família dele e dos que o acompanhavam roubando, castrando homens e jovens, aterrorizando, matando.
Lúcio José da Silva, da Parelha e Pedro Lopes de Souza, do Angico, eram muito próximos, uma enteada de Lúcio, Alice Pinheiro, casou com o filho mais velho de Pedro Lopes, Mário Lopes, os filhos deste casal são os meus primos.
Fonte e Fotos: Cansanção – Iolanda Damasceno Dreschers – Espaço Cultural – O Texto foi mantido fielmente como escrito.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 13/03/2019