Sem nenhuma dúvida, o assunto do momento, no Brasil, é a COP-30, que é um evento internacional de grande impacto e repercussão, e que muito honra ao País receber tantas autoridades mundiais – sejam Presidentes ou não – para debater temas fundamentais relacionados às preocupações climáticas.
É inquestionável, contudo, que em meio às questões fundamentais em discussão, permeiam interesses duvidosos que estrangulam os objetivos básicos que inspiram um evento dessa magnitude.
Por exemplo, o tema mais comentado mundialmente durante o encontro é a criação de um *Fundo Florestas Tropicais para Sempre* (TFFF), sugerido pelo governo brasileiro. Espera-se que o capital inicial seja resultado de doações feitas por algumas nações participantes.
Pelos anúncios já realizados na COP30, o cenário atual de investidores seria composto por: US$ 1 bilhão do Brasil, US$ 1 bilhão da Indonésia e € 500 milhões da França. O fundo soberano da Noruega, que seria o principal patrocinador com a confirmação de US$ 3 bilhões em 10 anos de trabalho, impôs a condição de que sua participação não ultrapasse 20% do total captado, o que significa que o montante só entraria quando o fundo superar US$ 12 bilhões. Assim, o total de recursos está abaixo do necessário para o início das operações.
O governo anunciou que o fundo pretende captar cerca de US$ 125 bilhões em investimentos, com aportes mistos entre governos (US$ 25 bilhões) e investidores privados (US$ 100 bilhões). Esse montante deve ser investido em mercados financeiros, buscando rendimento anual na faixa de US$ 3 bilhões a US$4 bilhões. Esses rendimentos serão repassados a países que comprovem a preservação de florestas tropicais, numa lógica chamada de “renda florestal global”.
Há a previsão de que 20% dos recursos sejam destinados a povos indígenas e comunidades tradicionais, mas ainda não há detalhes sobre como esses grupos serão selecionados ou qual será o papel de ONGs, associações ou governos locais na aplicação do dinheiro. Essa indefinição pode abrir espaço para interferências políticas e interesses privados – e é aí que reside o grande risco -, comprometendo o objetivo central de conservação.
Outro ponto que não pode ser ignorado diz respeito ao histórico recente do Brasil, cuja imagem foi profundamente maculada pela chaga da corrupção. Confesso aos meus leitores a grande preocupação com o manuseio e a gestão de um volume tão expressivo de recursos. Estamos falando de “bilhões” de dólares! E conforme diz um dito popular, é aí onde mora o perigo, ou o maior perigo!
Dizem que a Amazônia fala. Há quem jure que, se o ouvido for treinado, é possível perceber na brisa o rumor das árvores mais antigas, como velhas contadoras de histórias que se recusam a deixar o mundo esquecer o que custou para existir. Mas, nesta semana, foi outra voz que ecoou sobre Belém e ganhou repercussão mundial. O grito dos povos que carregam a floresta na pele, na língua e no coração: a população indígena. Muitas lideranças reclamam de não ter voz efetiva nas decisões da COP30, segundo o Cimi (Conselho Indigenista Missionário).
Impressionou, a quantos ouviram as entrevistas e declarações dos líderes indígenas que comandavam as manifestações às portas da COP30, o grau de fluidez nas palavras e a força de suas reivindicações coerentes, eloquentes e firmes. Muitos já têm formação universitária e há até uma Deputada Federal indígena: Célia Xakriabá (PSOL-MG), a primeira mulher indígena eleita por Minas Gerais, que se apresenta com orgulho como tal.
Ao que tudo indica, a expressão “selvagens” ficou definitivamente no passado! Isso é muito bom de ver, porque estamos observando que o mundo não é mais o mesmo, principalmente, alguns grupos de habitantes!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade

2 Comentários
QUANDO UM EVENTO COMO ESSE TEM A DEVIDA SERIEDADE ENTÃO PODEMOS CONSIDERAR ÚTIL. QUANDO É APENAS PARA SE MOSTRAR E ENCENAR, E TORRAR O DINHEIRO PÚBLICO AÍ NÃO PODEMOS ACREDITAR TOTALMENTE!
Caro Agenor, bom dia!
Que me desculpem os especialistas que estiveram lá durante todos esses dias.
Que me desculpem também aqueles que participaram movidos pelas melhores intenções.
E que me perdoem, sobretudo, os ingênuos que compareceram acreditando que a solução para os problemas do mundo estaria, de fato, na COP30.
Na minha modesta posição de espectador desconfiado, o que ouvi foi muito blá-blá-blá e pouquíssimas propostas realmente viáveis, daquelas que se possa colocar em prática de imediato. Sinceramente, a impressão final é de que a distância entre o discurso e a ação continua enorme — e isso só reforça a sensação de que estamos diante de mais um grande palco de promessas que, quando muito, se dissolvem com o tempo.