Nos noticiários, nossos olhos contemplam a todo instante, as tristes imagens das chamas que ardem e projetam no espaço a fumaça escura da queima desenfreada – criminosa ou acidental – que destrói a vida, arruína a flora e a fauna. O fogo sobe como um grito sufocado, emitindo o som do estalo dos galhos que se quebram como lágrimas invisíveis. Cada estalo é uma lágrima que ninguém vê.
A floresta, que nos dá ar, sombra e alimento, é tratada como se fosse infinita. Mas cada queimada criminosa é um pedaço da nossa própria vida que arde em cinzas. Alguns, infelizmente não têm essa percepção, e é aí onde reside o problema, ou seja, destroem o ar que se respira. Assim tem sido!
A realidade inquestionável é que a natureza nos ofereceu as matas e florestas para extrairmos delas as potencialidades que sustentam a vida: o ar que respiramos e o alimento indispensável à sobrevivência da humanidade. Mas seu uso deve obedecer a limites racionais – nunca à prática de queimadas desregradas e criminosas.
E talvez, quando não restarem árvores para se apoiar nem sombra para descansar, o homem perceberá que o clamor sempre esteve ali, presente o tempo todo, e simplesmente não quis escutar. Então, vai chegar a hora da prestação de contas, e o resultado será certamente o pior possível para a humanidade.
As densas florestas verdejantes, berço de milhares de vida, transformam-se em mar de cinzas. O perfume da vida dá lugar ao cheiro acre da destruição. Há um silêncio que grita, mas ninguém ouve. É doloroso ver os campos devastados e secos, como se o solo clamasse a sua fragilidade e rogasse pela volta da vida. Ainda assim, mesmo na devastação, a floresta insiste em ensinar uma importante lição: ouvir o silêncio é compreender que a vida é delicada demais para ser ignorada.
O fogo não seleciona as suas vítimas, mas nossas escolhas têm a marca da destruição. Cada árvore caída, cada animal que foge, é a conta de um país que insiste em fechar os olhos. O chão queimado treme sob os passos apressados dos animais em fuga desesperada. As árvores, gigantes adormecidas, erguem-se em gritos de dor, transformando a floresta em um cemitério de verde e fumaça.
Diante desse cenário, apresentamo-nos como espectadores de nossa própria destruição, assistindo como se fosse algo distante. Cada labareda que sobe aos céus é uma advertência.
Ignorar as queimadas é negar a nossa própria responsabilidade. Não se trata apenas de um problema ambiental distante, restrito à floresta. Trata-se de um drama que respinga no clima, na agricultura, na água que bebemos e até na comida que chega à mesa. O fogo que destrói árvores hoje pode significar escassez de alimentos e secas amanhã. Para muitos, há o reconhecimento sincero desses valores e por eles lutam; para outros, uma oportunidade de temas políticos em exploração.
É preciso compreender que a preservação não é bandeira de um grupo ou discurso de ocasião. É condição de sobrevivência. Cada gesto – desde políticas públicas firmes até atitudes individuais de consumo consciente – pode ser o início de uma mudança capaz de deter a marcha das cinzas.
A floresta não fala com palavras, mas com sinais: no silêncio, no calor sufocante, na fumaça que invade os céus. Se não aprendermos a escutá-la agora, talvez em breve o único som que reste seja o da nossa própria falta de futuro. O preço da indiferença não será pago apenas pela floresta, mas por todos nós. Porque queimar a mata é queimar o futuro.
Onde vamos parar com tamanha falta de sensibilidade, não tenho a mínima ideia. Tenho, apenas, uma certeza de que vai custar muito caro, e quem viver verá, e sofrerá pesadas consequências, porque não ficará barato!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
5 Comentários
Caro Agenor, bom dia!
O editorial ‘O Silêncio da Floresta Ardente’, de sua autoria, é um alerta contundente sobre as queimadas desenfreadas que devastam o Brasil.
Com sensibilidade e precisão, você mostra que cada árvore queimada e cada animal em fuga representam sinais de uma tragédia silenciosa — ignorada tanto pelas autoridades quanto pela sociedade.
Lembra também que preservar a floresta não é apenas um dever moral, mas uma questão de sobrevivência, pois o fogo que consome a natureza ameaça diretamente o nosso próprio futuro.
Um texto que desperta consciência, responsabilidade e a urgência de agir.
Muito boa crônica que relata com realidade o que ocorre com nossas florestas. (Salvador-BA).
Realmente, só quem viver verá e sofrerá as consequências desse crime brutal. (Rio de Janeiro-RJ).
SEMPRE COM TEMAS ATUALIZADOS O AUTOR TEM DEIXADO AQUI LIÇÕES DE CIDADANIA ATRAVÉS DOS SEUS ARTIGOS. DESTA FEITA, VOLTOU-SE PARA A NATUREZA E POR TABELA A HUMANIDADE CHAMANDO A TODOS PARA UMA REALIDADE QUE BATE A PORTA. EU DIGO MAIS: SE NÃO HOUVER UM OLHAR DIFERENTE NÃO DEMORA PARA PROCURARMOS O AR QUE RESPIRAMOS E SÓ ENCONTRAREMOS FUMAÇA. E AI NINGUÉM PODERÁ DIZER QUE ALGUÉM NÃO AVISOU…
Parabéns, caro Agenor, por mais uma realidade em pauta. “O homem é o lobo do homem” – Thomas Hobbes. O homem é o seu maior inimigo, que age de forma egoísta, cruel e predatória contra si mesmo, deixando de lado a realidade de sua própria falência. O egoísmo humano o libera apenas para a ambição do poder. (Miguel Calmon-BA).