Acompanhar o noticiário diário causa desalento e incredulidade, pelo quanto se acha infestado de narrativas criminosas envolvendo autoridades e políticos, que maculam o exemplo que deveriam representar para a sociedade. A televisão exibiu imagens de um Conselheiro do Tribunal de Contas do RJ, um Deputado Federal (ambos irmãos), e um ex-Delegado da Polícia Civil do RJ, conduzidos presos, após a Polícia Federal constatar nas investigações o envolvimento deles com o crime da Vereadora Marielle Franco.
Esse é um dos crimes ainda por encontrar as motivações básicas, mesmo porque os presos acima citados ainda estão por prestar os seus depoimentos. Mas, no Brasil, impressiona é o elevado número de gestores e políticos processados e presos por corrupção, fundamentalmente por desvio dos recursos públicos. Ou seja, é um crime atrás do outro. Uma verdadeira roda viva das maiores podridões, que vai rodando o País adentro, num longo processo de contaminação por onde passa.
Esse tipo de crime adquiriu uma dimensão ampla e recorrente na gestão pública, por se constituir num forte obstáculo à correta aplicação das verbas repassadas pelo governo. “Pode ser um sindicato, alguma entidade estudantil, um partido político ou mesmo uma associação de bairro. Quando você se der conta que nem mesmo os partidos políticos brasileiros, tão fiscalizados por tribunais de contas, conseguem explicar onde gastam suas verbas, você verá um exemplo claro de que a falta de zelo com o dinheiro público não se dá apenas com aquele político notoriamente corrupto, mas está enraizada a fundo no nosso país”. (Fonte: https://www.jusbrasil.com.br/).
Nos últimos 20 anos vários ex-presidentes da Câmara de Deputados tiveram envolvimento com a justiça, geralmente por algum tipo de corrupção antes ou durante o mandato, sendo que 3 foram presos e já estão livres (João Paulo Cunha, Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha). Deprime conviver com um cenário dessa natureza! A pergunta que não quer calar é: Para que prender se em seguida já vai soltar? E esse talvez seja o ponto principal dessa bacanal que fazem com os recursos da nação que, na verdade, é o nosso dinheiro, um verdadeiro estupro de todo jeito… Ou não é bem assim?
Ouço, com muita frequência, o desabafo de pessoas revoltadas por não entenderem – com o que concordo -, como os Tribunais Superiores (STF, STJ, TST e TSE), desconhecem a competência e o saber jurídico de Juízes de 1ª. Instância (Juiz de Direito de cada comarca, Juiz Federal, Eleitoral e do Trabalho), e 2ª. Instância (Tribunais de Justiça e de Alçada, e Tribunais Regionais Federais, Eleitorais e do Trabalho). Assim como eles, esses Juízes também se dedicaram ao estudo das Leis, mas, quando a 3ª. Instância julga os Recursos, assume decisões nem sempre muito compreensíveis como, por exemplo, anular sentenças proferidas em processos, sob a alegação da incompetência das duas Instâncias que os julgaram! Fulano ou sicrano não deveria ser julgado em Curitiba e sim em Brasília! Chega em Brasília os processos já não são ativados, porque prescreveram o prazo! Em outras palavras, quando eles querem, tudo acontece na velocidade da luz…
Ora, após sete anos de duração da Operação Lava Jato, encerrada em 2021, que teve mais acertos do que erros, ocasião em que se ouviu de viva voz a confissão de muitos corruptos, e ocorreu a recuperação em torno de 25 bilhões de reais, não se pode conceber que se algo estava errado na conduta do Judiciário do Paraná, que a Operação não tivesse sido logo interrompida pelos Tribunais Superiores! É difícil conceber a razoabilidade em anular tantas sentenças por corrupção, soltar os presos e permitir-lhes o livre acesso aos cargos públicos!
Sinto uma dose de constrangimento em voltar ao tema que enfatiza a corrupção. Todavia, há um sentimento que domina as pessoas de bem deste país, em não jogar na vala do esquecimento desvios tão marcantes da integridade do cidadão, como a honestidade, a dignidade e a ética. São qualidades fundamentais e imprescindíveis ao perfil daqueles que se respeitam, o que justifica os reiterados retornos ao tema.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
7 Comentários
Caro Agenor, bom dia!
Luis Fernando Verissimo escreveu: “Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas”.
Quando eu penso que já vi de tudo, vem o relato e a constatação desta barbárie envolvendo a política do Rio de Janeiro, o que me deixou de boca aberta.
Não é um alento, pois tenho a plena convicção de que esta prática é rotineiramente praticada em todos demais estados da federação brasileira.
Ou estou errado?
Só tenho a lamentar.
Bom dia. Concordo em gênero, número e grau. (Salvador-BA).
Muito boa crônica amigo!
Digo mais, se fossemos malhar os “Judas” da corrupção brasileira hoje, não teria poste suficiente para pendurá-los. (Rio de Janeiro-RJ).
Pois é, fica parecendo e na verdade é, que nós trabalhadores nos acabamos para dar boa vida a essas figuras e acham pouco, e ainda vivem sugando o quanto podem da Nação, ou seja, uma roda viva onde nós o povo estamos no meio, e eles só metendo a mão grande em nossos bolsos. Ou não é bem isso?
Gostei dos argumentos que vc descreveu com clareza. Esses, também, são os meus argumentos. Parabéns por expressar os sentimentos de uma boa parcela da sociedade.
Parabéns, por mais esta crônica assentada nos alicerces da verdade!
A televisão exibiu a notícia, porém “esqueceu” de se desculpar, quando o correto seria se retratar, face às insinuações, até acusações, assacadas contra a família Bolsonaro. Imprensa financiada pelo Governo. Diga-se!
Isto ocorre diante da certeza de impunidade, esta patrocinada pelo nosso Excelso Judiciário.
Acredito que esta situação vai melhorar – para os mesmos – pois os Estados estão nomeando as esposas dos ex-Governadores e Ministros aliados do Governo Federal, para o cargo vitalício de Conselheiras dos Tribunais de Contas Estaduais. Uma vergonha, que as Autoridades não querem ver.
Aqui, cabe dizer que: a) no Brasil, o crime compensa, porquanto, em vez de haver punição, há premiação; b) punição só existe para criminosos pobres, que não têm como comprar sua soltura, mesmo não sendo absolvido; c) quem tem “padrinho não morre pagão” e o apadrinhamento do STF é público e notório; punição só existe para criminosos pobres, que não têm como comprar sua soltura, mesmo não sendo absolvido; c) quem tem “padrinho não morre pagão” e o apadrinhamento do STF é público e notório;
Esta é a maior alicantina, utilizada por julgadores, já vista neste País: os bandidos são réus-confessos, devolveram o fruto da corrupção. Não justifica descondenar um bandido porque essa ou aquela Instancia não é competente, quando, mesmo incompetente, o STF investiga, julga e pune, mesmo que a vítima de tais desmandos sejam inocentes. Ministros do STF, mesmo reconhecendo o elevado nível a que chegou a corrupção no Brasil, tanto que confirmaram as punições, depois de tantos anos, descobriram erro nos julgamentos, sob alegação de incompetência dessa ou daquela Instância. Se o criminoso fosse um “pobre coitado”, esta incompetência jamais seria arguida. Veja-se os caso do 08/janeiro, onde pessoas que estavam de passagem, ou estravam orando, ou, ainda, vendendo água, sanduiche, refrigerante… foram pressas e estão lá, até hoje, malgrado o esforço dos advogados, que por diversas vezes não tiveram, nem têm, voz nem vez.
Em meu parco entendimento, não considero que “É difícil conceber a razoabilidade em anular tantas sentenças por corrupção, soltar os presos e permitir-lhes o livre acesso aos cargos públicos!”, considerando os interesses escusos embutidos em tais decisões: alcandorar o poder do STF; o Poder Judiciário partilhar dos atos do Poder Executivo, calar o Congresso Nacional e desconsiderar a existência da PGR.
Um dos tantos casos gritantes eclode a absurda decisão monocrática do Ministro Dias Tóffoli anulou as multas impostas à Empresa J&S, cujos crimes foram confessados. Por quê?… A esposa do Ministro é Advogada da Empresa e dos respectivos sócios.
Acredito que é impossível erradicar a corrupção do Brasil, enquanto existir o consórcio STF + Esquerda, principalmente sob o comando do PT. (Maceió-AL).
Caro Agenor,
Conquanto seja até “chover no molhado”, elogiar o brilhantismo de seus textos, é importante fazermos pois o sábio dito popular consagra que “a maior gratificação ao artista são as palmas do auditório”.
Isto posto, é ainda mais oportuno o incentivo a que você continue “batendo” em tecla tão importante, até para que nós, isentos da paixão política e comprometidos só com a seriedade que deveria permear a atividade, continuemos esperançosos de que um dia a nossa – nossa mesmo??? – Pindorama venha a ser um País respeitável, no que toca ao desenvolvimento de atividades do setor público, que seja ali eliminada definitivamente a prática hoje tão comum e consistente da corrupção.
É necessário que tenhamos esperança, mas não só isso, que participemos, cada um dentro de suas possibilidades, do debate e construção de um novo caminho, que superemos este momento tão infeliz que vivenciamos, com o País dividido apaixonadamente em defesa de duas verdadeiras Organizações criminosas, que é como classifico o quadro de hoje.
Então, amigo, esse artigo seu é um bálsamo, uma esperança de que nem tudo esteja perdido – já que a chamada grande imprensa mostra-se também dividida tendenciosamente – , que há quem continue explorando o tema com análise tão procedente e oportuna, Seu artigo deveria constar das primeiras páginas de nossos mais divulgados órgãos de informação, é minha convicção.
Parabéns, amigo, não canse nem perca a esperança, sua batalha é estimulante. (Salvador-BA).