Imagens da destruição provocada pelas chuvas de 2011, na Região Serrana
Como sempre acontece, por óbvias questões geográficas e climáticas, não existe a regularidade de índices pluviométricos entre as diversas regiões. Em razão desse fator, surpreende ao povo do sertão quando as chuvas ultrapassam os limites tradicionalmente conhecidos. Inversamente, nas demais regiões fora do semiárido nordestino e habituadas com chuvas constantes, uma estiagem um pouco além do normal já adquire um status de seca e calamidade. É uma questão um pouco difícil de ser entendida, mas cada qual com suas eficiências e deficiências, o que é natural.
Já há algum tempo que não se via a precipitação de tanta água de chuva, como vem ocorrendo nos últimos meses, e agora, então, com grande intensidade. Aqui na Bahia, na cidade de Ilhéus, ocorreram alagamentos e inundações em diversas ruas, estabelecimentos comerciais, unidades de saúde, escolas e vias públicas, deixando algumas famílias desalojadas. Foi elevado o volume de água em vários Estados do País, com índices acima do habitual.
Com o sentido de tragédia e mortes, a memória me conduziu a recordar o 11 de janeiro de 2011, na Região Serrana, do Rio de Janeiro, quando o deslizamento de terras trouxe a destruição de centenas de casas e desalojou milhares de vidas. E daí, decorridos 13 anos dessa tragédia climática, ressurge a pergunta intrigante: será que o tempo foi suficiente para a realização das obras de proteção, que possam evitar a volta da destruição e morte àquela população? O que se sabe é que na hora que estão diante das câmeras de TV eles prometem mundos e fundos. E, diga-se de passagem, os fundos existem, mas será que cumprem o prometido? Quem souber, fique à vontade para deixar aqui seu testemunho.
Na época, os municípios mais afetados foram Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis. Em apenas três horas, o volume de água ultrapassou a expectativa mensal para a região, provocando deslizamentos e enchentes. Tudo isso resultou na morte de 911 pessoas e em torno de 100 desaparecidos, além de deixar 400 mil desabrigados na região serrana do Rio de Janeiro naquele fatídico ano de 2011. Na ocasião a Defesa Civil registrou 207.1 milímetros em 12 horas, volume normalmente esperado para o período de 15 dias.
O Governo Federal disponibilizou verba da ordem de 1 bilhão de reais para o socorro necessário e consta que foram desviados quase que na sua totalidade! Algumas obras foram executadas como maquiagem para a liberação dos recursos, mas nada concluído, segundo divulgado. A isso podemos chamar de covardia e vergonha, para não manchar esse texto com palavras mais contundentes.
Em certo momento do Governo de Dilma Rousseff, a sua Ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, comentando sobre as obras de recuperação dos municípios atingidos, declarou em entrevista, que um dos graves problemas em tudo isso era a “má gestão dos recursos federais disponibilizados nessas ocasiões para o socorro às vítimas”. Pura verdade!
Em outro momento já questionei aqui que, dado o hábito recorrente do desvio de verbas públicas por todo esse Brasil, em todos os níveis da Administração Pública, existir uma Lei Federal que permite aos Governantes a contratação de serviços sem Licitação, bastando apenas um Decreto reconhecendo o Estado de Calamidade Pública, é como ter “raposas tomando conta do galinheiro”! Isso é a coisa mais lógica, e aqui a nossa indignação com essa massa de raposas de paletó e gravata, que sabemos existir no Poder Público nacional.
Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
6 Comentários
Parabéns!
Vergonhoso e lastimável as falcatruas do tal George.
E continuamos acreditando, que é possível melhorar o nosso Brasil. (Rio de Janeiro-RJ).
Muito bom ponto, amigo!
Num país com uma alarmante desigualdade social, péssima distribuição de renda, alto nível de corrupção da classe política e autoridades governamentais etc., se não houver um mínimo de esforço para planejar e adotar ações efetivas por parte das autoridades, Federal, Estadual e Municipal, ficará cada vez mais difícil e complicado combater esse problema.
As famílias pobres, sem muita alternativa de onde morar, constroem suas casas em áreas como encostas de morros, beira de córregos e mananciais, exatamente onde as chuvas intensas, com grande potencial de destruição, provocam deslizamentos, inundações e outros desastres climáticos, atingindo assim milhares de pessoas.
Na verdade, as chuvas não são as culpadas por essas tragédias, mas, sim, uma série de problemas estruturais do país, como déficit habitacional, falta de planejamento urbano, Defesa Civil deficitária e descaso do poder público.
Para melhorar essa situação e diminuir os riscos para a população que vive nos locais mais atingidos pelas chuvas, o Estado precisa adotar medidas emergenciais e políticas públicas de longo prazo para assim evitar novas tragédias. Por exemplo, Sistemas de alertas e Políticas habitacionais. Um bom exemplo é o que o governo de São Paulo vem fazendo, para evitar mortes. Eles estão mapeando as áreas vulneráveis e monitorando os índices pluviométricos de chuvas para informar a população sobre os potenciais riscos. Todos os Estados, especialmente os mais atingidos pelas chuvas, devem criar um sistema de informação eficaz para manter a comunicação com as famílias que vivem nessas áreas. Poderia ser por celular. Outra medida que pode ser adotada também, seria incluir a população afetada na tomada de decisões e em pequenas obras, como contenção de encostas, construção de muros, melhorias nas casas e limpeza de córregos. As comunidades já convivem com esses riscos há muito tempo, conhecem melhor do que ninguém as áreas e formas de mitigação.
Outras formas de políticas podem também ser utilizadas, por exemplo, auxílio-aluguel, urbanização de favelas e reformas de edifícios antigos etc. Culpar os fenômenos naturais pelas tragédias não é uma alternativa, ainda mais em um momento de piora das mudanças climáticas no planeta. A tendência é que esses desastres aumentem. E não é culpa da chuva, senão porque houve um processo histórico que levou e continua levando as pessoas para áreas mais vulneráveis.
Meu amigo Agenor, suas anotações semanais é de grande importância para os brasileiros ignorantes da vida. A mudança será feita pelo Pai Criador do Universo DEUS e por não dizer já está começando e é paulatinamente feita. Nada acontece sem a permissão DELE.
Bom dia, Caro Agenor!
A indignação não é apenas sua. É minha e de uma boa parcela da população.
Enquanto existir essa massa de raposas políticas vestidas de paletó e gravata, vamos continuar engolindo a contratação de serviços sem licitação.
Sabemos muito bem que os mundos prometidos são merecidos, como sabemos que os fundos existem.
Assim, para não manchar o texto com palavras de baixo calão, vamos manter o nível e dizer apenas que é covardia e/ou falta de vergonha mesmo.
MUITO OPORTUNO o Editorial do grande cronista Agenor. Tudo verdade e verdadeiro olhando o comportamento desses que deveriam ser guardiões do dinheiro da população. Um dia esperemos que essas ervas daninhas sejam debeladas do nosso meio através de uma escolha correta dos eleitores.
Caro Agenor. O problema aqui é a impunidade e a leniência, já no tempo do Adhemar de Barros em São Paulo havia o mote: Rouba, mas faz. Transferiram este lema para o MALUF. Em São Paulo você conversava com um chofer de taxi e eles defendiam o Maluf, mesmo sabendo que ele era corrupto (eles argumentavam: ele rouba, mas construiu a rodovia imigrantes, fez o viaduto Ayrton Sena, rasgou avenidas. Os outros também roubam e nada fazem.), então ficou assentado que realizando alguma coisa pode-se roubar. Eu trabalhava na Assistência Social da FEB e conversava com uma senhora assistida e um senhor muito inteligente, também assistido. Ela votava cegamente no Roriz(um ex-governador de Brasilia, também suspeito de corrupção) e o senhor lhe dizia, Dona Fulana o Roriz rouba, e ela respondia mas ajuda a nós necessitados. Ele retrucava, para dar R$10,00 para a senhora ele rouba R$100,00, e ela arrematava, que me importa quanto ele rouba se o meu R#10,00 for garantido. Em Minas, ainda no tempo do Castelo Branco, o Sebastião Paes de Almeida foi candidato a governador e distribuiu um pé de sapato para cada eleitor, o outro pé só depois de eleito. Foi cassado pelo TFR(NA época Tribunal Federal de Recursos). Os corruptos sabem como “comprar” o eleitor. É mesmo indigno o uso das tragédias, mas acontece, infelizmente, a emergência abre o caminho para a corrupção (dispensa de licitação, etc.), um ingrediente pouco usado nestas ocasiões é a ética, a transparência e a lisura. Eu soube que no Japão, nos primeiros anos de escola, as crianças aprendem ÉTICA (são três anos seguidos que a matéria figura no currículo). Se prestarmos atenção, até na música se exaltava a corrupção, Jamelão (não estou certo se era ele ou outro do mesmo naipe) cantava um famoso samba: Parei meu carro na Praça Paris: Eu e a Conceição(…) – e, mais adiante- vieram o Cosme e o Damião (denominação Popular que se dava aos policiais que trabalhavam em dupla)… ele havia parado na contramão, mas: “conversei o Cosme, dei um cigarro para o Damião” (olha aí a corrupção) . O Roriz que eu mencionei acima, pretendia fazer o Trem Bala entre Brasília e Goiânia (200 km de distância) e pela fama dele o povo jocosamente se referia ao projeto como o Trem BOLA. A educação começa em casa e na escola (acabaram com a MORAL E CÍVICA), O PROFESSOR É DESRESPEITADO. Quando ocorreu um desastre no Japão, provocado por um terremoto, ruas, estradas foram destruídas, em poucos meses tudo foi recomposto. Eu me lembro que anos depois ainda havia trechos inacabados das obras de recuperação em Nova Friburgo, Petrópolis,
Teresópolis. Infelizmente isto é BRASIL. Parabéns pela oportunidade da crônica. (Brasília-DF).