O nosso sistema eleitoral vem evoluindo na busca do aperfeiçoamento, desde os primórdios de 1532, quando Martin Afonso de Souza (1500-1571), militar português, comandante da primeira expedição colonizadora – enviada pelo rei de Portugal D. João III, no ano de 1530 -, assumiu como conselheiro da Coroa e primeiro donatário da Capitania de São Vicente, e aí realizou a 1ª. eleição para Vereadores do Brasil. As condições iniciais fixadas eram que os votantes deveriam ser “HOMENS BONS”, o que evoluiu depois para exigir que também os votados o fossem, regra essa corrompida durante toda trajetória histórica, salvo algumas raras exceções!
O sistema progrediu com algumas restrições, como o impedimento feminino de votar, algo para lá de retrógrado, cujo direito só foi conquistado com o reconhecimento pelo Código Eleitoral de 1934 do pleno exercício do voto feminino, somente consolidado na eleição de 1946.
Progressivamente, da antiga chapa ou cédula contendo o nome e o partido do candidato, evoluiu para a cédula de votação contendo os nomes de todos os candidatos aos vários cargos em votação naquele pleito, em que permitia que o eleitor marcasse com um “x” o nome da sua preferência. Só que o modelo favorecia, também, que o eleitor abusasse da liberdade de escrever recados os mais estranhos aos candidatos votados, com mensagens de afagos, palavrões ou frases em que expressava o seu próprio desencanto com as eleições. Uns utilizavam as cédulas para votar, outros como instrumentos de protesto e expressão de sua revolta. Só não pensavam que estariam anulando o voto. Hoje, certamente, escreveriam horrores sobre os dois principais candidatos à Presidência…
A chegada dos novos tempos, com a introdução da Urna Eletrônica, veio estabelecer uma profunda e revolucionária transformação na forma tradicionalmente existente, situação em que o Brasil passou a ser o primeiro e único a dar velocidade à forma de votar e apurar os resultados com extraordinária rapidez. O cidadão foi conduzido a teclar números e com um leve toque de “CONFIRMADO” encerrar a manifestação da sua vontade eleitoral.
É evidente que o progresso atingido pelo nosso sistema eleitoral deixa o brasileiro muito feliz e orgulhoso, visto que o avanço tem sido objeto de estudos, pesquisas e visitas de técnicos de outros países, curiosos em conhecer essa grande novidade. Contudo, vez por outra surgem insinuações maldosas, geralmente de perdedores dos respectivos pleitos envolvidos, alegando supostas fraudes eleitorais introduzidas nessas máquinas coletoras de votos. Inversamente, contudo, um fato chocante e incompreensível, é assistirmos os vencedores alegarem que houve fraude na última eleição! Ora, se essa alegação é verdadeira, conclui-se que, ou estamos diante de um governo ilegítimo e falso, ou diante da profecia de um apocalipse político no Brasil para 2022, indesejável! Acredito não passar de uma estratégia política estúpida e intimidatória, que não cabe mais na vida moderna, tampouco numa era onde a tecnologia e suas inovações comandam o mundo. E mais: uma democracia não cede aos insanos…
A informação que se tem é que as urnas eletrônicas não têm conexão com a internet e assim não ocorre interferência externa. Portanto, voltar ao modelo do passado é um grande retrocesso, em todos os sentidos.
Justamente numa sociedade em que honradez, integridade, dignidade e honestidade não são virtudes encontradas com muita frequência, prefiro lembrar que “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Esse Artigo é Apocalíptico? Não. Apenas uma visão crítica sobre os fatos que vem à tona todos os dias.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 29/05/2022
7 Comentários
Caro escritor, bom dia! Apocalipse político ou não, você traz à tona as inquietações que vivenciamos diariamente. O artigo me fez recordar quando o eleitor tinha a opção de “escrever os mais estranhos recados aos candidatos votados, com mensagens de afagos, palavrões ou frases em que expressava o seu próprio desencanto com as eleições”. Talvez, pensando nisso, os criadores da urna eletrônica não disponibilizaram a opção de escrever e sim, apenas de teclar números. Parabéns!
Muito bom.
Muito boa crônica. Parabéns. (Salvador-BA)
APLAUSOS para mais esta crônica!!!
Alguns comentários permito-me proferir:
1 – “As condições iniciais fixadas eram que os votantes deveriam ser “HOMENS BONS”, o que evoluiu depois para exigir que também os votados o fossem”. Atualmente, candidatos, enquanto pior, melhor…
2 – “mensagens de afagos, palavrões ou frases em que expressava o seu próprio desencanto com as eleições”, lembro uma de desabafo, que dizia: “Moro em Itiúba, como feijão com fuba, quem quiser subir meta o dedo no C e suba.”
3 – “vencedores alegarem que houve fraude na última eleição!”, Freud diria que se trata de transtorno bipolar.
4 – Os dois eventos mais importantes ocorridos em 1946 foram: a consolidação do voto feminino e o meus nascimento!… (Maceió-AL).
Muito bom! Só os mal-intencionados ou ignorantes querem o retrocesso. (Rio de Janeiro-RJ).
Caro Agenor. Parabéns pela crônica. Muito bem colocado. Eu sei de duas coisas sobre o processo eleitoral antigo. Uma eu vi, outra me contaram. Minha avó materna, por volta de 1900, era das poucas pessoas letradas da cidade onde nasci, a eleição era uma farsa. O Coronel, o poderoso chefão da cidade, chamava a minha avó e ditava para ela o resultado das eleições para ela preencher o mapa e mandar para a Capital. Era eleito quem o Coronel desejasse, o resultado da urna era por ele determinado. Esta me contaram, eu ainda não havia nascido quando minha avó era obrigada a fazer isto. A outra eu presenciei, ainda jovem, no Sul de Minas. No dia da eleição o Coronel (dono da fazenda) reunia a piãozada em um churrasco (alguns eram de fora da fazenda). Todos comiam e bebiam à vontade. Terminado o churrasco cada um recebia um envelope com a cédula e subiam no caminhão, sob os olhares fiscalizadores de “capangas” que os levavam até as urnas. Como piada contam que um dia um pião queria saber do Coronel em quem ele tinha votado e a resposta pronta do Chefão foi: você não sabe que o voto é secreto ? Não era difícil saber, pois havia apenas dois partidos(UDN e PSD) na cidade. Assim era o processo eleitoral brasileiro por esse interiorzão afora. Nos locais mais distantes e afastados (no sertão nordestino) devia ser igual ou pior. Os Coronéis tinham um poder e uma força fantástica. Quando o Banco inaugurou o Posto Avançado de Crédito Rural em Abre Campo (perto de Viçosa) o Presidente que havia prometido comparecer ao Deputado Abi Ackel não pode comparecer e mandou-me, juntamente com o seu Assessor Especial, para representa-lo. Lá, quando fez o ultimo discurso, o Deputado (e Ministro) fez uma apologia ao Coronel local, pois dependia dele para continuar recebendo os votos daquele município mineiro. Isto foi na década de 80 do século passado (1984, se não me engano). (Brasília-DF)
Acredito que somente aos divulgadores de “fake news” interessa a desconfiança do atual processo eleitoral, porquanto todos os seus passos são seguidos religiosamente pelos órgãos competentes, além de franqueada à fiscalização livre e democrática a quem de direito. Ademais, todos os candidatos eleitos por esse processo, ai estão no pleno exercício dos seus respectivos mandatos, sem qualquer embargo. Apenas o que ver, atualmente, nada mais é do que possível derrota dos inconformados que, sem possibilidade de justificar seus próprios fracassos, buscam macular um processo sério, crível e confiável, atribuindo imagináveis situações que mesmo que fossem admitidas a sua veracidade, jamais alcançariam seus objetivos por óbvio, creio que ninguém em sã consciência, aceitaria retroagir no tempo e no espaço para votar em papeizinhos, em forma de bilhetinhos, mensagens e palavrões, apondo X, coisa bem retrógrada, inadmissível. E por fim, quero parabenizar ao ilustre jornalista pelo excelente artigo esclarecedor, a respeito da evolução do nosso atual processo eleitoral. (Brasília-DF).