Embora nesse sábado, 20/11, está sendo comemorado o “DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA”, entendo que essa consciência tem de ser consagrada como uma verdade e uma afirmação de todos os dias, assim como o Dia das Mães, Dia da Mulher, Dia dos Pais, Dia do Trabalho, e tantos outros de indescritível importância, e devem ter o seu mérito permanente e contínuo, e não a comemoração restrita a um único dia.
Essa data, porém, tem uma particularidade por ser dedicada ao reconhecimento e consagração dos valores de um povo, cujos direitos a sociedade, no Brasil e pelo Mundo afora, teima em resistir e desconhecer ao longo da história. Diga-se, de passagem, uma data especial para a etnia no mundo todo!
Sensibilizado, recebi mensagem de um leitor semanal de Manaus-AM, Sr. Flávio Mendonça, em que manifestava que gostaria que eu fizesse uma crônica dedicada às homenagens do dia 20, e em contraponto a tantas atitudes racistas que o deixavam indignado. Assim, recordei-me de uma crônica de maio de 2011, 10 anos atrás, com o título de TRIBUTO RACIAL, e resolvi reinventá-la com a percepção de que nada mudou no campo do preconceito racial. O pedido do leitor é tão honroso quanto especial, e a seguir vamos dar a nossa contribuição sobre esse assunto tão valioso para nós pessoas humanas, irmanadas com o nosso semelhante, não importando a sua cor.
Dentre as muitas raças existentes no mundo, com a participação histórica que cada uma representa, é relevante destacar, pela forte presença na formação do povo brasileiro, a indiscutível e preciosa influência da raça negra. É preciso despojar-se dos preconceitos tão enraizados na índole do brasileiro, para respeitar e fazer justiça ao importante papel do negro no conjunto das tradições culturais do País, e da Bahia, de forma bem enfática.
Embora seja evidente que a migração dos negros africanos não ocorreu de forma espontânea para o Brasil, conduzida que foi pelos portugueses através do recurso espúrio da escravidão humana para trabalhos forçados nas terras descobertas, não se pode negar a sua importante e incalculável contribuição na formação da gente brasileira.
Com lágrima, suor e sangue derramados, fruto do sofrimento imposto pelas chibatadas dos senhores feudais, essa gente oriunda da África foi conquistando palmo a palmo o seu espaço, com vontade, fé, paciência, esperança e determinação. As conquistas ainda são pequenas porque as barreiras da discriminação de cor ainda são bem claras e evidentes na vida brasileira.
A Lei Áurea cumpriu o seu papel apenas de forma parcial, embora tenha o seu valor indiscutível no momento histórico em que ela foi assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, quando liberou milhares de escravos dos seus algozes. E aqui, olhando para trás, só temos que pedir sinceras desculpas aos nossos irmãos negros! Quanta vergonha dessa página da história!
É preciso ter a consciência de que os valores, direitos e obrigações são iguais para todos e, assim, a ocupação dos espaços na economia, na cultura, na educação, nas Universidades, deve ser uma conquista da competência através da livre participação e competição, sem as limitações do preconceito hostil.
Na medida em que reconhecermos a importância da participação da raça negra no processo de formação da gente brasileira, resgataremos um dos elementos raciais representativos de nossa própria história. Tem se tornado lugar comum nos Supermercados, Shoppings e Restaurantes, o vexatório constrangimento imposto por seguranças dos estabelecimentos às pessoas negras! E tem outros tantos que sabemos existir, mas, impossível aqui enumerá-los. Esse RACISMO: ESTÁ NA HORA DE ACABAR!
Decorridos 133 anos da Abolição oficial, vale a reflexão de que ela só se tornará verdadeira e definitiva a partir de uma profunda mudança de atitude que elimine os estigmas e promova a integração racial sem limites ou condicionamentos. Somente com a igualdade de direitos poderá reclamar os espaços econômicos, sociais e culturais, historicamente subtraídos. Pois no fundo, somos todos iguais… ou não? Eis a questão.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 20/11/2021
9 Comentários
Sou daqueles que acreditam que o racismo entre nós só será extinto quando ninguém mais se disser herdeiro de escravos, e sim de pessoas brutalmente escravizadas no passado por interesses meramente econômicos. Esta é a verdade histórica.
Sei que o pecado da exploração do homem pelo homem remonta a milênios, mas o Brasil teve a oportunidade, há 500 anos, de construir uma nação igualitária a partir de uma interação harmoniosa entre portugueses e indígenas. Não conseguindo subjugar os nativos, os europeus partiram para exploração de irmãos arrancados a fórceps da África.
Essa nódoa nunca vai conseguir apagar. (S. Paulo-SP)
Caro Agenor, excelente crônica para o dia que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra.
Entendemos que nenhum ser humano branco da atualidade tem qualquer tipo de responsabilidade da escravidão vivida pelos negros no passado, mas todos usufruem dos benefícios dela. Enquanto o povo se beneficia, os negros convivem com as cicatrizes que os seus antepassados sofreram quando escravos.
Assim, devemos ter a consciência humana e não apenas a negra, respeitando igualitariamente a todos.
Se retroagirmos no tempo e no espaço e alcançarmos à época do descobrimento do nosso imenso e amado Brasil, haveremos de encontrar nos registros dos anais da nossa história que os únicos habitantes da então Ilha de Vera Cruz e depois, Santa Cruz e posteriormente, denominado Brasil, diante da existência em abundância de árvores conhecidas por “pau Brasil” eram só e somente os indígenas, todos indistintamente, pardos, os natos da terra brasileira, sem roupas, descalços e apreciavam a chegada das caravelas de Cabral dos cumes das árvores. Ressalte-se por oportuno, que indígenas provêm de índios, isso porque os descobridores pensavam ter aportado às costas das Índias. Então, hoje, dia da consciência negra com muita honra e orgulho declaro-me, pardo também, porque realmente sou pardo, por esse motivo me considero um verdadeiro nato brasileiro, igual aos nossos ancestrais. Assim, penso que se formos fazer uma pequena reflexão, certamente chegaremos à conclusão de que somos absolutamente iguais, sem tirar e nem por, mesmo porque o nosso início, o nosso descobrimento, quando Cabral aqui chegou em 1500, só e somente havia os nossos pardos ancestrais sobre as árvores, sem roupas e sem calçados. E, posteriormente, com imensa tristeza somos obrigados a reconhecer que gananciosos portugueses tiveram a infeliz e miserável ideia de escravizar milhares de irmãos africanos, manchando em consequência, a eternidade da nossa gloriosa história. E ao concluir, concito a todos os brasileiros natos nascidos no território brasileiro que reflitam, raciocinem e retroajam no tempo e no espaço, afinal, somos oriundos dos indígenas que se uniram aos irmãos africanos que aqui se encontravam escravizados para combater os intrusos, tendo como consequência, o surgimento de uma raça bonita, forte e inteligente a ponto de hoje gritarmos bem alto e em bom som, somos iguais, temos os nossos direitos e lutaremos até o final da nossa existência pela nossa igualdade. Salve o dia 20 de novembro de 2021. (Brasília-DF).
Muito boa crônica. (Salvador-BA).
Meu irmão, Agenor!!! Mais uma vez fostes assertivo quanto ao assunto e o contexto histórico. Classificado na certidão de nascimento como sendo de cor pardo, acho e me considero negro. Até por admiração e respeito aos meus avós. E, na realidade o que me entristece é saber e ver irmãos de nossa raça e cor, nos discriminar. (Maracás-BA).
Representou bem os anseios do bom cidadão. (Salvador-BA).
Somos, realmente iguais ou, pelo menos, deveríamos ser.
Eu, e meus irmãos, temos sangue negro por dois lados: um avô, era negro ritinto, pescador de camarões em Valença-Ba., casado com uma branca de olhos azuis. Já minha avó, mãe de meu pai, era uma negra que catava piaçava em uma fazenda de português, em Cairu. Engravidada a neguinha catadeira de piaçava, pela inexistência de legislação pertinente, foi demitida do emprego sem ônus ao patrão.
Como se nota, temos muito que avançar sob este aspecto, mas estamos longe de alcançarmos um nível tolerável para o preconceito racial que, infelizmente, ainda vigora no Brasil.
A história dos meus avós (maternal e paternal) têm um aspecto muito curioso no seu contexto, mas evitemos trazê-lo a público. O que nos importa, no momento, é que ‘RACISMO, ESTÁ NA HORA DE ACABAR!”, como sugere o texto desta oportuna crônica.
Maravilha! disse tudo da melhor forma possível. (Salvador-BA).
Parabéns Agenor sobre a crônica da semana sobre os nosso irmãos negros.
Gostei principalmente, porque você esqueceu um pouco nosso Presidente.