Quando alguém se propõe a exaltar o conceito diferenciado de um governo em detrimento de outros anteriores, subentende-se que o faz por uma visão de princípios e coerência em torno de razões de integridade, e não somente por um item específico, a exemplo do que tanto se insinua sobre o governo atual de que não há mais a prática da corrupção que tanto se consagrou nos últimos governos.
A propósito, o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deixou o governo, recentemente, face a processo investigatório por suspeita de envolvimento em negócios escusos na exportação de madeira. O fato já planta a dúvida quanto à absoluta imunidade do governo no que tange a qualquer indício de corrupção. Vamos acreditar que pare por aí. Acreditar e imaginar é uma coisa, não acontecer, é outra bem diferente.
Outro ponto relevante é quanto ao abrupto rompimento em pontos fundamentais do seu projeto de governo, como, por exemplo, a pregação de redução da gigantesca estrutura Administrativa e Ministerial, e a todo momento um Ministério extinto é recriado. Ora, não cabe qualquer questionamento quanto ao inegável Poder Institucional do Presidente em voltar atrás e decidir recompor um Ministério, desde que o faça por estritos motivos tecnicamente justificáveis ou por eventual necessidade de melhor funcionamento da máquina administrativa. O caso do Ministério recém-criado, contudo, está longe de quaisquer adequações técnicas, e sim por interesses unicamente políticos.
Todavia, assim como já ocorreu em outras etapas desse curto período de governo – PEC da Previdência -, novamente a necessidade de fortalecimento da sua base parlamentar pôs em evidência o jogo político praticado pela famosa coligação do Centrão, cuja base se fundamenta na linguagem da TROCA, ou seja: eu lhe dou, você me dá, e assim acontece o “toma-lá-dá-cá”. Procura-se o inventor de tão sórdida maneira de legislar em favor do próprio bolso, sem olhar para trás e lembrar dos eleitores, de quem receberam o voto de confiança! Isso tem nome? Tem sim: traição, safadeza e enganação.
Mas, seria ingênuo acreditar na integridade dos discursos de protestos incisivos de Deputados e Senadores contra as relações com o Centrão, uma vez que em tempos não muito distantes aprovaram a PEC da reeleição de Fernando Henrique Cardoso, são os mesmos que atuaram no Mensalão de Lula e que fizeram fila no Hotel Golden Tulip, em Brasília-DF, quando Lula coordenava os votos parlamentares para evitar o impeachment da Dilma! E o que estava por trás em todas essas votações? Bilhões de reais em Emendas Parlamentares…! Ou seja, o suor dos nossos impostos pagos, sendo manipulados sem escrúpulo algum!
Agora, a fim de viabilizar as novas estratégias políticas, a Medida Provisória 1.058/2021 promoveu uma minirreforma: a) A volta do Ministério do Trabalho, e o Onyx Lorenzoni como seu Ministro; b) A nomeação do Senador Ciro Nogueira para Chefe da Casa Civil da Presidência; c) E a acomodação do General Luiz Eduardo Ramos – ex-Casa Civil -, que foi para a Secretaria-Geral da Presidência. Vale ressaltar que o Senador Ciro é Presidente Nacional do PP e uma das lideranças do Centrão.
Entendo que todos reconhecem o quanto é difícil e complicado encarar as Reformas que se fazem necessárias, não somente de caráter previdenciário, mas de política tributária e fiscal. No entanto há uma reforma que se faz mais impositiva e prioritária, e que a partir dela as demais se viabilizarão: a mudança de caráter! Enquanto essa não se tornar uma realidade, assistiremos nesse e em futuros governos, periodicamente, à prática da operação de troca, como forma da linguagem de comunicação institucional. Infelizmente e vergonhosamente!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 01/08/2021
10 Comentários
Caro Agenor, o título é oportuno a atual!
E posso lhe afirmar que voltou mais conhecido e popular.
Até 2018, antes das campanhas para o atual mandato da presidência da república, uma boa parte dos eleitores tinha dúvida do real significado de “troca-troca”, até que um dos postulantes ao cargo subiu aos palanques e explicou didaticamente o que era a tal palavra, afirmando que se eleito, esta prática NUNCA seria adotada em seu governo. O tal candidato foi eleito e, aquele eleitor que antes não sabia o significado da palavra, após ter aprendido, está vendo ela ser colocada em prática a toda prova.
Texto excelente! Esse processo do “toma-lá-dá-cá” só causa mesmo muita indignação, e dificilmente vai acabar, infelizmente. É uma vergonha… É a velha história do péssimo exemplo de educação: o “faça o que digo, mas não faça o que eu faço”. E o pior é que quase todos fazem e querem se mostrar tão bonzinhos. Mas como dizia minha avó… “Uma coisa é ver, outra é contar”. (Uauá-BA).
Excelente texto, Agenor. O exposto é uma realidade nua e crua. Parabéns. (Salvador-BA).
Aplausos por mais esta crônica que atinge o cerne da inidoneidade dos Governos e de alguns Parlamentares (quase todos). No concernente ao “toma lá, dá cá”, o Presidente assentou sua campanha e, de conseguinte, sua eleição, na aversão a tal sistema (esquema). Mas, como diz a sabedoria popular, “Político é igual a galo velho, só é duro enquanto não entra na panelinha”.
Quanto ao fato de os Governantes e os políticos (quase a totalidade) só pensarem em seus bolsos, cabe frisar o ditado: “É muito raro quem trabalha com o mel não lamber os dedos.”
Por fim, traga-se uma alusão ao Filósofo Grego Diógenes e Sinope, que, de lanterna acesa em punho, pelas ruas de Atenas, em plena luz do dia, quando foi indagado: “Que estás a procurar?” Respondeu: “Procuro um homem honesto.”
No Brasil, infelizmente, a corrupção e a falta de ética dos políticos (quase todos), está institucionalizada, com o aval de alguns componentes do Poder Judiciário. (Maceió-AL).
Muito bom! Nós como eleitores, temos o poder de mudancas, não reelegendo esses /senadores/presidente. Continuo com esperança de que tempos melhores virão! (Brasília-DF).
Já era de se esperar o retorno da CORRUPÇÃO no Brasil. (Ro de \janeiro-RJ).
Triste realidade! (Salvador-BA).
Excelente texto. A realidade nua e crua do nosso país!!!
Sua bem dissertada crônica, representa o retrato falado de nosso gigante e ao mesmo tempo minúsculo Brasil, que vem atravessando momentos de crises, dentre elas, a do cenário político a mais grave; muito grave e gravíssima. Estamos mais uma vez próximos de mais um pleito eleitoral, desta feita para os cargos de deputados estaduais/federais/senadores; governadores, e até presidente da Republica, e no atual cenário político nacional literalmente desacreditado não vislumbramos pelo menos os menos ruins para que a gente possas exercer o nosso dever cívico de votar. Em minhas considerações finais, gostaria de plagiar as sábias de um ex jornalista da Revista Veja, quando escreveu a acertada frase: No Brasil não existe partido político da direita nem da esquerda. no centro esquerda, ou centro direita, existe sim é um monte de salafrários juntos e misturados para roubar o país. O que os governantes de outrora fizeram com a colocação das raposas políticas, quanto mais matreiras fossem dentro do alto escalão, não está sendo diferente no governo atual. Como pode a maior excelência do PP- Partido Progressista. ou Partido Podre??? ser o novo Ministro da Casa Civil, raposa velha da velha política do Piauí, cujo gabinete fica porta com porta do gabinete do Presidente da República, que até pouco tempo vinha pregando a nova política.Colaboração e Complementos de:
José Deusimar Loiola Gonçalves
Técnico em Agropecuária- Ex- Funcionário Publico do Governo do Estado de nossa linda e extensa Bahia ; Graduado em Administração de Médias e Pequenas Empresas; Licenciado em Biologia; Pós Graduado Em Gestão Educação Ambiental, e Tecnólogo em Apicultura e Meliponicultura.
Zap: (75) 99998-0025 (Vivo) .
Blog: https://www.portaldenoticias.net/deusimar
Muito bom o seu comentário, amigo! Ao mesmo tempo, triste e vergonhosa essa prática dos governantes. (Rio de Janeiro-RJ).