O anedotário nacional é sempre enriquecido com palavras de todas as origens etimológicas, que ora fazem as pessoas rirem, noutras geram comentários e levam a reflexões. Nunca, porém, imaginou-se que um artista do humor debochado, que induz ao riso pelas tolices que fala, pudesse ser elevado a um dos mais altos níveis da representação política nacional, como Deputado Federal, por dois mandatos: o Deputado Tiririca. Além de usar na campanha o mote “pior do que está não pode ficar” o grande mérito do ilustre deputado foi tornar popular a palavra “Abestado”, adjetivação da palavra substantiva “besta”, que vem a significar aquele que faz besteiras, que diz tolices e asneiras, estúpido, ignorante, tolo etc.
“Eleito fazendo piadas no horário eleitoral e chamando o eleitor de “abestado”, um dos seus bordões da carreira de palhaço e humorista, Tiririca chegou a ser o deputado mais votado do país naquele ano, conquistando 1,3 milhão de votos” (Fonte: globo.com). Desistiu de continuar na política, irritado porque o Partido Liberal-PL, passou o seu número de inscrição 2222 como candidato, para ser utilizado pelo Eduardo Bolsonaro, na eleição de 2022, e se sentiu “traído e desgostoso” com o Partido.
Não sou daqueles que explodem em desabafos contundentes para negar qualidade e até faltar com o respeito aos membros integrantes do Congresso Nacional, porque, em meio à inclusão de tantos Tiriricas, Chicos das Verduras (ex-presidiário), Jean Wyllys (um ex-BBB), Zoinhos, Romários, Índio Juruna etc., existem outros, que são nomes de respeito e que se respeitam, e que oferecem alguma contribuição positiva ao esforço de legislar no sentido da valorização das instituições com estruturas sérias e legítimas para este país.
Dentre esses últimos, merece ser citado o Deputado Federal pelo Distrito Federal, José Antônio Reguffe, jovem de 43 anos e que em seis ofícios propôs à Câmara: cancelamento do 14º. e 15º. salário, redução da cota parlamentar para custeio do gabinete, redução do número de Assessores de 25 para 9, redução do gasto com vale-alimentação e redução da verba de custeio pessoal. Toda essa proposta promoveria uma “economia aos cofres públicos da ordem de 2,4 milhões de reais em quatro anos. (Fonte: Revista Veja). Poder-se-ia dizer que o fez para aparecer, mas teve igual atitude quando Deputado Distrital em Brasília, o equivalente ao nosso Deputado Estadual.
Tendo as Eleições o poder de dar ao povo a oportunidade de eleger os seus representantes, em todos os níveis, seria de se imaginar que esse extraordinário instrumento democrático fosse sempre usado com seriedade e não como palco de protestos. Para essas manifestações temos os espaços próprios dos sindicatos, das associações, dos seminários, das audiências públicas, das praças, do Ministério Público etc. e não o silêncio das urnas, cujos erros decorrentes de escolhas inconsequentes levam quatro longos anos para corrigir, enquanto o dinheiro público vai saindo pelo ralo… e entre os dedos deles!
Por mais estranho que pareça, sem preconceitos de ordem econômico-cultural a nós nordestinos – que, felizmente, não somos habituados a usar o voto nessa forma de protestos -, não é de se acreditar que Estados como o Rio de Janeiro e São Paulo, com todo respeito aos cariocas e paulistas, continuem usando as urnas, com grande frequência, para protestos dessa natureza, que chegam às raias da irresponsabilidade. A propósito, em S. Paulo, nas eleições de 1959, uma Rinoceronte de nome “CACARECO”, recebeu nas urnas 100 mil votos para Vereadora! O cúmulo da anarquia! Só faltou tomar posse!
Num momento de lucidez, o Tiririca declarou, ao ser perguntado por que não se candidatou no Ceará, a sua terra natal? Respondeu: “Lá não tem abestado”! Não tenho dúvidas, esta frase foi o seu melhor discurso durante o último mandato.
Já passa da hora de corrigirmos essas aberrações que estão surgindo de 4 em 4 anos, e que nos fazem de ABESTADOS! Ou não?
Nota do Autor: Crônica publicada em 02/01/2018, revisada e atualizada.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – de Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 05/11/2023
7 Comentários
Caro Agenor, posso lhe afirmar que Tiririca errou feio ao dizer: “pior do que está não pode ficar”.
Ficou!
Excelente crônica !! (Salvador-BA).
Parabéns pelo artigo!
Ainda teve o “MACACO TIÃO”, aqui no Rio de Janeiro, nas eleições de 1988. Lançado como forma de protesto pelo Deputado Fernando Gabeira.
São todos uns “ABESTADOS”!!! (Rio de Janeiro-RJ).
Caro amigo, parabéns pelo artigo! (Salvador-BA).
BELA REFLEXÃO para tamanha realidade. Ao menos pensar ANTES de votar é o mínimo que podemos fazer…!!! A grande dica do autor está dada.
Até por não dizer que o saudoso Pelé uma vez disse. “O brasileiro ainda não sabe votar”. Realmente, esses abestados que votam em pessoas tbm abestadas, merecemos nós os de bom caráter isso. Até os mesmos ratos do orçamento federal no Congresso Nacional. (Rio de Janeiro-RJ).
Isto responde a que nível chegou a política no Brasil