Tenho certeza de que o leitor concordará comigo, que nada é mais enriquecedor no campo das experiências e novos aprendizados, do que, de vez em quando, tirar um tempo do seu cotidiano para viajar pelo interior – como o faço agora -, principalmente quando se trata de revisitar um passado de quase meio século, constatar como as cidades visitadas evoluíram para melhor, e rever ou conhecer filhos, netos ou bisnetos de amigos presentes ou que já partiram para a eternidade. Isso tem um simbolismo muito forte, verdade seja dita!
Interessante, também, foram as surpresas que se manifestaram durante o giro realizado na área rural dos municípios, em companhia de um colega e amigo daqueles tempos. Ao visitar uma das fazendas e apresentar-me ao seu proprietário que, empolgado e sorridente, respondeu com entusiasmo: “Seu Agenor! Ora, jogamos bola juntos no campo do “Casarão”, lembra”? E citou o nome de outros colegas que participavam dos “babas”, 43 anos atrás! Naquele tempo, o atleta aqui tinha saudosos 35 anos de idade! Que grata lembrança a gente se deparar com um depoimento tão singelo!
Como seria a vida sem os encantos da ingenuidade que povoa as histórias de tanta gente, tanto no mundo real como nas histórias dos personagens das ficções romanescas! Os cronistas têm por prática e tradição captar pelas esquinas da vida e, também, nas conversas com os mais antigos, com peculiar satisfação, narrativas que ressaltam pelos detalhes excêntricos ou registros históricos contemporâneos.
E assim, como parece que os fatos procuram o cronista, identifico-me com velada paixão por casos e causos típicos que me contam. Nesse giro, conheci um caso surreal comentado por todos de maneira folclórica, tão pitoresco quanto inusitado, real e não criado pelo imaginário popular. Quando circulava pelo Mercado Municipal da cidade, encontrei o personagem principal dessa história e, então, ouvi a narrativa do próprio com tantos detalhes, que me provocou incontrolável curiosidade.
O cidadão, Sr. Francisco, vive hoje maritalmente com uma senhora separada do marido, Sr. Manuel, já há alguns anos, com o qual ela tem dois filhos, hoje adultos. A relação começou tão cedo, quando os garotos ainda eram crianças, de tal forma que se habituaram a chamar o Sr. Francisco de pai, o que fazem até hoje.
A relação entre os dois, Francisco e Manuel, é tão amistosa, que ambos residem no mesmo prédio, separados apenas por um andar e mantêm contatos pessoais, quando necessário. Disse-me que quando o ex-marido, Sr. Manuel, precisa até de uma eventual carona, ele está sempre disponível a servi-lo! Diante da minha reação de surpresa ante o seu relato, o Sr. Francisco julgou conveniente concluir, dizendo: “Quando a conheci eles já estavam separados há algum tempo, logo, ele nada tinha a ver com ela”! Foi uma história tão incomum e singular, com um novo viés de compreensão de uma nova realidade, que resolvi dividir o surpreendente exemplo com os meus leitores!
Outro caso do passado, folclórico e cômico, envolveu o próprio autor como personagem principal. Acabava de chegar numa simpática cidade do interior para tomar posse como Gerente-Adjunto da Agência do BB, e ao sair da Pensão onde me hospedei em direção à Agência, eis que vejo um pequeno movimento em frente a uma Loja de tecidos, dando a ideia de que houve uma tentativa de arrombamento durante a noite. Ressalte-se que antigamente os larápios só agiam nas caladas da noite.
O seu proprietário, abalado, estava a comentar o episódio com alguns curiosos, quando tomei a liberdade de perguntar-lhe se era comum ocorrer esses crimes na cidade. Mesmo sem observar quem teria feito a pergunta, respondeu de maneira brusca e contundente: “Aqui não acontecia isso não, mas depois que começou a chegar tanta gente de fora, esses crimes passaram a acontecer”! Cabisbaixo e surpreso, segui o meu roteiro em direção à agência para tomar posse! Já imaginaram como o jovem aqui ficou desapontado? Mas segui o meu caminho…
É emocionante e divertido mexer com a memória para recordar a riqueza de fatos, especialmente singulares, que acontecem por esse nosso vasto, rico e belo interior da Bahia, além da prosperidade que nos apontam os dados, integralmente!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 27/08/2023
12 Comentários
Caro Agenor, bom dia!
Me deliciei ao ler o editorial desta semana.
Nada mais gratificante do que rememorar fatos acontecidos no passado, principalmente aqueles que marcaram a nossa infância, juventude e a nossa vida profissional. Alguns outros episódios não tão bons cruzaram os nossos caminhos? Lógico que sim, porém, por serem negativos, devemos ter a sabedoria de esquecê-los (ou não mencioná-los).
Assim, recomendo a todos (especialmente aqueles que chegaram aos 70), façam um “giro”, relembrem o passado como você mesmo fez.
Eu terminei de voltar de Cansanção/Ba, cidade em que nasci e permaneci até completar 19 anos.
Gostei da crônica do meu amigo Agenor.
Nem queira saber quanta vontade tenho de fazer a mesma coisa. (Brasília-DF).
Mais uma boa crônica. É muito bom encontrar velhos amigos. Abraço. (Salvador-BA).
Gosto de lê as suas crônicas, e relembrar os bons tempos. (Irecê-BA).
Boa noite meu caro Agenor! Que crônica MARAVILHOSA!!!!!! (Maracás-BA).
Recordar é viver ou reviver. (Rio de Jsneiro-RJ).
Parabéns!
Muito boas as lembranças amigo. Fiquei rindo sozinho aqui. Forte abraço e ótima semana! (Rio de Janeiro-RJ).
O maior presente da nossa existência na terra são as memórias criadas ao longo da vida com pessoas que cruzam o nosso caminho trazendo experiências e vivências incríveis. Essa oportunidade que o Banco do Brasil proporcionava de deslocar os funcionários para diferentes lugares era maravilhoso pq proporciona o conhecimento das ricas culturas dos interiores da nossa Bahia
Parabéns pelo texto. Formidável. (Salvador-BA).
Tinha que ler amigo. Muito legal mesmo! Parabéns!! (Salvador-BA).
Excelente sua crônica!
Realmente, é muito gratificante e emocionante reviver momentos e relembrar episódios vividos. Como diz a sabedoria popular: “Recordar é viver.”
É bom, caminhar pelas ruas do passado…muito bom… (Recife-PE).