Ao longo do tempo sempre foi corrente entre os críticos, o comentário de que os fatos narrados nos livros de História do Brasil, nem sempre refletiam, na integra, todos os fatos ocorridos, ou que ficavam à mercê da interpretação atribuída por cada autor. No entanto, não podemos ir, frontalmente, de encontro a esses estudiosos, os quais merecem todo o nosso respeito!
A Independência da Bahia foi um relevante acontecimento histórico, desconhecido não só em outros Estados do Brasil, mas até mesmo aqui, pelos próprios baianos. Já vi um patrício de outro Estado, sorrir, sarcasticamente, ao ouvir falar que a independência do Brasil veio a se consolidar somente 10 meses depois aqui na Bahia, e o seu deboche foi concluído com a frase: “coisas de baiano”! Educadamente, não tive como contra-argumentar, pois, a regra ensina que contra a ignorância devemos calar.
O cenário pelas províncias era de conflitos entre os brasileiros que queriam a independência e os que simpatizavam com o Reino de Portugal. A Monarquia portuguesa exigiu a volta de Dom João VI em 1821 e manteve o Príncipe D. Pedro aqui no Brasil. Com o tempo a discordância com as imposições vindas de Portugal se ampliaram de tal forma que o próprio Príncipe passou a alimentar sentimentos de amor à Colônia.
Com a chegada do “Dia do Fico” em 9 de janeiro de 1822, ficou mais do que evidente que a decisão de D. Pedro I de permanecer no Brasil, sinalizava na direção de uma possível independência e o surgimento da Monarquia Brasileira: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”. A declaração foi contundente e selava a convicção de que era apenas uma questão de tempo. A partir dessa data, uma sucessão de fatos desencadeou os acontecimentos que culminaram no Dia da Independência.
É importante lembrar que mais próximos do Príncipe, existiam nomes que muito contribuíram para apressar o processo da grande conquista da Independência do Brasil, que veio a ocorrer em 7 de setembro de 1822, às margens do Rio Ypiranga, em S. Paulo: Gonçalves Ledo, Januário da Cunha Barbosa e José Bonifácio de Andrada e Silva. Este último, membro da Maçonaria, para onde D. Pedro também se filiou, e em cujas reuniões tudo foi articulado com mais rapidez.
Mas, nesse conjunto de fatos e personagens responsáveis pela emancipação do Brasil como Nação para o Mundo, e não mais uma simples colônia, é preciso descobrir e exaltar na História os grandes heróis dessa luta. E uma grande guerreira, mulher baiana, filha de S. José das Itapororocas, hoje conhecida como Feira de Santana, teve um destaque histórico inusitado: MARIA QUITÉRIA DE JESUS (1792-1853).
Já que somente homens faziam parte do Exército, a jovem Maria Quitéria juntou-se às tropas que lutavam contra os portugueses em 1823, disfarçada como homem e utilizando as roupas e o nome do cunhado, ficando conhecida como soldado Medeiros. Destacou-se tanto pela habilidade no uso das armas, que mesmo o pai indo lá denunciar que o soldado Medeiros era uma mulher, e sua filha, o comandante não aceitou dispensá-la, e assim quebrou a tradição da restrição contra a mulher no Exército. “A primeira mulher a assentar praça em uma Unidade Militar. Entretanto, somente em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, as mulheres oficialmente ingressaram no Exército Brasileiro”. Fonte: https://www.eb.mil.br/web/ ingresso/ mulheres-no-exercito/. Ou seja, 120 anos depois dessa heroína!
A Bahia era uma região que vivia em permanente estado de agitação, com uma população profundamente insatisfeita com os portugueses. Isso fez os conflitos se iniciarem em fevereiro de 1822 e se prolongarem até 2 de julho de 1823, quando os colonos baianos capturaram Salvador, com a valorosa participação dessa fantástica MARIA QUITÉRIA, exemplo de CORAGEM E BRAVURA!
E a Independência do Brasil do Reino de Portugal, finalmente se completou. Portanto, não poderia deixar passar o mês de julho, sem fazer esse registro tão significativo e relevante para a nossa história! Salve o 2 de julho! Salve a MARIA QUITÉRIA! Salve os 200 anos da nossa verdadeira Independência!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Aposentado do Banco do Brasil – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 16/07/2023
9 Comentários
Caro Agenor, bom dia! Você foi muito feliz ao fazer essa homenagem para uma grande personagem da história Brasileira, esquecida na memória de muitas pessoas, especialmente aquelas mais jovens, principalmente no momento em que as mulheres buscam suas posturas e afirmações definitivamente. Na era do marketing digital através de plataformas como Instagram, YouTube, TikTok e LinkedIn em que alguns “influencer” se tornam formadores de opinião, atingindo milhares de seguidores em questão de semanas, caberia uma pergunta aos seguidores: Você sabe quem foi Maria Quitéria?
Muito boa matéria amigo!
Ontem mesmo, estava conversando com um amigo sobre a data de 2 de Julho. Tentando explicar a ele, não com o mesmo conhecimento do cronista é claro. E não fiquei surpreso, quando ele me falou que não tinha conhecimento dessa história e ainda duvidou da minha explicação. Coisas de quem parou no 7 de Setembro de 1822. (Rio de Janeiro-RJ).
UM BELO ARTIGO em todos os sentidos. Da ilustração à história em si, a gente pode constatar o diferencial de vida e sentimentos de outrora. Que pena que atualmente é quase impossivel encontrar exemplos desse quilate…!!! De parabéns o Autor pela aula que nos foi transmitida de forma tão leve e didatica.
Muito oportuno resgatar a verdadeira história da independência do Brasil. De elogiar, também, o resgate dessa heroína que tem importância ímpar na conquista da nossa autonomia e que, no restante do país, é tão pouco conhecida e valorizada. Viva a Bahia! (Santa Maria-RS).
Parabéns! Excelente crônica.(Salvador-BA).
Parabéns pela instrutiva crônica, cheia de historicidade!
Parabéns à Bahia, parabéns à Maria Quitéria e a muitas outras mulheres guerreiras que fizeram a história do Brasil (Ana Néri, Anita Garibaldi, Nise da Silveira e tantas outras).
Seria de grande valia que as muitas outras engajadas no mundo político dessem o seu melhor pela grandeza de nossa Pátria,
não dessem o seu pior para salvaguardar seus interesses, mesmo levando nosso Pais para o caminho da degradação social e econômica.
Mais uma vez, parabéns pela crônica! (Maceió-AL).
Concordo com você, Agenor.
Inobstante, outros heróis e heroínas se fizeram presentes no nosso heroico “2 de Julho de 1823”, a exemplo de Labatut, Maria Quitéria (a grande sacrificada) e Maria Felipa, esta que até usou cansanção para escorraçar os portugueses de forma hostil.
A ignorância é uma das razões pelas quais devemos silenciar com relação ao “2 de Julho”, embora não entendendo as razões pelas quais os políticos verdadeiros fazem questão de manter esse mistério em relação à efetiva data da nossa “Independência”, a ponto de alguns canalhas dizerem que “é coisa de baiano”. (Salvador-BA).
Muito bem lembrado, Agenor, temos que valorizar nosso passado, conscientizar os jovens das dificuldades que tivemos no passado. Parabéns! (São Paulo-SP).
Beleza de crônica, meu amigo Agenor. Parabéns. (Maracás-BA).