Nada melhor para subsidiar uma análise ou reflexão sobre o cenário político do presente, do que olhar um pouco para trás e localizar alguns fatos históricos recentes ou passados, não importa o tempo decorrido. Eles sempre nos trazem lições preciosas, que podem nos oferecer explicações sobre alguns questionamentos. Por exemplo, tinha pelo Partido dos Trabalhadores-PT um grande respeito pela potencialidade político-partidária que detinha no cenário nacional nas últimas décadas, mas, de repente, foi relegado ao ostracismo e as suas lideranças hoje silenciosas, para não dizer mudas e caladas, cujo comportamento se assemelha àquela criança que fez algum mal feito e se esgueira envergonhada pelos cantos da sala! Fui encontrar melhor clareza ao reler a crônica editada em 24/11/2016, cujo título acima foi inspirado em entrevista do líder petista Jacques Wagner, ex-governador da Bahia e atual Senador da República.
A política partidária brasileira praticada nos últimos 75 anos, reservou um lugar especial na história do Brasil pelo extenso volume de variáveis que passou a oferecer a quantos se habilitaram a participar ou a entender o processo político nacional. O conceito preliminar que inspira a constituição de um Partido, tem como premissas fundamentais a existência de um Projeto político-ideológico definido e, obviamente, o comando da liderança política que o idealizou.
Assim, surgiram em 1945, no pós-guerra, partidos integrados por proeminentes líderes políticos da época, que marcaram território por duas décadas: UDN-União Democrática Nacional; o PTB-Partido Trabalhista Brasileiro; PSD-Partido Social Democrático, esses três partidos os mais fortes e representativos; mais o PSP-Partido Social Progressista e o PRP-Partido da Representação Popular. O PCB-Partido Comunista Brasileiro, foi fundado em 1922, mas teve uma história marcada por longos períodos de clandestinidade. Com o Golpe Militar de 1964, houve a imposição do bipartidarismo sem o uso do nome “Partido”, passando a existir apenas a ARENA-Aliança Renovadora Nacional e o MDB-Movimento Democrático Brasileiro, que duraram por 20 anos. Após o movimento das “Diretas Já” e o retorno da democracia, em 1985, outros partidos foram criados com denominações e composições diferentes, e ressurgiram aqueles tradicionais acima citados.
Essas preliminares, contudo, não indicam a pretensão de qualquer estudo avaliativo da vida dos partidos políticos em suas diversas fases. Entretanto, torna- se evidente uma atitude nostálgica quanto à seriedade como foram criados, cujos vínculos dos seus integrantes tinham a marca da fidelidade a ideias e princípios, e não o que atualmente se presencia, ou seja, a avalanche excessiva de 35 partidos existentes e outros mais sendo criados a todo momento. Na sua maioria são apelidados, pejorativamente, de “Nanicos”, cujo compromisso maior é priorizar a negociação dos interesses dos seus fundadores, às vezes mantendo o governo como refém de certas exigências, muitas delas em causa própria.
O mundo político é sempre muito rico de fatos que ocupam espaço relevante no noticiário, com impactos positivos e negativos. Por exemplo a declaração feita pelo ex-governador Jaques Wagner, então Ministro-Chefe da Casa Civil (2016), um dos fundadores e figura de proa do petismo nacional, quando afirmou que o seu partido “errou por não fazer a reforma política”, e complementou: “QUEM NUNCA COMEU MELADO, QUANDO COME, SE LAMBUZA”. Foi criticado e quase execrado do partido pelos seus correligionários. Ora, a sua intenção não foi atingir ninguém, individualmente, mas, o partido que não teve respeito pela sua história e jogou no lixo todo o seu ideário de lutas. Isso significa dizer que o então Ministro estava certo!
Diria que, em respeito à sua militância, o PT ainda poderá se recuperar, no futuro, desde que aprenda o exemplo deixado pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek: “COSTUMO VOLTAR ATRÁS, SIM. NÃO TENHO COMPROMISSO COM O ÊRRO”. Esse pensamento não é apenas uma dica, mas, uma valiosa lição de vida para todos nós, principalmente, aos senhores políticos.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 27/09/2020
7 Comentários
Uma pequena viagem pelo cenário político brasileiro. Vale uma boa reflexão, principalmente, para correção de rumo. Torço pela reforma política e que nela se estabeleça a candidatura independente. (Irecê-BA).
Belíssimo texto, amigo. (Irecê-BA).
CL, precisamos compartilhar esse texto. Parabéns! (Irecê-BA).
Felicitações pelo texto!
Na minha humilde compreensão, o PT, no que pese a sua inegável relevância histórica, principalmente por ter se transformado num partido de massa – o que sempre foi digno de aplausos – também, desde praticamente o seu surgimento, optou por caminhos, diria, mais particularistas, individualistas, arvorando-se, e nem sempre com fundamento, como único “porta-voz das classes trabalhadoras”. Visão míope da política, não raro, às vezes, até radical, inibidora de acordos e prejudicial aos entendimentos quando dos naturais processos e pleitos políticos. Radicalismos – sejam de esquerda, sejam de direita – inviabilizam o labor democrático! Vide 1964! Que os brizolistas e Prestistas me perdoem! Basta que estudem, sem prévios e rígidos escudos ou rudes parcialidades, que compreenderão!
Para além disso, com o passar do tempo e a efetivação no cenário nacional do seu grande líder, Lula, (em quem votei e que fez, no meu entendimento, no seu primeiro mandato presidencial, um bom governo!), a soberba do PT, especialmente de alguns de seus comandantes, aliada à triste realidade “da lambança com a lama”, contribuíram não apenas para a deserção de seus melhores quadros, inclusive de alguns de seus competentes parlamentares, como, também, para a descaracterização/desvio da sua linha político-ideológica-partidária. Pior: com postura semelhante deu o seu prejudicial contributo para a insana polarização política em que o Brasil infelizmente mergulhou, a partir, portanto, do binômio 2016/2018. São aquelas mesmíssimas soberba e miopia! Deu no que deu!
Penso – e creio que concorda comigo – que não há mais como se construir uma efetiva e livre democracia sem as legais e adequadas negociações (e não negociatas!) políticas; sem os maduros pactos (e não conluios!) e sem as cabíveis concessões (e não o famigerado toma lá dá cá!). Retomando 64, para ficar no mesmo exemplo relembrado, não temos, na política brasileira, mais quadros competentes e visionários como um San Tiago Dantas. (Salvador-BA).
Nos Brasileiros, temos memoria curta. Ainda bem que este nosso amigo e Escritor Agenor, observa e anota as coisas para lembrar aqueles eleitores esquecidos de sempre.
Natanael Ferreira de Souza – Licurí da Brahma
Excelentes informações, de forma concisa, prestadas pelo cronista. Nos fazem refletir sobre o multipartidarismo no Brasil. Que na minha opinião é ostensivamente exagerado. E eu apenas acrescentaria que isto ocorre pois enquanto vigorar uma lei de farta distribuição de verbas no período eleitoral para os partidos, continuaremos a ter esta miríade de candidatos apenas para usufruir da partilha dos valores. Sintomas de um patrimonialismo histórico. Uma parcela iníqua que a sociedade paga. FOZ DO IGUAÇU
Não sei se caberia, aqui, uma observação ou comentário, como sempre o faço. Mas, aprendi, não sei com quem, que “Político é como galo velho, só é duro enquanto não entra na panelinha.” Logo, permito-me dizer que político sério é uma possibilidade inalcançável, cerebrina. (Maceió-AL)