É recorrente a compreensão de que a democracia – de que tanto se fala -, pressupõe o direito inalienável do indivíduo de ter as suas posições pessoais e poder externá-las livremente. Não pode perder, contudo, o princípio de que a convivência em sociedade estabelece regras e limites a serem observados por cada pessoa ou pelo conjunto do grupo social. Observado esse conceito, é importante ter a noção de que ninguém precisa concordar para respeitar, e daí se conclui de que a “pluralidade é essencial para que tanto os seus direitos como os das outras pessoas sejam respeitados”. Tudo fica mais fácil e razoável no relacionamento quando há a convicção de que “a sua liberdade termina quando começa a do outro”.
A partir da observância desse fundamento, muitas das dificuldades nos embates políticos, principalmente, seriam superados pelo equilíbrio e racionalidade na colocação das ideias pessoais ou coletivas. É óbvio, contudo, que os questionamentos sempre existirão motivados pela reconhecida existência da ampla diversidade de pensamentos no universo político.
Por esse ângulo de visão, nada mais circunstancial do que a alternância de poder como consequência do eventual desejo de mudanças pelo eleitorado, como ocorreu em vários momentos da nossa história. Essas transformações tanto podem gerar alegrias como surpresas, desacertos e decepções, conforme o nível de aprovação por parte daqueles que votaram no eleito. O voto tem as suas características específicas, sendo uns por extrema fidelidade partidária, normalmente identificados como Lulistas, Petistas ou Bolsonaristas; outros, pela consciência da necessidade de que haja uma metamorfose no modelo de gestão, ou substituição da linha de pensamento político daquele que está no poder ou grupo eventualmente dominante.
Diante dessa situação, um determinado candidato se apresenta como a alternativa daquele pleito específico, favorecido por um conjunto de fatores, ainda que não represente o convencimento absoluto e pretendido pelos que o elegeram. Diria que nesse caso, enquadra-se perfeitamente o atual Presidente, que não tinha um currículo ou histórico capaz de impressionar e conduzi-lo a tão expressiva votação, como ocorreu. Ficou muito evidente, que a vitória foi favorecida pelo beneplácito de um eleitorado revoltado com o “status quo” a que a Nação foi conduzida, onde o poder era um foco vitalício com uma plataforma de corrupção super bem montada; que o digam as centenas de processos que tramitam nos Tribunais em todas as instâncias.
Assim, por parte de um razoável número de eleitores existe uma postura de independência e descompromisso pelo voto dado ao Presidente, mais por falta de uma melhor opção dentre os concorrentes ao cargo maior da Nação. Nota-se que esse tipo de eleitor permanece um observador atento, mas, convicto de que não se converteu em um Bolsonarista, verdade que não pode ser desprezada pelo grupo que lhe dá sustentação. Percebe-se, claramente, que nesse segmento ainda não desapareceu a confiança no governo, embora vigilantes na análise honesta e equilibrada dos seus atos e atitudes.
Mas, um fato de grande relevância e que vem causando muitas inquietações na sociedade em geral, é o incrível descontrole verbal do Presidente – e que já contagia Ministros -, ao se dirigir a Jornalistas com atitudes de descompostura, palavras de baixo calão, gestos impróprios jamais admitidos em outras pessoas quanto mais naquele que incorpora a elevada função de Presidente da República! O seu mal humor precisa ser melhor controlado, pois vem sendo responsável pelo crescimento dos ataques de toda ordem ao seu governo. O que fazem os Assessores da sua área de comunicação para que seja incorporada uma verdadeira imagem presidencial? Ou dizem amém a tudo?
Diria, sem medo de errar, que esse perfil agressivo do Presidente está gerando os motivos desejados por uma oposição que estava cadente e envergonhada, e que, de repente, se ver realimentada e fortalecida. Alguém da equipe precisa ter a sensatez e a coragem de alertá-lo, citando o pensamento do escritor francês Victor Hugo: “As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade”.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Aposentado do BB – de Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 01/03/2020
11 Comentários
Hoje acordei cedo, como sempre faço, e me dediquei a leitura da sua crônica, caprichosamente muito bem escrita, tamanha é a clareza da abordagem dos fatos e suas interpretações, sedimentando a minha certeza de que o Brasil é possuidor de homens pensantes e que trilham sobre a linha do equilíbrio e da sensatez. Mais uma vez, obrigado pela oportunidade de ver decodificada a situação por que passa nosso país, onde o antes representante do povo, deixou de ser, para representar exclusivamente os seus interesses pessoais – ressaltando o dizer do personagem JUSTO VERISSIMO: “O povo é que se exploda”. Parabéns Irmão. (Salvador-BA).
Sua crônica retrata a nossa visão sobre o atual momento político pátrio. É necessário, mais isto, é urgente que o Presidente da República, incorpore as responsabilidades do mais alto cargo da nação; controle os impulsos, deixando, desse modo, de fornecer combustível para os seus opositores, consoante o retrato que você descreve com precisão cirúrgica. (Irecê-BA).
Destempero ou defesa? Nunca nesse país um governo foi tão combalido por mídias não mais compradas, poderes independentes querendo a todo momento articulação com propinas e todos querendo a todo custo derrubar um governo democraticamente eleito, com um ano e três meses sem um único caso de corrupção e com avanços tão significativos. Temos um presidente temperamental sim mas fiel aos seus eleitores que também votaram nele por isso. Eu que estou de fora não aguento mais imagina vc acordar e saber que hoje querem seu governo? Me poupem com mimimis bem elaborados mas que não vão no cerne como por exemplo textos p destituir safados investidos nos poderes e a uma mídia terrível e nojenta. Ninguém aguenta mais isso.
Sobre o último episódio que nem apareceu o tal vídeo. Todo dia uma notícia cruel e mentirosa p derrubar seu governo. Isso é política ou tortura? A vantagem é que qto mais tentam desestabilizar o governo mas forte Bolsonaro fica, mas até quando? (Salvador-BA).
Ele firmou sua vitória a partir do episódio da facada. Já diz o ditado: PEIXE MORRE PELA BOCA… (Salvador-BA).
Agenor, sutileza da sua crônica, traz para reflexão e analise o momento difícil que o atravessamos em no nosso país, onde primeiramente falamos sem avaliar as questões e depois vamos analisar as consequências.
Seria proposital?
Existe aquele ditado popular que é: “quem diz o que quer, ouve o que não quer”.
Eu acrescentaria de “e deve aceitar as consequências que a sua fala provocou”.
Valeu Agenor. Muito boa sua colocação
Dizem que quando um não quer, dois não brigam. E este me parece o tema desta crônica conciliatória . No entanto, como leitor de diversos jornais do país, posso assegurar que existe uma campanha orquestrada por grande parte da imprensa contra o governo Bolsonaro. Onde notícias manipuladas, manchetes tendenciosas e jornalistas abertamente esquerdistas proliferam com agressões ao executivo. Com muitos que converso, afirmam que entendem o motivo de tanta agressividade como reação a esta situação. E concordam por isto configurar uma transparência de idéias, que revelam o que o atual governo pensa. E principalmente por entenderem termos um congresso reticente sobre as reformas e um STF com uma linha jurídica que destoa da percepção do cidadão comum. Aquele que é vítima da violência e do descaso político. O patrimonialismo , o absoluti smo e o clientelismo corporativo ainda imperam em grande parte no legislativo e em camadas do serviço público. Portanto, acredito que não se resolverá nada disto sem uma atitude mais ousada e determinada por parte do atual executivo. Para que o congresso, imprensa e STF entendam que as reformas são o reflexo do que pensa a grande maioria dos brasileiros, que optou por uma solução governamental contrária ao socialismo de várias décadas. Isto é democracia. A vontade da maioria. E não o que a minoria tenta manter. FOZ DO IGUAÇU
Brilhante crônica meu nobre; muito nobre, e nobilíssimo Menestrel do Vaza Barris. Como complemento ao oportuno título, leia abaixo o que diz este sábio pensador. Boa Noite! Bom comecinho de semana a todos.
Quanto mais a boca fala, menos o ouvido escuta. Aprenda a ficar quieto e ouvir e se possível, entender.
Compadre Agenor, parabéns pelo brilhante comentário. Precisamos de analistas assim como você. (Serrinha-BA).
Meu irmão, parecia até que eu estava tratando de seu texto no e-mail que lhe enviei o link do blog que li.
Você tratou a questão da “expansividade verbal” de nosso Presidente de forma maravilhosa.Parabéns, mano!
Achei essa crônica muito bem elaborada, isenta de paixão política ou de qualquer tendência. E mais uma vez concordo com você em gênero, número e grau. Valeu! (Salvador-BA).