Este artigo foi originalmente publicado em 14 de Junho de 2015 e, com leves adequações atuais, o editor optou em republicar, como “VALE A PENA LER DE NOVO”.
Se para os analistas e cientistas políticos está difícil digerir a grande variedade de acontecimentos do nosso mundo político-administrativo recente, imaginem os leitores, para o cidadão comum, cujas preocupações estão voltadas para a luta diária pela sobrevivência e a defesa incansável do seu grande patrimônio, a família!
Há particularidades na vida nacional que merecem considerações. Vivemos num país cujo sistema político é Presidencialista, conforme instituído na Constituição Federal. Mas, na prática, convivemos num Presidencialismo capenga com acentuada presença Parlamentarista nas decisões de governo, visto que a maior autoridade da República é submissa a pressões de toda ordem, principalmente dos interesses corporativos de grupamentos de políticos chamados de Partidos (uns altivos, outros nanicos).
Como se essa debilidade presidencial estivesse a merecer um coroamento definitivo, o atual porta-voz político do governo, representado na aparência impoluta, elegante e sisuda do seu Vice-Presidente da República, Michel Temer, fez brotar do seu mais profundo íntimo, e lançou para as manchetes do Brasil e do mundo, uma pérola da mais pura BLASFÊMIA UNIVERSAL ao comparar o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a Jesus Cristo! Somente uma inteligência adormecida pela inoperância do cargo que exerce em quatro anos e meio de mandato, com todo o respeito, e no ímpeto de produzir alguma frase de efeito que possa erguer a imagem pública decaída desse governo, para inspirar tão estúpida quanto infeliz comparação, independente de qualquer cunho religioso: “Ele tem de ser tratado como Cristo, que sofreu muito, foi crucificado, mas teve uma vitória extraordinária e que deixou um exemplo magnífico e extraordinário para todo o mundo… O ajuste fiscal que o Levy está levando adiante vai representar isso. Menos Judas e muito mais Cristo”, disse o vice-presidente. Pretendeu o Temer dar amplitude às palavras da presidente Dilma Rousseff, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, na qual ela diz que Levy “não poderia ser tratado como “Judas”. A emenda saiu pior que o soneto.
Combatido pelo próprio PT e partidos da base aliada, dos quais sofre desgaste e é alvo de críticas pelo arrocho fiscal, o ministro Levy “Cristo” (!) já fez o primeiro milagre: depois de não comparecer ao anuncio do corte de 69,9 bilhões de reais no Orçamento, aborrecido porque achou pouco, criou um NOVO PACOTE e a Presidente lançou com toda pompa esta semana, contendo novos investimentos do Governo Federal da ordem de 198 bilhões de reais, em parceria com recursos privados…! De repente, de onde surgiu tanto dinheiro? Milagre! Milagre! Talvez nem tanto. O montante parece alto, mas somente 35% ou 69,3 bilhões de reais, é o previsto para execução até 2018 (ano de eleição presidencial!).
Segundo o discurso da própria Presidente na solenidade, com isso o “governo virou a página da crise”. Ora, se foi tão fácil assim para superar tamanha inquietação e turbulência que o país passou a viver, torna-se evidente que estamos sendo novamente enganados por uma realidade maquiada. Como o Pacote apresenta um substancial número de privatizações de Rodovias, Ferrovias e Aeroportos, significa que a equipe econômica está fazendo uma boa e eficiente leitura da “Cartilha da Privataria Tucana”, aprendizado que se iniciou com a aceitação do Plano Real pelo governo petista.
Talvez com o intuito de desviar ou driblar a atenção concentrada no Poder Executivo, a Câmara dos Deputados resolveu comparecer ao noticiário nacional. Depois das grandes tempestades no campo parlamentar para a aprovação das MPs 664/2014 e 665/2015, eis que o Presidente Eduardo Cunha formou uma comitiva em torno de 10 parlamentares (e respectivas esposas) do PT, PMDB, PR, PP e PC do B, para acompanhá-lo a uma visita a Israel, Autoridade Palestina e Rússia. Embora a visita fosse oficial a um Fórum Parlamentar na Rússia, ficou claro que o Eduardo Cunha quis marcar território e por onde passou foi recebido como Chefe de Estado (ou pretendente?). Embora a imprensa não tenha, ainda, conseguido apurar quanto e quem custeou os gastos dessa farra, está mais do que óbvio que foi o bolso do contribuinte, através das verbas alocadas para o funcionamento do legislativo. Nada que um novo milagre não possa cobrir!!!
Como se pode ver, fazem um milagre com uma mão e gastam com as duas… será que isso é Ajuste Fiscal, mesmo? Ou esse Ajuste só é válido para o Povo?
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 09/08/2018