Até compreendo o quão é difícil para aqueles que têm posições um pouco ou muito radicais, em admitir posicionamentos contrários aos seus pensamentos políticos. Mas, para a convivência harmoniosa num regime democrático é preciso aprender a conviver com as divergências, e sem os confrontos irracionais. É incompreensível, e até mesmo incoerente, que tanto se reivindique o direito à liberdade e, contrariamente, alguém seja partidário de governos ditatoriais e absolutistas, sejam eles de esquerda ou de direita. Considerando que pelo menos na teoria a esquerda tem uma certa vocação para reclamar o exercício desse salutar direito democrático de poder se manifestar livremente, na prática, todavia, não é o que se tem testemunhado ao longo da história nos países onde o comunismo ou o socialismo imperaram, invariavelmente sob a tutela da violência, da repressão e da supressão dos direitos individuais. E quem não concorda, não diverge de mim e sim da história.
Igualmente é difícil de se conceber onde está a razoabilidade de um projeto político cujas ações se inspiram na violência exacerbada, onde uma militância de esquerda tem as suas ações marcadas pelo radicalismo que transcende os limites da ordem. Lutar pela conquista de direitos sociais pressupõe o respeito aos direitos de terceiros e aos limites da ordem e preceitos estabelecidos para essa mesma sociedade. O mérito dessa luta está na conquista legal das condições favoráveis ao desenvolvimento social do cidadão e no fortalecimento das instituições, e não no desrespeito desenfreado e na destruição descontrolada do patrimônio privado e público, como sempre acontece. Diga-se de passagem, sob o olhar beneplácito de uma maioria que deveria se levantar e reagir.
Geralmente nas manifestações públicas não se prioriza a força do argumento, mas, sim, o argumento da força. Daí é que o resultado de tudo isso encontra explicação nas consequências definidas na terceira lei de Newton, quando afirmou que: “Toda ação provoca uma reação de igual ou maior intensidade, mesma direção e em sentido contrário”. Melhor seria que se desse ouvido ao conselho deixado pelo Arcebispo Anglicano Desmond Tutu, grande baluarte nas lutas contra o apartheid na África do Sul: “NÃO LEVANTE A VOZ; MELHORE OS SEUS ARGUMENTOS”.
Em alguns países que tiveram a dominação do regime comunista ou a ascendência do pensamento político de esquerda, não houve qualquer contemporização com a influência de elementos democráticos em nenhuma dimensão. Um forte exemplo disso é Cuba, onde se estima que 8.190 cubanos perderam a vida, sendo que 5.775 foram fuzilados por se oporem ao ditador Fidel Castro, que exerceu o poder de 1959 a 2008, ou seja, por 49 anos! Como achou pouco o tempo, passou o governo para o irmão Raul Castro!
Em nações como a Rússia de hoje existe a prática do “regime híbrido”, em que a oposição é sufocada e não tem voz, o poder do Partido Comunista é único e as eleições são claramente manipuladas, servindo como um mero disfarce para o resto do mundo, visto que o Presidente se reelege sempre sem qualquer lisura no processo eleitoral. O Vladimir Putin se elegeu em 1999 e já vai no quarto mandato até 2024. Como é jovem, deve se eternizar no poder por muitos anos! A Venezuela está uma nação semidestruída pela sanha personalista do falecido Hugo Chávez, e agora pelo aprendiz de ditador, o arrogante afilhado Nicolás Maduro. Outros países latinos não são diferentes, onde disfarçam uma prática democrática como as eleições, mas vence sempre o partido autoritário dominante. Não pensem que as ditaduras de direita sejam diferentes, porque todos eles são cegados pela incontrolável sedução do poder.
Mas, todo esse enfoque serve para ilustrar o quanto é difícil implantar o regime e conviver com as práticas democráticas num país. De acordo com alguns filósofos e pensadores do século XVIII, “a democracia é o direito do povo de escolher e controlar o governo de uma nação”. É de se lamentar que no Brasil esse conceito de democracia é apenas relativo, uma vez que o povo até elege o governante, mas o controle da gestão fraudulenta e corrompida, passa a ser um sonho irrealizável! Daí a ilustração encerrar uma verdade: DIREITA → ESQUERDA → ESQUERDA → DIREITA → AO CENTRO VOLVER E NADA RESOLVER! E, como podemos ver, todos juntos e misturados por uma única causa: O PODER!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Aposentado do Banco do Brasil – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 08/07/2018
9 Comentários
Agenor, esta sua crônica provoca uma sensação de impotência diante do absurdo quadro político brasileiro. E ainda acrescentaria que temos uma “constituição” que apenas preconiza direitos, esquecendo que deveres são pré-condição para o estabelecimento de uma nação justa. Assim, ao ler este brilhante texto, sinto uma angústia pelo rol de candidatos não apresentar políticos que poderiam ser chamados de estadistas. Ao contrário, são oportunistas blindados por verbas públicas e interesses que dominam um estado que criou uma elite pública que apenas se interessa nos seus benefícios. E apoiada por aqueles que ficam no aguardo das migalhas de um estado ineficiente, corrupto e recheado de benefícios aos seus participantes. Estes, sim, os verdadeiros beneficiários desta verdadeira farra com os recursos públicos. FOZ DO IGUAÇU-PR
Brilhante colocação. Nós sempre queremos rigor no cumprimento da lei, para os outros. É como aquela história de que dois lusitanos conversavam e Joaquim perguntou a Manoel, “diga-me lá ô gajo, o que é esse tal de comunismo”? Ao que Manoel respondeu, “vou dar um exemplo: Eu tenho três fazendas, vem o comunismo e me obriga a te dar duas, não posso ficar com mais de uma”. “Que maravilha”, exclamou Joaquim, “então eu que tenho duas vc. me dá duas e eu fico com quatro? Que maravilha, que venha logo esse tal de comunismo”. O QUE É MUITO ENGRAÇADO NOS PAÍSES COMUNISTAS É QUE GOSTAM DE SE AUTOPROCLAMAREM democratas: REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DA ALEMANHA (POR EXEMPLO), que era o nome da Alemanha comunista. E o que lá não existia era justamente democracia. Em geral os países comunistas impedem a saída de seus habitantes para o exterior. E é tão bom o regime que os cidadãos colocam a própria vida em risco para fugir. De Cuba chegaram a fugir em prancha de surfe. Na Alemanha comunista (dita democrata) fizeram o muro (não era para impedir que os ocidentais lá entrassem, mas para evitar que os de dentro tentassem sair).
Realmente nesta crônica, está demonstrada a triste realidade da atual performance da política brasileira. Todavia, o exercício da atividade política do terceiro milênio exigirá maiores responsabilidades, mais dedicação e esforço por parte da administração pública. A democracia estará mais baseada nas fontes emanadas dos partidos, abrigando um número significativo de agentes competentes, banindo de suas estruturas os oportunistas que, como aves de rapina, voarão para um mundo desconhecido.
Por outro lado, a política continuará entonando seus cantos afinados, atraindo virtuosos e desonestos, mas o povo, sempre mais consciente de sua soberania, de sua cidadania, convicto da importância de ser livre, de conviver no estado de direito, com justiça, democracia e bem-estar social, usará o seu poder para entregá-lo nas mãos dos mais qualificados pelo valor pessoal, pelo seu caráter, liderança inabalável e assim teremos, aos poucos, um mundo melhor. Com a bênção de Deus, uma vez que o Papa João XXIII, AFIRMAVA EM SEU SERMÃO NO BRASIL, QUE DEUS É BRASILEIRO. (Manaus-AM).
Apreciei a leitura da sua crônica. Como sempre, clareza nas ideias, simplicidade e leveza na linguagem. No Brasil político, “CENTRO”, “DIREITA” e ‘ESQUERDA” (a ordem é meramente alfabética), vistos do ponto de vista ideológico, estão contaminados pelo nosso modelo de fazer política, nos níveis municipal, estadual e federal. Isto é: o exercício do poder visando a mantê-lo e porque não dizer, eternizá-lo. Com esse propósito, misturam-se os políticos e os partidos, conforme interesses pessoais. Citemos, como exemplo o atual postulante ao “ Palácio do Planalto”, o Sr. Ciro Gomes: primeiro o PDS Partido do pai, pelo qual se elegeu deputado estadual. Eleito, mudou-se para o PMDB, elegendo-se prefeito de Fortaleza. Ainda no cargo filiou-se ao PSDB tendo sido eleito governador do seu estado, o Ceará. Filiou-se, então ao PPS, disputando duas eleições para presidente nos anos de 1998 e 2002. Saiu do PPS para o PROS e agora, pelo PDT, aspira chegar à presidência da república. Nessa jornada, ele transitou por todas as ideologias a que você se refere.
É nosso anseio, assim como da maioria dos brasileiros, podermos eleger para cargos políticos, cidadãos probos, competentes, fiéis aos princípios éticos e morais e, acima de tudo, conscientes da escassez dos nossos para otimizá-los. Onde encontra-los?
Há imenso desperdício na máquina do governo, em todos os níveis. O judiciário é um “sumidouro” de recursos, a começar pelo número inexplicável de “instâncias”, com os chamados “palácios de justiça”, onde o que menos se faz é justiça, até as funções dos servidores, que vão dos que puxam as cadeiras dos ministros até os que lhes carregam os processos. Só no STF são 1.700 funcionários, o que dá 154 para cada ministro. (Salvador-BA).
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Agenor, veja se você consegue fazer uma crônica sobre este desembargador que tentou libertar o Lula. Descobriram que ele era do PT do RGS e foi nomeado por Lula. Acho que ele deveria ser preso também por querer fazer nós de bestas. (Camamú-BA).
Embora sejam todos, mas, esse artigo está muito bem feito. Verdadeiro pelo que vemos mundo afora e em nosso País! E o livro? (Camamú-BA).
De fato prefiro continuar com a direita, pelo ao menos não empatamos os outros, se é q me entende correto??? Claro q sim né Sr Agenor?
Os caras não desistem da mamata, não querem largar…
Já deveríamos estar em outra situação, mas sabe como é qui é !!! (São Paulo-SP).
Uma pena essa perda de tempo pra nada…
Parabéns pela crônica! (Maracás-BA).