Por mais que o brasileiro estimule cotidianamente os neurônios visando aperfeiçoar a sua capacidade de compreensão e tolerância, e assim superar os desânimos e fortalecer a crença na integridade das pessoas que se habilitam ao desempenho das funções públicas, sejam os eleitos ou aqueles nomeados para cargos comissionados na administração, multiplicam-se a todo momento os maus exemplos de que esses agentes públicos, com raras exceções, desvirtuam e desmoralizam a finalidade da função básica como prestadores de serviços. Há o que se pode chamar de inversão conceitual da missão que desempenham, porque, ao invés de usarem as instituições a serviço da população, via de regra se fartam de utilizá-las em benefício próprio. Provas disso estão aí aos borbotões, todos os dias, nos mais diversos meios de comunicação.
O mais grave de todas as mazelas que caracterizam o Setor Público, é o deturpado entendimento de que Ministérios, Autarquias, Estatais, Diretorias de Bancos oficiais, Secretarias, entre outros, são repartições públicas setorizadas e loteadas como propriedades dos partidos, e assim os governos atuam como meros instrumentos desses hipotéticos proprietários para a nomeação legal dos seus arautos. Essa é uma fragilidade inconcebível e um desvio inaceitável das nossas Instituições.
É comum se ouvir que tal Ministério ou Secretaria é do Partido X ou Y, e assim se tiver de substituir o ocupante do cargo por algum motivo, como, por exemplo, uma “leve” denúncia na Lava-Jato por desvio de alguns milhões de reais em obras por eles patrocinadas, por uma questão de zelo “MORAL” ele sairá do posto… Mas, como o cargo é do seu partido, quem irá substituí-lo? Outro nome integrante da mesma panelinha e da confiança do Partido! Parece um processo de hereditariedade familiar, que não pode ser interrompido! E quando há alguma contrariedade de interesses, a madeira deita e rola com falações de todo jeito, e de todos os lados contrariados.
Não posso crer que no primeiro mundo tal fórmula seja praticada, por mais engajamento partidário que exista, por uma questão eminentemente cultural. Essas regras parecem típicas do Terceiro Mundo e no Brasil, então, a submissão a esse princípio chega a ser histórica. Por exemplo, invariavelmente, na ordem de nomeação dos Ministros, o Ministério do Trabalho é sempre reservado ao PTB-Partido Trabalhista Brasileiro, como se estivessem ligados pelo DNA.
Tanto tudo isso é verdade, que o Governo do Michel Temer passou, recentemente, por um vexame dos mais humilhantes e inusitados que se tem conhecimento na História Política e Administrativa do Brasil…! Como entender que o Presidente de um Partido (PTB) indique para o Ministério do Trabalho o nome da própria filha, que é vetado por um Juiz de 1ª. Instância por conhecer que havia processo de natureza trabalhista contra a mesma, ato depois ratificado pela Presidente do STF. Depois de muita celeuma e paralização administrativa do Ministério, o partido opta por outro nome para substituí-la e esse, também, é denunciado na Lava-Jato, e assim a nomeação também não é consumada!
E pensa o leitor que o problema está resolvido? Ledo engano! Numa prova de que o lamaçal está mais para areia movediça e não um simples atoleiro, eis que é descoberto que um jovem de 19 anos de idade, sem formação ou competência para função de tamanha responsabilidade, está nomeado para cargo de confiança no tal Ministério do Trabalho, como Gestor Financeiro, com alçada para liberação de pagamentos de quase 500 milhões de reais! Nomeado por indicação de quem? Partido Trabalhista Brasileiro-PTB! Onde está a seriedade dessa gente? É de uma IRRESPONSABILIDADE tão grande, que nada disso parece ser verdade, ou nós, caros leitores, é que estamos vivendo um pesadelo!
Para completar esse cenário repleto de absurdos que somente envergonha a nação, um Ministro do Governo declara que pensa em se demitir temporariamente do cargo, apenas pelo tempo de reassumir a função de Deputado Federal, com a finalidade exclusiva de requerer o impeachment do Ministro Luiz Barroso, do STF! Qual o motivo de pretensão tão esdrúxula? Por estar o Ministro investigando as contas pessoais do presidente e assessores diretos! E aí, novamente voltamos à contrariedade de interesses!
Um dos pressupostos fundamentais da democracia é a consciência de que todo cidadão é livre e responsável pelos seus atos, cabendo-lhe arcar com as consequências de suas ações, seja o cidadão comum ou aquela autoridade investida de poder institucional. Assim, que esses irresponsáveis sejam punidos, exemplarmente, pelo quanto estão ABUSANDO DA LIBERDADE, da democracia e da boa vontade do Povo!
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 18/03/2018
9 Comentários
Excelente!!!
Parabéns mais uma vez! Fomos colegas de Banco…muitos anos… Nunca ouvi dizer nada que o desabonasse, muito pelo contrário. Lembro o quanto nós, funcionários do BB, éramos respeitados pela sociedade e lembrados sempre pelos integrantes da Justiça… tanto para sermos presidentes de urnas nas eleições, como jurados em júri… pela nobreza que sempre desempenhávamos nossas ações também na sociedade. É com muito pesar que hoje vemos até presidente do Banco acusado de maus feitos e condenado na justiça… bons tempos aqueles… difíceis de serem vividos de novo. Muita tristeza. (Salvador-BA).
Na crônica de hoje, estou de pleno acordo com o tema e forma de abordagem, em especial pelos exemplos de trapalhadas marcantes, referidas como exemplos. E aproveitando a “deixa”, que tal o ato do CONTRAN (ou seria CIRETRAN?), relacionado com a renovação da CNH?. Ainda bem que o Ministério das Cidades, neste caso – surpreendentemente – agiu rápido. Com efeito, fiz comentário a respeito deste ato polêmico, destinado à seção “Espaço do Leitor” do jornal A TARDE. Não sei se será publicado, mas escrevi. (Salvador-BA).
Realmente você tem razão quando detalha a verdadeira situação que os calhordas políticos vem transformando o nosso país em verdadeiro lamaçal de corrupção. A propósito, verificamos que o aperfeiçoamento democrático e a a sintonia do interesse público devem alcançar maior austeridade com o avanço sistemático da ciência política. Todos brasileiros que ao perceber que os governantes desonestos e aproveitadores estão sendo banidos da vida pública, à medida que o povo vier a tomar consciência de sua soberania, quando votar com consciência para mudar os rumos do nosso Brasil. (Manaus-AM).
Concordo plenamente com esse artigo, meu amigo! Até hoje não teve nenhum presidente para ter a coragem de nomear pessoas para cargos na esfera federal sem depender deles (partidos políticos), o que é uma vergonha, como diz o Boris. Mas muito bom o artigo! Parabéns!! Mais um… (Irecê-BA).
Mais uma BRILHANTE produção. (Nordestina-BA).
Concordo plenamente com o seu texto. (Salvador-BA).
Falou tudo e MAIS ALGUMA COISA. Brilhante texto que retrata a REPÚBLICA FEDERATIVA DA PICARETAGEM… (Nordestina-BA).
Felicito-lhe, uma vez mais, pela contundência e sapiência tão clara e incisivamente expostas nesta sua última crônica semanal.
Em sendo hoje o que, ainda muito jovem, me propus a ser – por livre gosto e modesta aptidão -, portanto um professor/pesquisador universitário, voltado, mais particularmente, para o campo investigativo da História e da Cultura, incomoda-me bastante, aos meus 55 anos razoavelmente bem vividos, o pessimismo que me tem visitado diuturnamente, sobretudo no que respeita às condutas políticas “recheadas” de incompetências e, mais absurdamente, pautadas por escusos e imediatistas interesses para com a chamada “coisa pública”, consignadas, portanto, por considerável contingente das nossas representações políticas. Mais do que nunca, os cargos gestores têm sido locupletados – este é o termo pertinente! – por quadros despreparados, alguns insustentáveis do ponto de vista moral, uma vez que oriundos invariavelmente dos rasteiros conchavos eleitoreiros e pela politicagem partidária, verdadeiramente maculados pelos seus atos e ações! Notadamente, a imoralidade tem se transformado em “normalidade” e a mentira tem encenado, sem quaisquer escrúpulos, a sua insidiosa tragédia nos palcos conturbados da política nacional.
A impressão que me tem invadido os sentimentos é a de que cada vez mais distante ou até mesmo desconhecido tem sido o caminho, o qual, tenho certeza, desejamos seja alentador, permeado de luz, correto, saudável, prazeroso, enfim um caminho que nos coloque, novamente, na direção da verdadeira rota democrática.
Mas sei que teremos de seguir em frente, “lutar a luta” e, com persistência, tal como os nossos inesquecíveis e resistentes irmãos conselheiristas, sertanejos de fibra e de fé, buscar, no recôndito ilibado das nossas almas, as forças imprescindíveis para essa rude e perigosa trajetória, cada qual se constituindo, na medida do que lhe for possível, num decidido, consciente e corajoso transeunte do bem. (Salvador-BA).