Quando alguém projeta uma viagem de férias fora do país, obviamente que alguns componentes inspiram esse desejo. Um primeiro fato motivador está circunscrito ao natural desejo de conhecer novas gentes, novas culturas e práticas de conduta que possam oferecer indicadores de vida dignos de serem assimilados, promovendo eventuais mudanças pessoais ou que possam influir na própria sociedade em que vive.
Outro detalhe que alimenta esse desejo pode estar restrito ao campo do sentimento de cansaço e decepção por tudo de ruim que vem acontecendo nos dias atuais com o nosso país. A carga de notícias negativas sobre crimes de conduta de autoridades que deveriam se respeitar e dar o exemplo, somente enoja e envergonha o cidadão que procura viver com um mínimo de decência. E são enormes as possibilidades de aprendizado e experiências enriquecidas durante essas viagens, que somente enobrecem àqueles que aproveitam e buscam essa fonte de conhecimento.
O leitor, contudo, deve estar questionando o que tem a ver os aspectos positivos contidos nessas preliminares com o título “LA PROPINA MEXICANA”, o que passo a explicar. Em princípio, é importante registar que a nossa recente visita para conhecer um pouco do México em companhia de um grupo de amigos baianos, foi muito rica e proveitosa quanto aos conhecimentos culturais absorvidos, principalmente pelo acesso aos valores da cultura deixada pela civilização Maia, que habitou a Península do Yucatán, Sul do atual México, região por nós visitada. Mas, ao lado desse patrimônio cultural histórico, um fato marcante da cultura mexicana moderna – pelo menos na região de Cancún – foi objeto de constantes questionamentos por parte de todos nós, justamente pela similaridade com algo bem familiar presente no nosso Brasil, embora aqui de características criminosas: A PROPINA.
Certamente que o brasileiro que lá visita – que já anda estarrecido em decorrência das chagas da propina criminosa que aqui impera e destrói a honra do país -, se surpreende pela forma tão incisiva e espontânea como eles falam da propina por lá. Para eles mexicanos tem um significado de complementação remuneratória, visto o reduzidíssimo pagamento que recebem por eventuais serviços prestados. São vários os exemplos gritantes, como o caso do garçom de um restaurante que nos revelou que recebe dois dólares por dia de serviço, ou seja, 48 dólares por mês, equivalente a 160,60 reais! Isso pode até parecer normal porque por aqui, também, muitos garçons vivem da gorjeta como principal renda. Mas, o que dizer de dois outros casos observados como os serviços de passeio turístico de VAN/MICRO-ÔNIBUS, e barco contratados a uma empresa, quando o guia já antecipa a informação de que no final do passeio circulará uma cestinha para a habitual propina! A prática está tão consagrada nos costumes mexicanos, que é perceptível a queda de qualidade no atendimento quando a propina não é depositada numa caixa ou vasilha exposta bem visível à frente dos visitantes. Numa das VANS que utilizamos, junto ao espelho retrovisor interno lá estava um cartaz chocante: OBRIGADO PELA PROPINA!
A histórica propina brasileira, que se sabe tem raízes desde os tempos coloniais, quando o ouro comprava títulos de nobreza e cargos públicos, ganhou uma dimensão tão fantástica e especializada, na atualidade, que evoluiu da sutileza das transações em Bancos de paraísos fiscais para a safadeza em ocupar apartamentos em bairros residenciais nobres da badaladíssima e carnavalesca Capital baiana.
A propina mexicana e a propina brasileira têm apenas uma analogia semântica quanto à troca de favores por um bom serviço. Mas, a brasileira enoja por surrupiar as verbas públicas e enriquecer os políticos pilantras em prejuízo da saúde, da educação, da segurança e dos programas sociais do país. Para esses vagabundos, a cadeia é pouco!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Salvador – BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 18/02/2018
10 Comentários
Realmente conhecer outras culturas possibilita um posicionamento mais amplo sobre nossa realidade, Agenor. E você nos trouxe esta sensação de forma bastante clara nesta crônica. E, embora eu conheça pouco do espanhol, sei que a palavra propina poderia ser traduzida como “gorjeta” para nós. E fico pensando que a humildade dos trabalhadores em muitos lugares depende deste adicional para complementar a renda. Mas, o que pensariam se comparassem a sua situação com a dos nossos políticos e muitos funcionários públicos? Que, pela quantidade de “propina” irregular, ou mesmo de adicionais como verba-paletó e bônus por “multas” aplicadas , parece que não estão nada satisfeitos com seus polpudos rendimentos. O exercício da política virou profissão regada a falcatrua no Brasil. Por isto que, infelizmente, pessoas de bem e honestas se afastam deste quadro. Estamos acuados pela gestão pública. Que se transformou em uma máquina ineficiente e corrupta.
Esse episódio que o seu grupo vivenciou, com certeza, os mexicanos copiaram dos EE.UU. Na época em que surgiu a moeda REAL, ela era comparada ao dólar americano, e, também resolvi fazer uma viagem com a minha esposa e conhecer alguns lugares como a DISNEY, incluindo no pacote turístico, uma viagem de navio até BAHAMAS. A minha surpresa foi ter que encarar a propina, pois, era um uso já consagrado nos passeios turísticos, inclusive, já era comunicado aos turistas que deveriam incluir no pagamento um percentual já definido antecipadamente.
Infelizmente, aqui no nosso País tornou-se um hábito que o transformou em verdadeiro lamaçal de corrupção que hoje envergonha os homens de bem, de bons costumes e princípios. Precisamos firmar convicções para banir esse conceito e praga que assolou o Brasil. (Manaus-AM).
Agenor parabéns pela crônica! Muito legal o insight sobre a propina brasileira e mexicana! Tão diferentes em propósito! (Companheiros de viagem – Salvador-BA).
Parabéns Agenor!! Nota 10. (Companheiro de viagem – Salvador-BA).
Caro Agenor, boa noite!
Parabéns!
Como num passe de magica e com a sua sutileza, você consegui passar com sutileza para os seus leitores (meu caso), um tema que, em principio anoja a todos, que é a maldita corrupção Brasileira.
Ao discorrer as comparações, tratando como “La propina Mexicana” ao invés de “corrupção” (apesar de ser a mesma coisa), você conseguiu dar uma leveza ao assunto, que me fez ler a crônica até o final, sem aquela irritação que me é peculiar, por compreender a analogia semântica quanto à troca de favores por um bom serviço.
Florisvaldo F dos Santos
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Boa tarde, companheiro de Viagem. Adorei a crônica. Parabéns pelo texto, fiquei encantada! Quero ter acessos a outras. Sua escrita tem uma linguagem que desperta vontade de ler mais. (Salvador-BA).
Infelizmente ou felizmente, alivia um pouco nossa culpa pela propina… não é só aqui correto? Aqui o bicho pega muito mais, é lógico.
Pois é, meu irmão foi para Cuba e em um pequeno percurso de avião, foi oferecido lanches feito pela mãe de um dos pilotos. O que fazer? Também não sei, só sei que fere bastante, mesmo eu não indo para outros lugares, a informação chega até nós. Bola prá frente, uma ótima semana. (São Paulo-SP).
Sensacional este texto.
Parabéns. Você conseguiu mostrar com muita sensatez a questão. Muito bom! (Companheiro de viagem – Salvador-BA).