Esta semana estou acometido por uma dúvida atroz: se dou uma folga ou não aos nossos políticos e a corrupção que o acompanha como uma inseparável amante apaixonada, para, então, derivar na direção de outro tema…! Ainda que o faça, abandonando-os como o tema central do artigo, acredito que, certamente, ao final concluirei que eles têm uma parcela de culpa nas consequências que marcam os fatos aqui analisados, e que estão ligados às fortes imagens da ilustração acima. E não é pouca a culpa!
Como os tempos mudaram, caro leitor! Faz bem recordar um tempo vivido em que a tecnologia avançada de hoje ainda dava os primeiros passos; quando as geladeiras eram à querosene; o rádio era à bateria Rayovac ou Eveready; o fogão era à lenha e o telefone pendurado na parede tinha uma manivela para produzir a chamada; quanta coisa mudou! Faz-me rir a lembrança de quando estive fazendo um curso na Itália em 1973 e, surpreso, via as pessoas com um grande aparelho telefônico nas mãos falando pelas ruas; era o Motorola Dynatac 8000X, que media 25 cm de comprimento, 7 cm de largura, pesava um quilo e a bateria só durava 20 minutos! O equivalente brasileiro foi aqui lançado em 1990, o Motorola PT-550, que muitos apelidaram de “tijolão”. Hoje, o celular adquiriu um aperfeiçoamento fantástico e tudo se faz através dele, até mesmo operações bancárias!
Mas, o tema de hoje não é falar do avanço tecnológico, mas recordar que houve mudanças desastrosas no conjunto das coisas que envolvem a vida da nossa sociedade. Quero me referir, em especial, ao tempo em que o aluno RESPEITAVA quase chegando à veneração aos seus Professores, diferentemente do retrocesso que atingiu a Educação nos dias atuais, principalmente na forma aviltante, brutal e até criminosa como os nossos Professores passaram a ser tratados. É chocante a imagem acima do estado em que ficou o rosto dessa Professora Márcia Friggi, agredida dentro de uma escola em Indaial-SC, de maneira covarde por um aluno adolescente de 15 anos. Vejam o desenrolar do vergonhoso episódio:
“Estou dilacerada. Aconteceu assim: Ele estava com o livro sobre as pernas e eu pedi:
– Coloque seu livro sobre a mesa, por favor.
– Eu coloco o livro onde eu bem quiser.
– As coisas não são assim.
– Ahhh, vai se f…
– Retire-se por favor.
Na direção eu contei o que tinha acontecido. Ele retrucou que menti. […] Ele, um menino forte de 15 anos, começou a me agredir. Foi muito rápido, não tive tempo ou possibilidade de defesa. Estou dilacerada por ter sido agredida fisicamente. […] Estou dilacerada porque me sinto em desamparo, como estão desamparados todos os professores brasileiros”. E ela disse mais uma verdade: “Esta é a geração de cristal: de quem não se pode cobrar nada, que não tem noção de nada”.
Em Ceilândia, no Distrito Federal, a Professora Edielza Figueiredo, grávida de 8 meses, foi agredida por um aluno de 16 anos, que arremessou uma mesa escolar sobre a sua barriga. No último dia 06/12, em Teresina-PI, as televisões exibiram as imagens de uma aluna ensandecida agredindo a Professora/Diretora da escola.
Pesquisa realizada em 2013, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organismo da ONU, registra que 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou de intimidação de alunos pelo menos uma vez POR SEMANA. Trata-se do índice mais alto entre os 34 países pesquisados – a média entre eles é de 3,4%. Depois do Brasil, vem a Estônia, com 11%, e a Austrália com 9,7%. Na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice é zero. É deplorável, mas ocupamos o primeiro lugar no ranking mundial da violência contra o professor!
Afirmo que somente através da Educação e da valorização da família esse país poderá recompor o seu destino. Daí que, impõe-se um comprometimento responsável da classe política, seja na elaboração das leis de proteção e valorização dessa honrada classe de educadores, seja no investir mais nos programas de fortalecimento da Educação. Menos corrupção e desvios da verba pública – e aí está a maior culpa deles!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade -10/12/2017
13 Comentários
Caro Agenor, bom dia!
Excelente esta sua crônica que é atual e mostra a nossa dura e crua realidade, editorial do Blog do Florisvaldo deste domingo. https://www.portaldenoticias.net/ffsantos/editorial-ano-i-numero-49-a-geracao-de-cristal/
Sempre defendi a tese que o ECA é excelente, mais comete excessos imperdoáveis, quando permite que os pais façam terceirização da educação dos seus filhos.
Sou de opinião que a educação venha de casa e aos professores cabe reforçar esse ensino, mostrando aos alunos os “direitos e deveres” perante a escola e à família. O professor está na escola para passar e obter troca de conhecimentos com a relação a educador x educando e não para passar a educação que eles deveriam ter no seio familiar.
Florisvaldo F dois Santos
Pingback: EDITORIAL ANO I NUMERO 49 – “A GERAÇÃO DE CRISTAL”. | Blog do Deusimar
Em pensar que durante 4 anos em Três Rios e alguns outros em Irecê, tive o privilégio de ser professor de ginásio e nunca, mas nunca mesmo ser molestado por nenhum aluno, antes pelo contrário, muitíssimo respeitado mesmo sem ter feito curso de magistério, assistir hoje, depois de tanta evolução tecnológica, como você muito bem colocou, a tantos absurdos no relacionamento aluno x professor. A autoridade na sala de aula hoje é o aluno! Absurdo dos absurdos, quando o professor sempre desempenhou o papel de auxiliar na educação do homem para a sociedade. Há uma publicação muito feliz do professor Mário Cortella sobre esse assunto. Parabéns amigo Agenor por mais essas grandes verdades escritas por você. (Entre Rios-RJ).
Realmente você tem absoluta razão em confirmar que os políticos, em sua grande maioria, além de corruptos são literalmente responsáveis pelos desmandos e desordens que vem propiciando o crescimento de agressões aos honrados professores, em especial, da rede pública. Sem frisar que são verdadeiros heróis, porque além dos parcos salários, muitos sem recebê-los como é o caso do Rio de Janeiro-RJ em todos os níveis.
Quando deveriam receber um justo salário e treinamento constante em níveis superiores para tornar o ensino do primário ao nível superior com qualidade indiscutível, no âmbito nacional e internacional, e, punindo os pais dos agressores menores com pesadas multas e trabalhos sociais com o objetivo de eliminar de uma vez por todas, esses gestos violentos e indesejáveis. (Manaus-AM).
Agenor, meus parabéns pela objetividade da crônica. Você, realmente, conseguiu abordar um dos temas mais reais hoje em dia. Urge providências no sentido de eliminar essas distorções no seio das famílias com reflexo nas práticas docentes. (Salvador-BA).
Também não podemos delegar a educação de nossos filhos somente aos educadores. Hoje muitos pais fazem isso, e criam esses seres sem limite, de índole ruim, covardes. Educação vem de casa, vem do exemplo, vem do limite dado, coisas que todos esses jovens citados no texto nunca tiveram. Uma pena termos nos dias atuais pessoas tão ruins a esse ponto. Minha mensagem vai aos pais, que se omitem em educar, porque não tem tempo, porque estão trabalhando o dia todo e quando chegam em casa, ficam nos celulares e computadores, como se não tivessem chegado, sem saber como foi o dia do filho, o que ele fez, o que comeu, com quem anda, se foi à escola?! Desses pais, nascem esses seres estúpidos, como os citados acima. (Salvador-BA).
O tema hoje abordado na sua crônica é mais que oportuno. Sou da geração que (alvo de destaque no seu trabalho), via o professor como um misto de ídolo e sagrado e, como tal, intocável porem admirado e tido como referência. Nós o respeitávamos, às vezes, até mais que nossos pais e o padre da paróquia, este, aqui lembrado devido ao caráter sacrossanto de que se revestia o desempenho dos referidos religiosos. Mas, vou discordar, parcialmente, do seu ponto de vista quanto a responsabilidade pelo embrutecimento da atual geração de estudantes no Brasil, tendo como suas vítimas preferidas os professores, quando não os próprios companheiros de estudos, a exemplo do lamentável recente episódio de um desses moleques haver assassinado colegas a tiros. Sou de opinião que a responsabilidade maior tem origem no lar, haja vista muitos exemplos de pais e mães que, não só apoiam as atrocidades de seus filhos como até ingressam na justiça na busca de punição do mestre e, até, de indenização por danos emocionais e morais. Um acinte absolutamente irresponsável e criminoso.
O meu ponto de vista não invalida a considerável parcela de culpa do poder público -leia-se políticos- responsável pela má qualidade atual do ensino no país, em que se apoia mais uma de suas admiráveis crônicas semanais. Parabéns pelo escrito.
Com que bagagem esses vândalos pretendem ingressar na vida profissional? Que fazem seus pais ou “criadores”? (Salvador-BA).
Triste e lamentável nos dias de hoje o que acontecem nas escolas públicas, amigo Agenor Santos, companheiro amigo de longas datas. Assino embaixo da sua matéria endossando todas as suas palavras sem tirar uma vírgula!!! (Barra do Mendes-BA).
Mil vezes lamentáveis esses acontecimentos cada dia mais frequentes em nosso país! Concordo com Mariana que os maiores culpados são os pais ausentes na vida dessas crianças e adolescentes. Se não houver mudanças urgentes em punições aos autores e seus corresponsáveis, vai chegar o tempo em que nossas crianças terão aulas online, por vídeos, sem mais haver a convivência diária com seus colegas e mestres educadores. Meus pais me ensinaram que o mesmo respeito e obediência que tenho por eles, devo ter também pelos meus professores. (Salvador-BA).
Excelente tema, Agenor. E você descreveu muito bem os acontecimentos e as consequências. E podemos entender que esta falta de respeito parece que surgiu a partir do momento que começou a se falar em “direitos”. E nesta concepção parece que deveres e respeito deixaram de existir. A sociedade caminha para uma estranha reformulação de conceitos provocada por alguns grupos. E os que querem evitar isto são chamados “conservadores”. O impasse está formulado. O embate já é uma realidade. FOZ DO IGUAÇU-PR
Também não podemos delegar a educação de nossos filhos somente aos educadores. Hoje muitos pais fazem isso, e criam esses seres sem limite, de índole ruim, covardes. Educação vem de casa, vem do exemplo, vem do limite dado, coisas que todos esses jovens citados no texto nunca tiveram. Uma pena termos nos dias atuais pessoas tão ruins a esse ponto. Minha mensagem vai aos pais, que se omitem em educar, porque não tem tempo, porque estão trabalhando o dia todo e quando chegam em casa, ficam nos celulares e computadores, como se não tivessem chegado, sem saber como foi o dia do filho, o que ele fez, o que comeu, com quem anda, se foi à escola?! Desses pais, nascem esses seres estúpidos, como os citados acima. (Salvador-BA).
Parabéns, Professor Agenor! (Central-BA).