Muito se tem dito que a corrupção, o nepotismo e o “jeitinho brasileiro´ não são invenções recentes no Brasil, mas que vem desde os primórdios do nosso descobrimento – afirmativa que corroboro plenamente -, mesmo porque há registros históricos de que na frota do nosso Descobridor Pedro Álvares Cabral veio o ilustre Escrivão Pero Vaz de Caminha, que não só cuidava do diário de bordo, onde registrava as descobertas que iam acontecendo, mas, zelosamente, numa das cartas ao Rei Dom Manuel interferiu para que libertasse da prisão o seu genro, condenado ao degredo na Ilha de São Tomé, por roubar uma igreja e ferir o padre. Ou seja, desde aquela época um certo Sr. Caminha já não caminhava pelos bons caminhos…!
Vejam o trecho final da carta, no qual o cronista faz o seu pedido carregado de adulação ao Rei: “E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida (…bajulador nato!), a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro, o que d’Ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 1º dia de maio de 1500”. Há versões que dizem ter sido um pedido de emprego para o genro, no que seria o começo do nepotismo! Sendo verdadeira a versão do preso, aí teve início o “jeitinho brasileiro”, hoje usado com muita frequência, só que a alçada agora transferida aos nossos Supremos Tribunais, e outros tais.
O Pero Vaz deixou um legado tão bem assimilado pelas gerações futuras, que os lambe-botas de hoje aperfeiçoaram o hábito de tal forma que um Deputado Federal se predispõe ao ridículo papel de “menino de recado” do Rei e, vergonhosamente, se disponibilizou para ir a uma pizzaria receber uma mala com 500 mil reais de propina, correndo desconfiado para fugir dos olhares e sem saber que estava sendo filmado, propositalmente. E assim, caiu na isca e na lama, oxalá não seja para sempre. É de causar desprezo a humilhante imagem desse parlamentar baba-ovo fugindo com a mala do crime! Que exemplo indigno para a nossa sociedade! Prisão… é pouco!
Não obstante o véu de desonra que cobre o Brasil do presente, quando os atos de improbidade adquiriram especial refinamento, e fomos classificados pela Transparência Internacional, em Berlim, Alemanha, como um dos países mais corruptos do mundo, aqui ou acolá surge um exemplo isolado de dignidade, com um firme indicador de que a esperança de salvação deste país só poderá ser alcançada através da EDUCAÇÃO!
Refiro-me ao emocionante exemplo de grandeza demonstrado por uma criança de 8 anos de idade, a RIVÂNIA, vítima da enchente no município de São José da Coroa Grande-PE, cuja tragédia levou todos os bens materiais da família. Antes de embarcar na balsa que salvaria a neta e a avó, esta pediu à neta que fosse dentro da casa pegar apenas o essencial. Mas, para a surpresa da avó e de todo esse Brasil que teve acesso a esse valoroso exemplo, a menina foi e voltou veloz trazendo apenas a sua mochila contendo os seus livros escolares, a qual abraçava com muito carinho (vide fotos)!
Tamanho exemplo deveria causar vergonha aos nossos políticos e administradores, que tudo fazem para desviar verbas da Educação, enquanto essa garotinha passa a todos um recado sublime e de grande impacto, sugerindo que nos seus livros escolares estavam depositadas a confiança e a certeza da superação diante da tragédia, e a perspectiva de uma vida melhor, que certamente terá!
De todos esses bilhões de reais desviados para a suja propina, se 10% fosse aplicado na melhor remuneração dos profissionais do ensino, na melhor estruturação das escolas precárias hoje existentes pelo interior e no reforço da Merenda Escolar – para muitas crianças o único alimento que dispõem no dia -, com certeza estaria sendo construído um Brasil de melhor índole para o futuro!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 18/06/2017
6 Comentários
Caro Agenor, bom dia!
Mais uma vez, você foi ao cerne da questão, quando disse que “Um certo Senhor Caminha já não caminhava pelos bons caminhos”.
Nota-se que estes caminhos se tornaram atalhos que são utilizados desde os primórdios do nosso descobrimento, até os dias de hoje por aqueles, que na teoria, foram eleitos para representar uma nação.
Por tudo isto, fica claro que essas pessoas já mais terão em mente o exemplo de grandeza demonstrado pela criança Rivânia, pelo qual só temos a lamentar.
Hoje, vejo uma luz no final do túnel e ainda sonho com dias melhores para as próximas gerações, com o cuidado para que esta luz, e, que os meus sonhos não sejam de um trem que pode vir na contramão.
Abraço,
Florisvaldo F dos Santos
Consultor de seguros e Benefícios
Agenor, esta relação que você efetuou entre a corrupção histórica e a esperança gerada pelo ato de uma criança oriunda de uma família humilde nos traz uma mistura de esperança e revolta.Pois podemos ter uma nova geração de brasileiros com conduta sadia e responsável, mas ainda teremos gerações de beneficiados com o desvio e a roubalheira (palavra forte, mas adequada) política. Esta crônica nos conduz a uma rebelião contra este sistema. Mas você nos mostrou a única porta: a educação.FOZ DO IGUAÇU-PR.
Realmente o comportamento e atitude dessa menina sofrida, foi a busca e salvação dos seus livros e pertences escolares, o que revela, indiscutivelmente, que esse gesto espontâneo vale mais do que mil palavras. O recado dado por essa jovem, indica também que o indicativo para superação desse cenário lúgubre que estamos vivenciando no Brasil, será indubitavelmente a atenção URGENTE, URGENTISSIMAMENTE, A EDUCAÇÃO PARA TODOS. O exemplo maldito deverá ser sepultado para sempre (Manaus-AM).
Bacana Agenor, parabéns!!!
Oportuna e, como sempre, bem escrita.
Concordo com você, só investindo na educação teremos uma geração mais consciente e responsável pelo desenvolvimento do país. Exemplo lindo de uma menina num momento de tanta tristeza por causa da enchente !