O primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República para as eleições de 2018 aconteceu na noite desta quarta-feira, na TV Bandeirantes. Oito presidenciáveis participaram do debate na Band: Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos (PSOL), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin (PSDB).
Líder nas pesquisas eleitorais, o ex-presidente Lula (PT) foi proibido pela Justiça de participar do debate. Candidato a vice-presidente, o também petista Fernando Haddad também pediu para estar presente, mas acabou tendo seu pedido negado pela produção da Band.
Os candidatos Jair Bolsonaro e Guilherme Boulos se estranharam por duas vezes durante o evento, que também teve trocas de farpa entre Geraldo Alckmin e Marina Silva e Alvaro Dias Henrique Meirelles.
Todos os candidatos adotaram uma estratégia semelhante, se apresentando, de uma maneira ou de outra, como “o novo”. O ex-ministro da Fazenda da Michel Temer, Henrique Meirelles disse que não é um político tradicional, mesmo discurso adotado por Cabo Daciolo. Os demais candidatos, com anos de vida pública, se apresentaram como oposição aos últimos governos e prometeram muitas reformas.
Regras do debate
O debate na Band contou com cinco blocos. No primeiro, candidatos escolhidos por sorteio responderam a uma mesma pergunta formulada por jornalistas. Na sequência, os candidatos fizeram perguntas entre si, obedecendo ao limite de três questionamentos por candidato e à ordem do sorteio.
Nos blocos dois e quatro, jornalistas da Band escolheram os candidatos a quem querem fazer perguntas. Nesse estágio, todos os candidatos foram questionados, tendo direito à réplica e tréplica.
No terceiro bloco, candidato perguntou para candidato, seguindo uma ordem definida em sorteio. Cada um pode ser questionado até duas vezes, em perguntas formuladas em até 30 segundos. As respostas tiveram tempo máximo de 2 minutos, e as réplicas e tréplicas, 45 segundos.
Debate começa com fuga de perguntas e troca de farpas
A primeira pergunta feita pelo apresentador Ricardo Boechat foi sobre como resolver o problema do desemprego no Brasil. O primeiro a responder foi Alvaro Dias, que perdeu tempo de apresentando e não respondeu o questionamento. Cabo Daciolo também desperdiçou seu tempo ao tentar atacar os sete adversários de uma só vez.
Geraldo Alckmin falou em trazer capital estrangeiro para o Brasil. “O Brasil precisa de investimento para crescer”, disse o tucano, que prometeu diminuir as despesas do Estado. Marina Silva também preferiu criticar os adversários, mas falou em recuperar a credibilidade internacional do País.
Jair Bolsonaro falou em diminuir a regulamentação e a burocracia do Estado. “Os empresários tem dito pra mim que os trabalhadores vão ter que decidir entre menos direitos e mais emprego ou mais direitos e nenhum emprego”, disse o deputado. Guilherme Boulos falou que a melhor saída para criação de empregas seria taxar mais os mais ricos.
Ciro Gomes disse que pretende aumentar o poder de compra dos brasileiros para incentivar a economia. “Vou limpar o nome dos brasileiros no SPC”, prometeu. Já Henrique Meirelles exaltou seu próprio trabalho como ministro da Fazenda do governo Temer, dizendo que o Brasil já está no caminho do crescimento.
Depois, os candidatos tiveram uma rodada de perguntas uns para os outros. A rodada já começou com troca de acusações entre Boulos e Bolsonaro. O candidato do Psol iniciou sua pergunta chamando o deputado de “racista e homofóbico” e questionou sobre uma suposta funcionária fantasma do candidato do PSL. Bolsonaro foi irônico em sua resposta: “Achei que iriamos falar dos problemas da política nacional”, disse o deputado, que ainda contra-atacou: “Imoral é que você faz, invadindo os imóveis dos outros”.
Em seguida, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin foi alvo de duas perguntas. Primeiro, ele defendeu a reforma trabalhista ao ser questionado por Ciro Gomes, mas prometeu algumas alterações no texto. Ciro discordou e chamou a reforma feita pelo governo Temer de “selvageria”. Depois, debateu com Cabo Daciolo sobre como abaixar as taxas bancárias.
Questionado por Alvaro Dias sobre salários diferentes entre homens e mulheres, Bolsonaro disse que não pretende interferir nas empresas privadas, mas adotou um discurso mais ameno. “Elas estão passando em cada vez mais concursos públicos e ganhando espaço nas empresas. Elas na verdade são melhores que nós”, afirmou.
Alckmin e Marina Silva debateram sobre saúde pública, com o tucano prometendo investir pesado no saneamento básico e a candidata da REDE diz que pretende reformar o Sistema Básico de Saúde (SUS). Bolsonaro questionou Alvaro Dias sobre o BNDES e ambos candidatos concordaram em fazer uma reforma no banco.
Marina e Alckmin voltaram a se enfrentar, quando a candidata questionou o acordo no ex-governador de São Paulo com o “centrão”. O tucano respondeu que pretende ter governabilidade se chegar ao Planalto. Marina rebateu, dizendo que o candidato faz o jogo de poder da velha política. “Essas alianças são para manter o poder”, disse.
Na pergunta final do bloco, Henrique Meirelles questionou Alvaro Dias sobre o “fracasso econômico” do governo anterior. O senador ironizou: “O senhor, que estava lá como presidente do Banco Central, é que deveria me responder”.
Jornalistas questionam candidatos no debate
No segundo bloco, os candidatos foram submetidos a perguntas dos jornalistas do Grupo Bandeirantes. Questionada sobre o déficit econômico, Marina Silva criticou a PEC dos gastos públicos promovida pelo governo de Michel Temer. Ex-ministro da Fazenda de Temer, Meirelles criticou o comentário da adversária e atribuiu a crise aos “gastos excessivos” do governo de Dilma Rousseff.
Na pauta de segurança pública, Geraldo Alckmin defendeu combater o crime organizado, principalmente nas fronteiras, enquanto Bolsonaro falou sobre armar o cidadão comum. Depois, foi a vez de Ciro Gomes falar sobre as reforma trabalhista e da Previdência. O pedetista falou que pretende revogar a reforma trabalhista, apenas modernizando as leis anteriores e propôs um “novo modelo de Previdência Social”.
O bloco ainda contou com uma pergunta sobre a legalização do aborto. Guilherme Boulos defendeu a descriminalização, enquanto Marina Silva propôs um plebiscito para discutir o tema. Sem perceber a ironia da situação, o psolista levantou a voz e disse para a candidata da REDE que o tema “deveria ser discutido pelas mulheres”.
Questionado sobre educação, Bolsonaro propôs militarizar as escolas do Brasil, citando o sucesso de alunos de escolas militares. Ciro Gomes citou o sucesso de um projeto implementado em seu governo nas escolas públicas do Ceará. “Não precisamos colocar a lei do ‘chicote brabo’ dentro das escolas. Precisamos substituir o ‘decoreba’ por ensinar o aluno a pensar, aumentando os investimentos públicos”.
Terceiro bloco do debate tem discussão de políticas públicas
O terceiro bloco voltou a ter os candidatos fazendo perguntas uns para os outros. Geraldo Alckmin foi questionado pelos adversários logo nas duas primeiras rodadas. Primeiro, Alvaro Dias falou sobre a Operação Lava Jato e o tucano prometeu mantê-las e ainda prometeu uma reforma. “Precisamos acabar com o crime do colarinho branco, e para isso precisamos de uma reforma política”, disse. Na réplica, o ex-governador paranaense questionou. “Onde estava Alckmin quando nosso povo era assaltado”?
Depois, foi a vez de Henrique Meirelles questionar o tucano, desta vez sobre o programa Bolsa Família. O ex-governador de São Paulo disse que pretende manter o programa e lembrou que a origem do Bolsa Família veio da junção de outros programas do governo de FHC.
Quando foi sua vez de perguntar, o tucano voltou a debater com Marina Silva. O tema, dessa vez, foi educação: “Nossa proposta é alfabetizar todas as crianças brasileiras antes dos 7 anos de idade”, disse a ex-ministra do meio ambiente.
A candidata da REDE foi a próxima a perguntar. Seu alvo foi Ciro Gomes e o tema foi a questão ambiental. Ciro parabenizou a adversário pelo seu trabalho como ministra e falou que a revitalização do Rio São Francisco será uma prioridade. Marina concordou com o pededista.
Na pergunta final do bloco, Ciro questionou Bolsonaro sobre como auxiliar os brasileiros que estão com o nome sujo no SPC. O deputado fugiu da pergunta. “Tem muito bandido com o nome no SPC. Como tirar esse pessoal do SPC? Quero que o senhor me diga. Não dá pra fazer isso com uma canetada”, disse. Ciro voltou a dizer que pretende financiar essas dívidas.
Novas tensões marcam o debate
No quarto bloco, os candidatos voltaram a responder perguntas feitos por jornalistas da casa. Primeiro, Cabo Daciolo e Meirelles responderam sobre como agiriam em situações semelhantes a da greve dos caminhoneiros. Enquanto o candidato do Podemos apoiou as greves e disse que atenderia as demandas dos caminhoneiros, o ex-ministro da Fazenda foi mais duro. “O Brasil não pode ficar prisioneiro de certas classes. Os caminhoneiros paralisaram as estradas e a economia”, disse.
Questionados sobre o aumento de salário dos ministros do STF, Ciro Gomes e Alvaro Dias concordaram. Enquanto o pedetista atacou os privilégios como o auxilio moradia, o ex-governador do Paraná disse que, por conta da crise, o aumento é inadmissível.
Marina Silva e Jair Bolsonaro foram questionados sobre como tornar os produtos brasileiros mais competitivos no mercado através da logística e infraestrutura. A ex-ministra falou que o investimento em educação e tecnologia é fundamental, além disso, ela disse que pretende fazer um crescimento sustentável. O candidato do PSL, por sua vez, prometeu acabar com que chamou de “indústria da multa” e rever o preço dos pedágios.
Geraldo Alckmin e Marina Silva responderam sobre como seriam os critérios para demissão e afastamento de funcionários envolvidos em esquema de corrupção. Alckmin disse que pretende reunir “os melhores quadros” tanto dos partidos quanto da sociedade. Marina alfinetou o adversário, relembrando as alianças do tucano com os partidos do centrão. O ex-governador de São Paulo respondeu, relembrando que Marina já foi filiada ao PT.
Bolsonaro e Guilherme Boulos voltaram a se estranhar em pergunta sobre privilégios. Quando o psolista disse que o adversário teria sido expulso do exército por fazer uma ameaça de bombardeio, o deputado pediu direito de resposta, concedido pela banca. “Nunca pus bomba em lugar nenhum. E ainda sou capitão do Exército com muito orgulho”, disse Bolsonaro, que ainda acusou a ex-presidente Dilma Rousseff de atos terroristas na época da ditadura militar. Boulos também pediu direito de resposta, mas acabou tendo sua solicitação negada.
Boulos também participou da pergunta seguinte e dessa vez atacou Geraldo Alckmin após o tucano prometer uma reforma tributária com taxação de lucros dos empresários. “Alckmin falar que vai taxar as empresas é a mesma coisa que o Meirelles falar que não é banqueiro”, disse.
O bloco seguiu quente, e quando Ciro Gomes e Henrique Meirelles debatiam sobre tratamento de doenças graves, o pedetista comentou que Bolsonaro teria aprovado uma nova “droga” para o tratamento do câncer. O deputado se alterou, e tentou responder Ciro, mas estava com o microfone desligado. Bolsonaro pediu direito de resposta, mas teve a solicitação negada. Alterado, o candidato seguiu falando alto, mas foi acalmado por apresentador da Band.
No bloco final do debate, os candidatos fizeram suas considerações finais. Ciro voltou a falar no combate dos privilégios, Boulos disse que quer renovar a política do Brasil, enquanto Marina se autodefiniu como uma “exceção” na política. Bolsonaro falou que quer acabar com o “comunismo e o socialismo” no Brasil. Alvaro Dias exaltou a Lava Jato e relembrou seu trabalho como governador do Paraná. Cabo Daciolo falou que pretende governar com Deus, Geraldo Alckmin falou que pretende “tirar as coisas do papel” e também lembrou seu trabalho no governo de São Paulo e Henrique Meirelles disse que quer continuar o trabalho que fez no governo Temer.
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 10/08/2018