Maio nos chega friorento. A serra se reveste toda de um verde-musgo, e borboletas amarelas já visitam pequenas flores caatingueiras. Maio nos chega calmo, mariano, doce como o seio das mães, esperançoso como as noivas. Buquês de laranjeira, asas de anjo feita de papel crepom, e a adoração à Maria em pequenas capelinhas desbotadas do interior, em que, na infância, eu também ofertava flores roubadas de jardins particulares. Mas quem disse que jardins são particulares? Para borboletas, plantas trepadeiras que adentram outros quintais, e para as crianças, não os são. Maio, mês de Maria, das mães, das noivas… Mês de São José Carpinteiro, padroeiro dos trabalhadores. Maio me é o mês mais doce, mais poético, por sua simbologia, por todas as minhas memórias vividas nesse mês de quando ainda eu guardava uma certa inocência no olhar, no coração, na alma. Em maio, há de se lembrar do dia fatídico em Chicago – Revolta de Haimarcet, em que foi constituído depois desse episódio, o Dia Internacional do Trabalho. Em maio houve a Revolução de Maio de 1810, pela independência das colônias da região do Sul, da América do Sul, na Argentina – Praça de Maio.
Em maio eu revisito um menino que não tinha flores de crepom para o ofertório dominical, na missa.
Maio me é sentido como a lembrança de uma alvorada na véspera dos dias das mães, quando músicos do interior nos acordavam com fogos, cantando:
“Ela é a dona de tudo
Ela é a rainha do lar
Ela vale mais para mim
Que o céu, que a terra, que o mar
Ela é a palavra mais linda
Que um dia o poeta escreveu
Ela é o tesouro que o pobre
Das mãos do Senhor recebeu”…
Faltava-me o presente para minha mãe, faltava-me a rosa natural exigida pela professora para ofertá-la no evento da escola. – “Quem não trouxer a flor, não participa!”. Em maio fazia-se a Primeira Comunhão. Era preciso ter uma vela retorcida, decorada com o desenho de um cálice dourado, adornado com uvas e trigos, com uma hóstia onde se lia: JHS – Jesus Homem Senhor. Era preciso ter uma camisa de manga comprida, branca, e na altura do ombro, uma fita de cetim em laço, com os mesmos desenhos da vela. Eu não tinha nada disso, e a tal camisa era feita por encomenda, custando os olhos da cara de minha mãe. A gravatinha borboleta fora emprestada de um menino que fizera a primeira comunhão no ano passado. Ah, maio, quantas lembranças! Quanta carência e quanta doçura nos lábios da professora Vandete, nos ensinando os cânticos da missa da Primeira Comunhão.
Em maio esperava-se ansioso o recesso escolar de junho, que durava um mês de férias. Chegaria São João, as chuvas, as trovoadas, os milhos, as batatas, as abóboras saboreadas com leite, o frio…
Em maio eu desmaio de lembranças.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 11/05/2018