O país convive anualmente com um ciclo do calendário que se repete sempre sem muitas alterações – e com o qual todos já estão acostumados -, configurado pelo estado de “maresia” que atinge todo o sistema nacional, desde quando se inicia o recesso dos Poderes Legislativo e Judiciário no final de dezembro, com o consequente desaquecimento dos fatos políticos mais retumbantes, tanto os positivos como os negativos, até que se ultrapasse o período das festas do tradicional Carnaval brasileiro, em fevereiro.
Uma exceção a essa regra, ultimamente, vem sendo caracterizada pela permanente vigilância e incansável atuação das autoridades incumbidas da Operação LAVA JATO, que continuam tirando o sono de muita gente face o compromisso de varrer a sujeira dos crimes de corrupção que vem destruindo a vida nacional. E por aí estão chegando novas delações premiadas – virou moda nacional! –, instituto jurídico cuja restrição maior é o fato de reduzir o tempo de prisão desses marginais do colarinho branco. A propósito, só tenho a lamentar a perda trágica do Ministro Teori Zavascki, na semana passada, exatamente o Relator dos processos ligados à LAVA JATO e à homologação dos Acordos de Delações…! Acidente?!
É bem perceptível esse espírito de acomodação nesse estágio de tempo, quando só se pensa em desfrutar das férias com o calor do verão, e as reivindicações maiores que esperem pela quarta-feira de cinzas! Ainda bem que aqueles que gostam de adotar em Brasília certas decisões na “calada da noite”, e sempre em benefício próprio, também estão usando das benesses do recesso, senão seria o período propício para decisões sem dó nem piedade, diante do silêncio dos cidadãos.
Em 16/02/2014, aqui neste Blog, tratei desse tema em “SÓ DEPOIS DO CARNAVAL…” e hoje resolvi mesclar alguma coisa mais e reutilizar o mesmo título com o indicativo de “II”, por estar atual mesmo três anos depois:
“Os ditados populares têm um extraordinário poder de influenciar as pessoas no dia a dia, pois na sua grande maioria encerram verdades fundamentais que exercem certo fascínio no comportamento do brasileiro, em geral. Passados os períodos de festejos natalinos e de final de ano, é visível que as atividades parecem encontrar certa dificuldade em engrenar o ritmo no novo ano e o marasmo começa a encontrar explicação no ditado popular que diz que “o Brasil só começa a funcionar depois do Carnaval”. Em princípio, seria bom se fosse verdade. Muitos devem se recordar do tempo em que o Carnaval começava na sexta-feira à noite e ia até terça-feira, e a quarta-feira era conhecida como “quarta-feira de cinzas”, dia que marcava o início da quaresma”. Mas, vejam o que acontece aqui na Bahia…
“[…] O irrequieto Carlinhos Brown cria o “Arrastão do Brown na Quarta-feira” e o carnaval obtém mais um dia, completando um ciclo de sete dias, porque já foi antecipado o início para quinta-feira! Aqueles que acharam que seis dias foram insuficientes decidem colocar o emprego em risco e acompanham o “arrastão”. Tudo bem. Acabou e volta tudo à normalidade. Ledo engano! Inventaram a “Ressaca do Carnaval” logo no sábado seguinte! Aqueles que escaparam da demissão pelo “arrastão” da quarta-feira, ainda têm uma chance de conquistá-la no sábado, no oitavo dia”! O italiano diria: “Mamma mia”!
Assim é o nosso Brasil. Convivemos com uma crise de desemprego e muitos nem pensam nessa hora em preservar o que tem. Uma economia com graves dificuldades, e com Estados e Prefeituras chorando no pé do caboclo e decretando estado de emergência financeira, enquanto as festas populares e as Bandas contratadas a peso de ouro não refletem essa realidade. Como exemplo, o Réveillon de Salvador foi ampliado para cinco dias, competindo com o já extenso Carnaval.
Embora muitos não concordem com ela, a PEC do TETO DE GASTOS precisa chegar aos Estados e Municípios…! A cobrança contra os desvios e irresponsabilidades na governança em nível Federal é justa, mas tem de haver coerência das demais Unidades Federativas, eliminando-se os excessos que não trazem benefício à sociedade, nem à economia.
Que fique bem claro não ter nada contra o carnaval, ou os feriados há tempos determinados e não sou eu quem vai mudar nada, mas, sinceramente, que a máxima dita de que SÓ DEPOIS DO CARNAVAL daqui a pouco poderá ser SÓ DEPOIS DO INICIO DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL, disso eu não duvido!
Quem paga por tantas folgas, inércias, papo para o ar, e pela fantasia que se ver na foto desse texto, eu acho que sei… E você, certamente, também sabe!
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público (Salvador-BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 22/01/2017
2 Comentários
Pode-se até dizer que se consumou como um adágio popular, onde realmente há um carnaval expressivo como no Rio de Janeiro, S. Paulo, Recife e Salvador cada um com características diferenciadas. Todavia, nos campos e interior do Brasil esse Manaus (é um verdadeiro paradoxo, porque nesta época a atenção se volta para a realidade da estação do momento, principalmente o verão com a espera de chuvas no nordeste para suprir os açudes, no norte com reflexos na subida dos rios, no centro-oeste, sudeste e sul, atentos à produção de grãos, enxurradas, encharcamentos de solos, desmoronamentos, etc. (Manaus-AM)
Esta constatação da letargia nacional provocada pelo grande número de festas, feriados e outros eventos que acabam gerando paradas, me lembra uma antiga frase: “Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil”, que alguns atribuem ao naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), que realmente estava referindo-se as formigas. E isto me remete ao conto ” A cigarra e a formiga”. Sabe, Agenor, suas crônicas sempre nos trazem reflexões, e além disto esta nos trás uma constatação desagradável: que nada muda por que o brasileiro gosta de “pão e circo”. FOZ DO IGUAÇU-PR