Como a crônica semanal tem a regularidade de seu encaminhamento ao Blog nos sábados, obviamente que o autor não tinha qualquer carta na manga para anunciar previamente o resultado da votação da proposta de impeachment da Presidente Dilma, pela Câmara de Deputados, neste domingo, além das conjecturas e tendências. Devido à batalha de bastidores, onde vale tudo, até dedo no olho, é impossível antever, com segurança, um possível resultado obtido. Mas, com um índice de desaprovação da ordem de 82%, talvez decorrente da inércia e conivência com a quadrilha palaciana que se instalou em paralelo ao seu governo, é sintomático um desejo latente de mudança por parte da população.
Mantenho a minha visão coerente de que a chapa eleita no último pleito presidencial carregou o Vice-Presidente a tiracolo e assim ele é corresponsável pela tragédia dessa gestão – da qual tem tentado se desvincular para se dar bem -, seja por participação ativa ou por omissão espontânea e solidária. Com esse sistema político vigente no país, o povo mais uma vez não teve a opção de escolher isoladamente um Vice-Presidente de sua preferência, e aí, é óbvio, que os votos não pertencem distintamente ao PMDB e nem ao Michel Temer, porque, como sempre, ficaram vinculados à cabeça de chapa, cuja candidata foi Dilma Rousseff. Diante desse entendimento, o Vice deveria estar sujeito ao mesmo risco de perda do mandato atribuído à Presidente. É essa dimensão de consciência e verdade que o Brasil está à procura. O leitor Juraci da Silva, encaminhou-me uma profunda reflexão, após a última crônica, que se adequa perfeitamente ao nosso momento político: “creio que por ser divina, a Verdade precisa estar alicerçada numa trindade: LÓGICA, ÉTICA e MORAL”. E essa trindade não se identifica na relação entre os dois: Presidente e Vice, nem entre PT e PMDB.
Quando afirmei, também, que seria uma simples troca de SEIS POR MEIA DÚZIA, o fiz na convicção de que, concretamente, nada mudaria no perfil entre o governo que entra e o que sai (se sair!). Para restabelecer a credibilidade perdida no âmbito interno e externo, e o país retomar o seu desenvolvimento econômico, somente a instituição de ELEIÇÕES GERAIS pode oferecer ao povo a oportunidade de fazer uma varredura completa, defenestrando, igualmente, aqueles que envergonham o Congresso Nacional, porque buscam encontrar nos porões sujos das negociatas as vantagens financeiras e os cargos que lhes assegurem a sobrevivência, em prejuízo da nação brasileira. Custo a acreditar no que tem divulgado a imprensa quanto aos valores monetários envolvidos na corrupção pela compra do voto parlamentar…! É o fim da picada!
Mas, em paralelo ao resultado da Comissão Especial do Impeachment, um outro fato grotesco e hilário, chamou a atenção geral da nação, evidenciando um tremendo despreparo do possível substituto da Presidente… Como se imaginar que, enquanto um processo dessa magnitude e responsabilidade decisória cumpriu, apenas, a sua primeira fase, e ainda dependia de duas duras etapas a superar, e o Vice-Presidente grava um pronunciamento como se já estivesse assumindo o cargo de novo Presidente e divulga para membros do seu partido, o PMDB…! Só tive uma reação que pudesse expressar toda a minha surpresa diante da sua entrevista: RIDÍCULO E INCONSEQUENTE!
Com impeachment ou não, a simples alternância no comando do poder maior da Nação não se constitui na solução definitiva dos problemas nacionais. A nossa República, sim, tem de ser repensada através de uma urgente, profunda e abrangente Reforma Política nacional. Impõe-se uma melhor ordenação no Sistema Partidário que se estabeleça regras mais rígidas que discipline e controle a criação exagerada de Partidos, geralmente motivada para satisfazer o ego pessoal de certas lideranças políticas.
A ilustração acima pretende configurar a definição para o tão invocado “GOLPE”, relembrando dois atos da história que se assemelham: 1º.) Em 1992, o PT conquistou nas ruas e no Congresso, brilhantemente, a queda por corrupção do Fernando Collor, eleito pelo voto popular; 2º.) no outro ato a Dilma Rousseff, de fraca e irresponsável gestão do patrimônio público, presidente no momento mais vergonhoso e vexatório da história do Brasil, também eleita pelo voto popular. Onde está a diferença? Se a Constituição dá ao Parlamento o direito do “impeachment” e ainda assim o encaminhamento legal é chamado de GOLPE, vou recorrer ao pensamento do “grande” líder petista José Dirceu – embora preso -, para definir a legitimidade do direito parlamentar de requerer o impeachment quando julgado conveniente: “Qualquer Deputado pode pedir a abertura de processo (de impeachment) contra o Presidente da República. DIZER QUE ISSO É GOLPE, É FALTA DE ASSUNTO…” (agosto/1999, ao entregar a Michel Temer – então presidente da Câmara -, o pedido de impeachment contra Fernando Henrique). Pelo visto, não estão mais lendo a cartilha do José Dirceu…!
Reitere-se que a política é importante e indispensável ao funcionamento do sistema democrático, e dela não se pode prescindir. Precisamos, porém, de instituições fortes para a estabilidade e segurança da democracia, mas com representantes dignos à frente e que saibam respeitar os limites da honra e da decência.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Salvador – BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 17/04/2016