Tanto para um lado como para o outro, vai demandar algum tempo para que as consequências traumáticas do último fato político de grande impacto nacional e internacional sejam absorvidas. Todos sabem que não é uma coisa simples tirar do poder um Presidente da República, ainda que repleto de culpas sobre as costas. Já comentei aqui que as “pedaladas” foram um motivo ligeiramente fútil encontrado pelo ex-Presidente da Câmara Eduardo Cunha, mas que, mesmo se constituindo numa prática revestida de ilegalidade, se pendurar um chocalho no pescoço de Prefeitos e Governadores, ninguém mais dorme neste país. Há outras implicações graves que foram desprezadas na formação do processo inicial, que justificariam muito mais o impeachment.
Parece muito ingênuo a qualquer analista, que uma candidata à reeleição no cargo de Presidente da República tenha se utilizado de um eficiente trabalho de marketing para maquiar os números da economia, enganar com sucesso a população no pleito eleitoral e, logo depois de empossada, essa mesma economia entre abruptamente em colapso, e tudo fique por isso mesmo como a coisa mais natural do mundo! Houve na campanha o uso de táticas de mentiras, falsidades, enganações, ocultação da realidade econômica. Num espaço muito curto de tempo toda a realidade veio à tona, transformando um quadro nacional de aparente otimismo e prosperidade, em inflação, desemprego e recessão econômica. Some-se a isso a interminável sequência de escândalos envolvendo líderes políticos do alto escalão do governo pela usurpação e desmonte de uma estatal com a grandeza da Petrobrás, destruindo-a sem dó nem piedade, que o digam os prejuízos dantescos do seu último balanço. Não se ludibria e ilude um povo assim, sem arcar com o ônus e as consequências dos seus atos diretos ou indiretos.
Com todo esse universo de irregularidades, alguém teria de responder por tantas irresponsabilidades. É o que acontece com qualquer empresa privada de médio e grande porte: o administrador paga com a cabeça pela sua falha de gestão. Na República não poderia ser diferente e para isso existem os Tribunais Federais e o Congresso Nacional, instituições responsáveis pelo acompanhamento e julgamento dos atos presidenciais. A fidelidade ideológica e político-partidária de qualquer cidadão sério não pode acobertar a mentira, por maior que seja a paixão envolvida. Concordo que é doloroso e envergonha a todos o desfecho de um impeachment presidencial a que a Nação novamente teve de testemunhar, mas, às vezes o ato cirúrgico é determinado pela gravidade da doença.
O que é mais grave e preocupa profundamente, é que a lista de políticos suspeitos envolvidos com as investigações pela “Operação Lava-Jato” não tem fim, e está impregnada com o DNA da corrupção Ufa…! Será que vai restar alguém limpo e com dignidade para administrar este nosso Brasil?
Estamos diante de um impasse político grave e de tão grande dimensão que fica evidente a necessidade de ser repensado o modelo do sistema político vigente no país. Conforme definiu em artigo o cientista político Sérgio Abranches, em 1988, convivemos com um “presidencialismo de coalizão” visto que, diante de um Congresso Nacional hoje com 35 Partidos das mais diferentes e esdrúxulas tendências, o Presidente da República se vê obrigado a utilizar as práticas comuns ao parlamentarismo e dos quais se transforma em refém das exigências e imposições. Além do mais, o Congresso não coloca o Presidente da República, mas tem o poder de tirá-lo…! Não parece contraditório?
É preciso o surgimento de uma nova safra de homens públicos, que assinem um “TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA-TAC” com as suas consciências, que os façam despertar para um novo tempo, uma nova época, revestidos de mais integridade, ética e respeito. Que, doravante, o desejo de cada um em iniciar uma carreira política seja inspirado na vocação de servir ao Município, ao Estado e ao País e, por via de consequência, ao povo que habita à sua volta, assumindo um compromisso pessoal de honestidade e responsabilidade.
Naturalmente que uma transição extemporânea e violenta de governo causa amargura e dor a muitos corações. Para que essa prática seja extirpada da democracia brasileira, contudo, é necessário que, unidos, escrevamos as páginas de uma nova história, onde a vergonha faça parte do prefácio dessa nova obra.
AUTOR: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público. (Salvador – BA).
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 15/05/2016