Cerveja sem álcool tem se multiplicado; vendas cresceram quase 400% em cinco anos – Rótulos zero se multiplicam, do supermercado ao isopor do ambulante no carnaval, e vendas saltam 388% em cinco anos – Foto: Beatriz Orle / Agência O Globo.
Thiago Ferreira tem 45 anos, é DJ de algumas das casas noturnas mais conhecidas de São Paulo e ciclista. Patricia Abed, de 56 anos, é chef de cozinha, mora no Mandaqui, na Zona Norte da capital paulista, e busca uma rotina mais saudável.
Eles não se conhecem, nem frequentam os mesmos lugares, mas têm algo em comum: não recusam um brinde com cerveja, mas sem álcool.
A versão não-alcoólica de uma das bebidas mais consumidas do mundo não é novidade. A alemã Paulaner lançou uma de trigo em 1986. No Brasil, a Ambev introduziu a Liber há mais de 20 anos. Mas só recentemente a cerveja zero está ganhando mais adeptos no mercado brasileiro – e investimentos em marketing.
O consumo de cerveja zero no país saltou de 133 milhões de litros em 2018 para 649 milhões em 2023, alta de 388%. A consultoria Euromonitor estima que o volume tenha chegado a 752 milhões de litros no ano passado e pode atingir 1,18 bilhão em dois anos.
– Comecei com cerveja zero quando vieram novas opções próximas da convencional. Foi quando comecei a pedalar e parei de beber durante a semana. Eu me sinto mais leve e com maior disposição – diz Ferreira, o DJ Sabota, que toca de terça a sábado e só se permite um ou outro copo com álcool no fim de semana.
O crescimento desse segmento de bebidas, antes desprezado, acompanha a mudança de hábitos dos consumidores nos últimos anos, principalmente entre os mais jovens. Também é impulsionado por uma maior variedade de rótulos – da cerveja enriquecida com vitamina D à zero álcool com café – em supermercados, bares e até no isopor de ambulantes no carnaval de rua, além de melhorias no sabor e na publicidade.
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– Antigamente, cerveja zero era ruim. Hoje, não vejo diferença – opina Patrícia que, há um ano, começou a reduzir o consumo de bebidas alcoólicas para perder peso e se preparar para uma cirurgia. – Nem bebo mais cerveja com álcool, não sinto vontade.
Fatia pequena do mercado
As cervejas zero respondem só por 5% do mercado, mas avançam sobre as convencionais. Há sete anos, eram pouco mais de 1%.
Além do marketing, as cervejarias têm ampliado a distribuição. Elbert Beekman, gerente sênior de Marketing da Heineken 0.0 no Brasil, diz que a marca vem trabalhando desde o lançamento no Brasil, em 2020, para oferecer a versão não-alcoólica em todos os pontos em que houver a versão tradicional da cerveja.
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– Isso leva tempo, mas estamos avançando – diz o holandês radicado no Brasil, acrescentando que a resistência ao produto tem diminuído em várias faixas etárias, mas o consumo é mais forte entre os jovens, cada vez menos interessados em álcool para manter hábitos saudáveis.
Segundo Beekman, o Brasil é um dos maiores mercados da Heineken 0.0 no mundo, mas ele ainda vê certo estigma. Em campanha global lançada semanas atrás, a empresa busca contornar as desconfianças sobre a versão não-alcoólica. Ela ampliou a presença estratégica do selo em grandes eventos, da Fórmula 1 ao Rock in Rio, passando por campeonatos de e-sports.
Dona das marcas Brahma 0.0 e Budweiser Zero, a Ambev, maior cervejaria do país, também tem ampliado o investimento no segmento a partir da percepção de que há um mercado para pessoas que buscam um estilo de vida mais saudável. Uma das novidades da empresa é a Corona Cero, enriquecida com vitamina D.
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– A categoria não veio para substituir, mas para ampliar possibilidades. O consumidor deve ter liberdade para escolher o que faz mais sentido em cada ocasião – diz Gustavo Castro, diretor de Inovação da Ambev, lembrando que a Corona Cero patrocinou a Olimpíada de Paris, e a Bud sem álcool apoia festivais como o Lollapalooza, em São Paulo.
A gigante de bebidas ainda vai anunciar sua estratégia para o carnaval deste ano, mas adiantou ao GLOBO que, nas cidades onde patrocina a festa (São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Salvador), ambulantes terão ao menos uma opção zero.
A espanhola Estrella Galicia, que já produz cerveja sem álcool há mais de três décadas, vê no Brasil um dos mercados com maior potencial de crescimento para a categoria, também apostando na associação entre bem-estar e cerveja. Hoje, as vendas da versão zero representam 7% do total no Brasil, mas a meta de Thiago Coelho, presidente da Estrella Galicia no país, é dobrar a participação nos próximos três anos.
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– A gente entende globalmente que vai acontecer uma intersecção muito grande do que é a indústria de cerveja com alimentação e bem-estar. Na Espanha, já temos em teste cervejas que ajudam a baixar colesterol, por exemplo – diz o executivo, que prepara o lançamento de um novo segmento no Brasil, com rótulo zero. – O futuro da cerveja sem álcool será oferecer produtos que vão além da moderação e entreguem benefícios adicionais ao consumidor.
A mudança nos hábitos de consumo é global. Nos EUA, um estudo da Gallup mostrou que a proporção de adultos de até 35 anos que consomem álcool caiu de 72% para 62% em 20 anos. No Brasil, o Relatório Covitel de 2023 apontou redução no consumo regular de álcool entre jovens de 18 a 24 anos, de 10,7% para 8,1%. Entre os millennials (25 a 44 anos), caiu de 10% para 7%.
Publicado no ano passado, um estudo da consultoria de tendências Go Magenta aponta que 62% dos consumidores de bebidas alcoólicas já pensaram em reduzir o consumo. O motivo mais apontado é a busca por um estilo de vida mais saudável, opção mais citada (47,7%) pela geração Z, seguida da vontade de “ter mais autocontrole”.
– O jovem de hoje não vê mais o excesso de álcool como algo “cool”. Pelo contrário, há um novo olhar social em que o “bêbado da festa” pode ser visto como alguém que está passando vergonha – diz Gabriela Terra, responsável pela pesquisa, que vê as pessoas questionado mais os próprios hábitos.- Há uma tentativa de sair do piloto automático. Muita gente nos contou que começou a intercalar bebidas alcoólicas com versões zero, e percebeu que isso não afetava a experiência.
Artesanal ‘lúcida’
Já há cervejarias artesanais que nasceram com o portfólio que é 100% não alcoólico. É o caso da Luci, criada no fim do ano passado. A marca – cujo mote é oferecer o “sabor da lucidez” – começou com três tipos de cerveja: uma lager com vitaminas A e D, uma sour com cambuci e jabuticaba e uma pilsen com café. Todas sem álcool.
Luci: marca sem álcool oferece três opções de rótulos – Foto: Divulgação/Luci.- A ideia veio depois que fiz uma maratona em Berlim e vi o universo da cerveja sem álcool, que pode ter um benefício se você pratica exercício físico – diz Danniel Rodrigues, que deixou a advocacia para fundar a Luci com um amigo.
Presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja, Márcio Maciel explica que a melhora no sabor da zero vem do barateamento da produção sem álcool:
– Nos últimos doze anos, a indústria empregou bilhões em novas tecnologias. Hoje, a cerveja zero é produzida normalmente, e é adicionado um processo final extra para evaporação do álcool. Foi algo que demorou. De início, era acessível só às grandes cervejarias.
Fonte: https://oglobo.globo.com – Por Juliana Causin – São Paulo
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade
1 comentário
A materia mostra que o crescimento de 388% nas vendas de cerveja sem álcool no Brasil reflete mudanças nos hábitos de consumo, impulsionadas pela busca por um estilo de vida mais saudável. Grandes cervejarias como Ambev e Heineken estão investindo em inovação, marketing e distribuição para capturar esse mercado, agregando valor com ingredientes funcionais e melhorando o sabor.
O setor representa uma oportunidade econômica promissora, com previsões de consumo chegando a 1,18 bilhão de litros em dois anos. As empresas esperam alto retorno sobre os investimentos, impulsionadas pela aceitação crescente e estratégias que posicionam a cerveja sem álcool em eventos esportivos e culturais.