As sete escolas de samba que fizeram o primeiro dia de desfiles no carnaval de São Paulo deram show de alegria e organização. Nenhuma delas sofreu com estresse de tempo estourado – o limite é 65 minutos – e brilharam na avenida, com enredos criativos e que mexeram com a imaginação do público: adrenalina, baratas, contos de fadas, duendes e até um carro alegórico do filme “O Exorcista”, da Tom Maior.
Veja como foram os desfiles de cada escola deste primeiro dia:
MANCHA VERDE
Mancha Verde abre o carnaval de São Paulo com alfinetada a Paulo Nobre.
O carnaval paulista de 2015 foi inaugurado no Sambódromo do Anhembi com o desfile da Mancha Verde, que relembrou os grandes ídolos da história do Palmeiras com o samba-enredo “Quando Surge o Alviverde Imponente… 100 anos de Lutas e Glórias” – vale lembrar que o clube paulista completou seu centenário em 2014.
Antes de a escola entrar na avenida, o presidente Paulo Serdan fez questão de alfinetar Paulo Nobre, mandatário do Palmeiras. “Chegou o grande momento da nossa história. Os fofoqueiros falaram que vamos cair. Sabe por que não vamos cair? Porque essa é a nossa segunda arrancada heroica. Menos o presidente do Palmeiras que ignorou essa festa. Vai ser o melhor desfile da história da Mancha”, gritou Serdan, entre outros palavrões, para delírio dos alviverdes.
Com um desfile tranquilo e sem qualquer contratempo, a Mancha Verde deu ênfase à origem italiana do clube, que foi bem representada alas iniciais. Depois, a escola mostrou a mudança de nome de Palestra Itália para Palmeiras, logo após a Segunda Guerra Mundial, até chegar aos dias atuais.
Além de fazer referência a passagens importantes na história palmeirense, como o título mundial de 1951, os oito brasileiros e a Libertadores de 1999, a escola também se lembrou do Allianz Parque, estádio inaugurado no ano passado no lugar do antigo Palestra Itália, no bairro de Perdizes.
O ex-goleiro Marcos, um dos jogadores homenageados, ao lado de Evair, Ademir da Guia, Oberdan Catani e muitos outros, deveria participar do desfile, mas segue internado em decorrência a um quadro de infecção. Mas ele deixou uma mensagem na tarde de sexta-feira.
“Esse carnaval meu será diferente, vou ficar vendo TV com a Maria Eugência, minha companheira. Não vou poder participar do desfile da Mancha Verde. Não estarei de corpo, mas estarei de coração. Força Mancha Verde guerreira”, disse o ídolo palmeirense em vídeo.
ACADÊMICOS DO TUCURUVI
Acadêmicos do Tucuruvi anima o Anhembi com marchinhas e muito Rio de Janeiro.
Segunda escola a entrar no Sambódromo do Anhembi, a Acadêmicos do Tucuruvi levantou o público com o samba-enredo “Entre confetes e serpentinas: Tucuruvi relembra as marchinhas do meu, do seu, do nosso Carnaval”. A ideia da agremiação da Zona Norte de São Paulo foi contar um resumo da história do carnaval.
Para isso, foram usadas várias referências ao Rio de Janeiro, como, por exemplo, um Cristo Redentor em um dos primeiros carros que entraram na avenida. Turistas que visitam a capital fluminense durante todo ano também foram lembrados, bem como os 450 anos da cidade.
As marchinhas, que sempre animaram os salões e blocos carnavalescos, embalaram toda passagem de integrantes, muitos usando as características máscaras dos bailes mais tradicionais. A letra abordou algumas das mais famosas marchinhas do carnaval brasileiro, como “Cabeleira do Zezé” e “Allah-la Ô”. As alas também representaram marchinhas, como a inconfundível “Mamãe Eu Quero”.
Algumas figuras também ganharam destaque. O ex-apresentador Chacrinha, famoso por usar marchinhas em seu programa, e a cantora Carmen Miranda foram um dos homenageados.
Uma certa tensão tomou conta da Acadêmicos do Tucuruvi no final do desfile, mas toda escola conseguiu chegar na dispersão e ultrapassou o portão dentro dos 65 minutos regulamentares. Uma apresentação impecável.
TOM MAIOR
“Adrenalina” da Tom Maior mexe com a imaginação do público em São Paulo.
Um problema no desfile de 2014 inspirou o enredo da Tom Maior para o carnaval de 2015. No ano passado, o carro abre-alas da escola sofreu uma pane faltando 15 minutos para o início da apresentação e causou muito nervosismo entre os integrantes. Por isso, o tema deste ano ficou definido como “Adrenalina”.
Terceira escola a entrar no Sambódromo do Anhembi, depois de Mancha Verde e Acadêmicos do Tucuruvi, a Tom Maior mexeu com a imaginação e sentimentos do público usando acrobatas, atores e fazendo referências à situações engraçadas do cotidiano, como as baratas na ala medos e fobias.
Por falar em medo, a escola usou bastante os filmes de terror em seu desfile. Uma das alegorias teve como grande destaque um boneco gigante de “O Exorcista”, que girava o pescoço em 360 graus. Nas alas, o inconfundível Freddy Krueger e o personagem de “Jogos Mortais” completaram o lado assustador na avenida.
A adrenalina também foi representada nos esportes, como voo de asa delta, corrida de quadriciclos, de carros, skate e até lutas. Assim como no próprio carnaval, na apuração, quando as diretorias das escolas de samba ficam tensas no momento da divulgação das notas.
DRAGÕES DA REAL
Acredita em duendes? Dragões da Real mostra na avenida que tudo é possível.
Você acredita em fadas, duendes, bruxas, extraterrestres e floresta encantada? A Dragões da Real acredita, tanto que levou para o Sambódromo do Anhembi vários elementos que as pessoas duvidam que possam existir no samba-enredo “Acredite se Puder”.
A agremiação tentou mostrar ao público que tudo é possível, incentivando a imaginação, além de contar histórias de coisas inacreditáveis. A escola tricolor se apoiou também na ideia do poder de recuperação do ser-humano e o incentivo na busca pela vitória.
Símbolo da escola, o tradicional dragão ganhou vida e, ao lado de um menino chamado Tomé, viveu uma história na floresta encantada. Depois, a aventura foi na cidade perdida de Atlântida, que estaria submersa no mar, e o personagem passa a acreditar e ir atrás dos seus sonhos.
ROSAS DE OURO
Sem chuva este ano, Rosas de Ouro leva o encanto dos contos de fada à avenida.
Depois de enfrentar muitos problemas em 2014 por ter que desfilar debaixo de uma forte chuva no Anhembi, a Rosas de Ouro fez sua apresentação em 2015 com tempo seco. A água apareceu apenas no nome do enredo, “Depois da Tempestade, o Encanto!”, inspirado justamente nas dificuldades do ano passado.
E o “encanto” foi mostrado no mundo dos contos de fada, capazes de durar a vida inteira. As mensagens foram usadas como forma motivacional e proporcionaram um espetáculo bastante colorido na avenida.
A comissão de frente foi uma surpresa até para os integrantes da escola. De acordo com alguns participantes do desfile, o segredo foi mantido a sete chaves até o momento de entrar na avenida. Os ensaios da comissão eram feitos três vezes por semana com as portas da quadra fechadas. Já os ensaios técnicos na avenida não contaram com o show à parte, deixando a própria escola curiosa pelo o que viria pela frente.
A rainha de bateria da Rosas de Ouro foi a atriz Ellen Rocche, que se mostrou com alguns quilos a mais. E ela mesma admitiu antes mesmo do carnaval: “Agora não quero emagrecer, nem ficar definida, rasgada, magrinha. Quero valorizar minhas curvas”. Mesmo um pouco fora do peso, a loira mostrou que o samba no pé está afiado e arrancou suspiros das arquibancadas do sambódromo.
Por falar em bateria, o recuo foi um show à parte, com uma coreografia muito bem ensaiada feita pelos integrantes. A Rosas de Ouro foi a quinta agremiação a se apresentar no primeiro dia de desfiles.
ÁGUIA DE OURO
Arigatô! Pelo título inédito, Águia de Ouro aposta no Japão e faz belo desfile.
Apesar de ser uma das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo, a Águia de Ouro nunca foi campeã do carnaval paulistano. E para buscar o inédito título no grupo especial, a agremiação apostou na grande celebração de dois povos amigos: “Brasil e Japão: 120 anos de união”.
Foram muitos os elementos tipicamente nipônicos, a começar pela madrinha de bateria, a bela Miku Oguchi, japonesa de nascimento e com o samba afiado. A escola ressaltou o taiko, tambor oriental típico, em sua bateria, e contou também com um enorme carro alegórico trazido diretamente do Japão, destaque do tradicional Tachi Neputa, festival da cidade de Goshogawara.
Como a cultura japonesa é bastante ampla, os principais temas abordados foram os mangás, histórias em quadrinhos feitas no país, a tecnologia, a fé e a superstição. Foram cerca de 550 descendentes e 100 japoneses legítimos distribuídos nas alas do colorido desfile.
No meio de muitas mulheres bonitas, uma das grandes atrações ficou por conta do ex-jogador Zico, conhecido por desenvolver o futebol no Japão nos anos 90 e tratado como ídolo por lá. Embaixador da Águia de Ouro, ele apareceu no último carro alegórico para fechar com chave de ouro. Porém, o carro de apoio de Zico atropelou uma pessoa na avenida, sem gravidade. Outro imprevisto aconteceu quando duas passistas brigaram no meio do desfile.
NENE DE VILA MATILDE
Escola da Zona Leste da capital falou sobre Moçambique, país que também foi colonizado por portugueses, como o Brasil.
A Nenê de Vila Matilde encerrou sua apresentação no Sambódromo do Anhembi já com o sol começando a brilhar no céu paulistano. A última escola do primeiro dia de carnaval contou a história de um país africano que, assim como o Brasil, foi colonizado por portugueses: “Moçambique – A Lendária terra do Baobá sagrado!”.
Mas o que é Baobá? É uma árvore bastante conhecida e reverenciada no continente africano. A planta, que chegou ao Brasil com os escravos na época da colonização, foi lembrada na avenida.
Na busca pelo 12ª título do grupo especial, a Nenê fez um desfile descontraído e apostando nas esculturas das suas alegorias, quase todas articuladas. Assim como a águia que simboliza a escola, iniciando a apresentação no carro abre-alas. Na passarela, os destaques foram as beldades Livia Andrade, madrinha de bateria, e a ex-BBB Clara.
Blog do Florisvaldo – Informação com imparcialidade – 14/02/2015
Florisvaldo Ferreira dos Santos
Consultor de Seguros e Benefícios