Nestes locais, encontra-se de tudo: mandacaru, riachos, casinhas rurais, animais, paisagens com serras e lajedos, histórias curiosas e pores-do-sol de tirar o fôlego! – Trilha em Santa Terezinha – Foto: Divulgação/Bike Park Santa Terezinha – Hilza [email protected]
Dizer que o sertão baiano é um mundo não é exagero. Quase todo coberto pela caatinga, um bioma existente apenas no Brasil, esse território vem sendo desbravado por ciclistas que se aventuram em trilhas nunca antes percorridas turisticamente. Nos caminhos abertos pela passagem de bois e cavalos, surgem novas possibilidades e, nestas rotas, encontra-se de tudo: mandacaru, riachos, casinhas rurais, animais, paisagens com serras e lajedos, histórias curiosas e pores-do-sol de tirar o fôlego.
No mês do ciclista – o dia nacional é comemorado em 19 de agosto – contamos com a ajuda de moradores e listamos cinco cidadezinhas incríveis do interior da Bahia que têm opções bem bucólicas para turismo de bicicleta.
Em evidência na pandemia por proporcionarem uma atividade ao ar livre e de menor risco, as bicicletas chegaram a esgotar em lojas de quase todo o país. Em Salvador, a fila de espera para compra chegou a até seis meses em alguns estabelecimentos. Em 2020, o mercado de bikes registrou um aumento de 50% nas vendas em comparação com 2019, segundo um balanço da Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike).
Com a liberação de eventos para até 200 pessoas no estado, campeonatos de Mountain Bike (MTB) começaram a ser retomados em cidades como Mucugê, Eunápolis, Morro do Chapéu e Conceição do Coité, conforme informações da Federação Baiana de Ciclismo e organizadores independentes. Febre no sertão baiano há quase uma década, a expectativa é de que os eventos de MTB voltem com tudo em 2022, graças à popularização das bikes.
Ainda que seja considerada uma atividade de menor risco na pandemia por causa da ventilação natural, a atividade requer cuidados sanitários básicos como máscara e higienização das mãos. Confira ao fim da matéria outras 10 regras a seguir para um ciclismo seguro contra a covid-19.
- Queimadas – 26,5 mil habitantes – 312 km da capital
A cidade é cortada por rios e possui barragens excelentes para banho. Com várias trilhas, as mais famosas e indicadas por moradores são as da Toca da Onça, Pedras do Gregório, Rota do Mingau e Barragem das Correntezas. No município, a extensão das rotas varia de 20 km a 50 km e, em geral, o grau de dificuldade é baixo.
Mais exuberante de todas, a trilha da Toca da Onça tem 22 km e leva até uma propriedade privada, uma fazenda com uma bela vista do território da cidade. No local, existem grandes lajedos, formando uma espécie de montanha de pedras que é um ponto clássico para fotos.
De lá, dá para seguir para a Barragem do Lucílio, onde é possível tomar banho no Rio Itapicuru. Em seguida, o ciclista pode ir para a Barragem da Leste, tomar mais um banho e, então, voltar para a cidade. A dica é de Luís Eduardo Simões, presidente da Associação Pedala Queimadas.
A segunda sugestão de Eduardo é a muito conhecida Rota do Mingau, que interliga quatro povoados: Gentil, Queimadas Bonita, Anselmo e Rajado. Nela, é possível conhecer outras barragens, como a de José Moraes, Aurino e Dezinho.
Na comunidade de Gentil, a 18 km do município, a parada é no Point de Dona Aurora, que serve comidas típicas da região, como mingau e arroz doce cozido no leite de licuri, que custa apenas R$2.
A trilha da Barragem das Correntezas é considerada um tanto mais técnica, porque exige mais esforço por conta da quantidade de ladeiras bem inclinadas. Mas a galera garante que vale a pena. Na comunidade rural de Gregório, a 12 km da cidade, tem uma formação de lajedos que, de vez em quando, acumula água e rende uma bela paisagem.
No cenário de Queimadas, existe ainda a curiosa Igreja de Santo Antônio, que fica no alto de uma colina. Trata-se de uma das primeiras construções do município, com mais de 200 anos de história e, segundo a fé local, foi ali erguida porque uma imagem do santo aparecia para a população justamente naquele lugar.
O boato do aparecimento correu pelo sertão e houve peregrinação até a cidade, o que fez os padres à época convencerem a mameluca Isabel Maria Guedes, herdeira da Casa da Ponte, a construir o templo religioso.
Por lá, também chama atenção as ruínas de outra igreja, que foi ao chão após uma grande enchente em 1911. “Como é uma cidade de muita riqueza histórica, ela é bem visitada por moradores da região por conta do cicloturismo”, diz o professor Sérgio de Mainar, morador.
Devido à pandemia, as reuniões dos atletas não têm ocorrido, mas em 2019, um único evento reuniu mais de 500 pessoas de municípios vizinhos. Queimadas tem mais de 200 ciclistas ativos e já possui dois mecânicos que se especializaram em bikes.
No local, procure suporte das equipes:
Pedala Queimadas – @pedala.queimadas
Pelejeiros Bikers – @pelejeirosbikers
Trilheiros da Vila – @trilheirosvila
- Riachão do Jacuípe – 33,4 mil habitantes – 190 km da capital
Habitada nos tempos primitivos por indígenas Tocoiós, Riachão do Jacuípe é banhada por rios importantes e tem comunidades rurais cheias de trilhas, formações rochosas e outros encantos naturais.
Nas pedaladas pela região, moradores descobriram cantinhos com ares mágicos, como as trilhas da Árvore e da Caatinga da Toca da Onça. As dicas são do pedaleiro Hermógenes Cedraz, membro da União de Ciclistas de Riachão do Jacuípe.
No centro da cidade, há uma igreja meio torta, uma construção de dois séculos atrás, que costuma ser ponto de partida. Em frente à ela, fica um Pé de Barriguda, planta que inspira lendas locais e mexe com o humor e o orgulho dos jacuipenses. Por lá, diz-se que se uma folha desprende do galho no momento em que alguém senta embaixo da árvore, a pessoa troca de orientação sexual na hora.
Os moradores parecem mesmo ter um fascínio por árvores. Recém-descoberta, a Trilha da Árvore fica a 12 km da cidade e anda levando muita gente ao local até para fazer ensaios fotográficos. O visual da planta tomada por samambaias inquilinas rende cliques incríveis.
No trajeto tranquilo de estrada de chão, o ciclista passa por casinhas simples e criações de gado entre os povoados de Lagoa do Campo e Pedra Lisa. Na chegada ao local, há uma pequena barragem onde a meninada implantou uma tirolesa improvisada.
Outra opção é a trilha da Caatinga da Toca da Onça, com 38 km, dos quais quase 5 km são de passeio sob a sombra das matas, como um túnel de vegetação. A área é uma reserva privada, protegida contra o desmatamento.
Próximo deste local, fica o Projeto Ecológico Vida do Solo, uma escola na comunidade do Mucambo com experimentações agronômicas. O local produz mudas de plantas frutíferas e ornamentais como a rosa-do-deserto, além de mel e polpas para revenda.
Na cidade, procure suporte das equipes:
União de Ciclistas de Riachão do Jacuípe – @ucrjba
Rosas do Pedal – @rosas_do_pedal
Pedalgrafia – @pedalgrafia
Pedal Pega Bebo – @pedalpegabebo
- Santa Terezinha – 10,4 mil habitantes – 217 km da capital
Apelidada de “Havaí do Mountain Bike”, a cidade de Santa Terezinha fica no finzinho do Recôncavo, e ganhou, há três anos, um bike park com entrada gratuita que tem sido sucesso de procura por reunir 33 trilhas em um único lugar.
O parque fica localizado dentro do rústico Hotel Fazenda Bastião, que conta ainda com outras atividades esportivas, como tirolesa, escalada e arvorismo que custam entre R$ 20 a R$ 40. O hotel ainda tem pescaria grátis e aluguel de bicicletas.
O serviço de hospedagem está sem vagas até outubro de 2021 e, por enquanto, o day use de atrativos está suspenso por causa da pandemia, sendo liberado apenas para hóspedes. O bike park segue em funcionamento.
Por lá, as trilhas são sinalizadas conforme o nível do ciclista: verde para iniciantes, vermelha para intermediários e preta para quem já é profissional. Entre as três mais populares estão a do Gravatá, Casa Forte e Estratosfera.
Relativamente plana, a Trilha Gravatá tem 5 km de extensão e não exige muita técnica. É ótima para ir com crianças. O trajeto tem mais de 10 mil pés de gravatá plantados às margens da trilha e, no caminho, os ciclistas passam por uma ponte sobre o Rio dos Índios, um riacho intermitente. Antes da chegada dos colonizadores, essa área era ocupada por indígenas Cariris e Sabujas.
Neste território, é possível ver ruínas de casas antigas da época do ciclo dos Bandeirantes, homens que adentraram os sertões em busca de riquezas como ouro, prata e diamantes. Estes grupos também foram responsáveis pela destruição de quilombos e pela caça de indígenas para escravização.
Voltada para quem já tem certa experiência, a Trilha Casa Forte possui 1,8 km e foi assim chamada em referência a uma fortificação que naquele passado foi construída pelos Bandeirantes, mas já não existe mais.
Fundador do parque e dono do hotel, Manoel Moraes conta que, na cidade, fala-se que as pedras do casarão foram usadas para a construção da Barragem Casa Forte, hoje inativa e utilizada para banho pelos moradores. É nesta trilha onde fica o ponto mais famoso para fotos: uma passagem em curva acentuada que rende cliques irados por causa de um desnível entre a estrutura de madeira e as pedras. No fim, há um mirante espetacular para ver o pôr-do-sol.
Para quem é faixa preta no MTB, a trilha mais indicada é a Estratosfera, com 2,5 km e uma elevação de suar a camisa. Exige preparo físico e técnico para chegar ao topo da serra onde também há um mirante com vista completa da cidade de Santa Terezinha, que fica no pé da Serra da Jibóia. Na rota, há uma mistura de biomas e é possível ver desde mandacarus até floresta remanescente da Mata Atlântica.
Na cidade, procure suporte das equipes:
Bike Park Santa Terezinha – @bikeparkst
- Conceição do Coité – 67 mil habitantes | 223 km da capital
Localizada na região sisaleira, a cidade foi originada porque era um dos pontos de pernoite dos tropeiros que viajavam de Feira de Santana rumo à Jacobina. A maior parte do território do município é de relevo plano, sendo o Morro do Mocambo o pico mais alto, com 100 m de altura, e de grande importância paisagística. A trilha do Morro do Mocambo tem cerca de 30 km e pode ser feita dando a volta nele ou subindo, se a pessoa for mais experiente.
A formação fica dentro de uma área privada, tem subida íngreme e para adentrar é preciso pular uma cerca com bastante cuidado. É importante pedir apoio à população local para ter autorização para subir o morro. Na região, há uma casa de família que a galera apelidou de Point do Cafezinho, onde é disponibilizada água e café gratuito para que os ciclistas recarreguem as energias. As dicas são de Ednaldo Santiago, educador físico e fundador do grupo Trilheiros da Caatinga.
Outras duas trilhas famosas por lá são a do Cavalo Marinho e a dos Sonhos. Com 15 km de extensão, a Trilha dos Sonhos é bastante tranquila e passa pelas estradas que cortam os povoados de Goiabeira e Caruaru.
Além da bela vegetação catingueira com plantações de sisal, há barragens de riachos pelo caminho e pracinhas ornamentadas bem típicas do sertão. “Nós passamos por cancelas e por uma fazenda que é bem legal porque é em estilo antigo”, diz Malú do Carmo, pedaleira do Trilheiros da Caatinga.
A trilha Cavalo Marinho tem opção de 37 km ou 55 km e é assim chamada porque, no fim do percurso, o mapa fica no formato do animal. Nela, o caminho é de estradão cheio de simples casinhas e, depois, por meio de corredores. O melhor local é o Açude da Boa Vista, onde a galera faz muitas fotos, mas não é para banho porque a água é indicada para recreação. “É a mais badalada daqui”, diz Hilberig, pedaleiro e marido de Malú.
Entre as histórias curiosas da cidade está a do profeta João Batata, que pregava que, um dia, o povo da cidade viveria de uma planta com espinho na ponta e ganharia muito dinheiro com ela. A profecia dele se concretizou. O município viu riqueza e progresso chegar por causa do sisal, chamado de ouro verde do sertão. Vibrante e impetuosa, a planta dá um visual incrível na paisagem de Conceição do Coité.
A sede do município ainda tem um charme especial com um coreto e a igrejinha toda iluminada no centro. A linha férrea do trem de carga no povoado de Salgadália é a cereja do bolo. Antes da pandemia, Coité chegou a receber mais de 1 mil ciclistas em eventos de cicloturismo.
Na cidade, procure suporte das equipes:
Trilheiros da Caatinga – @trilheirosdacaatinga
Pedaleiros do Sisal – @grupopds
Pedal Roda Presa – @ofc.rodapresa
- Mucugê – 8,8 mil habitantes – 479 km da capital
Localizada na exuberante Chapada Diamantina, a humilde e bela Mucugê tem talento nato para o cicloturismo. As trilhas mais populares são a do Pinheirinho, do Circuito Desafio e do Circuito Jatobá, Labirinto e Sumidouro. Considerada leve, a Trilha do Pinheirinho tem 26 km saindo da cidade e tem esse nome por causa da paisagem composta por pequenos pés de pinheiro em boa parte do caminho.
Nessa rota, é possível visitar uma pintura rupestre em um paredão e passar pela Fazenda Sol do Paraguaçu, produtora de cafés premiados. Com agendamento prévio, dá para visitar o local. Em todo o trajeto, é possível avistar as maravilhas do conjunto da Serra do Sincorá.
Criada para competições esportivas, a trilha do Circuito Desafio tem, ao todo, 50 km, sendo 30 km de estrada vicinal e 20 km do mais puro mountain bike. O percurso atravessa o povoado de Caraíbas e não é exatamente uma rota turística, é voltada para quem quer se especializar no desafio.
O Circuito Jatobá-Labirinto-Sumidouro tem 30 km totais e passa pela Fazenda Sumidouro, terra que pertenceu ao antigo coronel Douca Medrado, um líder político tão temido quanto respeitado e que teve fama não só pela sua riqueza, mas também pela numerosa prole: foram 73 filhos registrados. Ele é uma das pessoas enterradas nos famosos túmulos brancos do Cemitério Bizantino de Mucugê. Logo depois há uma área privada de proteção ambiental chamada de Labirinto, na qual há um caminho sombreado de mata.
Na cidade, procure suporte das equipes:
Desafio Mucugê – @desafio_mucuge
10 REGRAS PARA UM PEDAL SEGURO CONTRA A COVID-19
- Não é indicado pedalar em grupos. Respeite os cuidados sanitários e não provoque aglomerações. Vá sozinho ou acompanhado apenas de pessoas que já moram com você.
- Use máscara durante todo o percurso, seja na cidade ou no campo. Você nunca sabe quando irá encontrar alguém.
- Ao se deparar com outros ciclistas na rota, mantenha uma distância de, pelo menos, 20 metros de distância da pessoa à frente e 2 m de distância lateral.
- Não compartilhe objetos como garrafas de água, óculos e alimentos
- Evite fazer paradas. Ao terminar o passeio, retorne logo para casa.
- Leve todos os mantimentos necessários. O ideal é não fazer aquisição de alimentos ou bebidas durante o pedal. Se tiver que parar em algum estabelecimento, use máscara e mantenha distanciamento de 2 metros entre as pessoas.
- Só use sanitários públicos em caso de extrema necessidade. Depois, higienize as mãos e tudo o que tocar com álcool em gel.
- Leve uma sacola para descartar restos de alimentos e embalagens
- Evite tocar olhos, nariz e boca durante o pedal
- Ao encerrar o passeio e voltar para casa, tome banho imediatamente e coloque sua roupa para lavar. Higienize também os outros equipamentos como óculos e luvas.
Fonte: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/rota-do-sertao-cinco-incriveis-cidadezinhas-para-fazer-turismo-de-bike-na-bahia/ – Colaboração Prof. Sergio de Mainar
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 22/04/2021