Semana passada aconteceram dois eventos noturnos, envolvendo servidores públicos, que possuem um intenso grau de contraste entre si. O primeiro ocorreu em São Paulo, na sede da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) que comemorava seu aniversário de 125 anos de serviços prestados para a população de São Paulo. O segundo, foi a vergonhosa votação das medidas anticorrupção que aconteceu na Câmara dos Federais, em Brasília.
Enquanto a ROTA usou a noite para celebrar e reafirmar valores como civismo, coragem, moralidade e legalidade, demonstrando que seu único objetivo é servir a sociedade com orgulho e profissionalismo, os deputados federais (que eu e você elegemos) se aproveitaram da escuridão da noite para, de forma rasteira, vergonhosa e covarde, desfiguraram a lei anticorrupção, indo contra o desejo expresso de milhões de brasileiros. Ao final da indigna votação, os nobres deputados se encaminharam para seus carros de luxo, com motorista, e foram para casa dormir. Ao final da solenidade da ROTA, após terem ficado de pé e em formação de respeito por 3 horas seguidas, os PMs entraram em suas viaturas e foram patrulhar as áreas mais perigosas da cidade.
Policiais veteranos da ROTA, prestando homenagem aos 125 anos do seu Batalhão
Deputados Federais desfigurando a legislação de combate a corrupção
É incrível como dois grupos de servidores públicos, um composto por cerca de 800 soldados em São Paulo, e outro composto por 500 políticos em Brasília, conseguem ter atitudes diametralmente opostas em relação ao povo brasileiro. Os soldados e comandantes dos cinco Batalhões de Choque da Polícia Militar de São Paulo, merecem o reconhecimento e a defesa da população pelos serviços que nos prestam. Já os nossos políticos, merecem ter seu passado e histórico analisado antes de receberem nossos votos.
Alguns dias antes da festa de aniversário do Batalhão Tobias de Aguiar, tive o prazer de conhecer e conversar com seu comandante, o Tenente Coronel Fernando Alencar Medeiros e fazer uma entrevista franca, direta e inteligente, com o subcomandante Major Cassio Araujo de Freitas.
Acompanhe a entrevista com o Major Cassio:
Major, descreva a ROTA em algumas palavras.
Somos uma tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, desenhada para efetuar patrulhas ostensivas e combater delinquentes nas áreas urbanas com maior índice de crimes violentos. Nossa força é constituída por policiais diferenciados, motivados e comprometidos, que passam por um rigoroso processo de seleção, e que possuem treinamento contínuo e equipamentos distintos para desempenhar suas funções com excelência sob as mais críticas condições operacionais.
Por que os marginais temem tanto vocês?
O criminoso é um excelente gestor de negócios do ponto de vista da avaliação de riscos, ele sabe medir com eficiência a relação custo beneficio das suas ações ilegais. Para ter sucesso o marginal só irá agir se tiver dois parâmetros críticos a seu favor: surpresa e força. Ao se deparar com uma unidade da ROTA, o delinquente entende imediatamente que ele perdeu suas duas vantagens, e que o custo beneficio do confronto é inaceitável. O policial militar da ROTA possui mais força, mais treinamento e mais motivação. O criminoso sabe que se partir para o confronto, encontrará uma reação proporcional e imediata, e por isso e teme nossos policiais.
Pode se dizer que o criminoso respeita sua tropa?
De certa forma sim. Nós projetamos uma imagem de seriedade, profissionalismo e de ser incorruptível. Quando prendemos um marginal ele é algemado e acabou, não tem conversa. Ele será tratado como um criminoso, nada a mais nem menos do que isso. Ele sabe que esta é a regra do jogo e nos respeita por isso.
Ainda no tema respeito, já aconteceu de um marginal que você prendeu te encontrar na rua, após ter cumprido sua pena, e conversar com você?
Sim, eu estava fora de serviço, numa estação de trem e percebi que um indivíduo me olhava, eu sabia que o conhecia. Ele se aproximou de mim e agradeceu, disse que eu o havia prendido, que já tinha pago sua conta com a sociedade, e que agora era um cidadão comum e trabalhador graças a mim. Fiquei feliz e desejei boa sorte para ele.
Há pessoas que tem pouco contato com a ROTA, mas que gostariam de ver suas viaturas patrulhando seus bairros.
Essas são as pessoas de sorte. Como eu disse antes, nossos policiais atuam apenas nas áreas mapeadas com altos graus de incidência de crimes violentos. Se você não vê nossas viaturas por perto da sua casa ou trabalho, é porque sue bairro possui um índice menor de crimes violentos.
Como é que a população, que vive nos locais de patrulhamento da ROTA, se relaciona com os policiais?
Noventa e nove por cento das pessoas onde atuamos são pessoas do bem, trabalhadores que querem educar e cuidar seus filhos, que desejam ter uma vida digna e produtiva. São cidadãos que não suportam mais ficarem reféns de traficantes e assassinos. Há décadas testemunham o trabalho de segurança que fazemos em suas comunidades, nos momentos mais críticos de insegurança e violência. Estes cidadãos acabam sendo grandes aliados dos nossos policias. Além de nos receberem bem e com respeito, confiam no nosso trabalho e nos ajudam a conduzir nossas missões. Não posso entrar em detalhes, mas o sucesso de inúmeras incursões que conduzimos é resultado direto da ajuda dos moradores das comunidades. Eles se sentem seguros com a ROTA e nós nos sentimos orgulhosos e satisfeitos em servi-los.
O que você considera um bom dia trabalho, aquele que você vai para casa feliz, com sentimento de missão cumprida.
Sem nenhuma dúvida, é o dia em que consigo ajudar uma pessoa ou uma família a se livrar de uma situação de perigo. Não há nada que dê mais prazer para qualquer policial do que ver a felicidade de uma vítima, e de seus familiares, quando conseguimos controlar e terminar uma situação de violência preservando a integridade dos envolvidos.
E o que é um dia ruim para você?
Quando um policial é ferido ou morto. Esse é o pior dia na vida de um comandante. Leve em consideração que para piorar uma situação que já inaceitável, esta morte é sempre violenta, perpetrada por indivíduos que representam o mal, o que há de pior na sociedade. Outro dia ruim para um policial é quando, num curto espaço de tempo ele prende duas, três ou quatro vezes o mesmo criminoso violento, que tentou mata-lo em todas essas oportunidades. Detalhe: o criminoso é solto legalmente pelo nosso sistema judicial e não porque fugiu da cadeia.
O que você acha do movimento de descriminalização das drogas?
Uma irresponsabilidade. A droga é o grande instrumento de alienação da sociedade. Todos os crimes violentos que enfrentamos diariamente estão ligados diretamente a drogas. Assaltos, explosões de caixas eletrônicos, trafico de armas pesadas.
Mas os defensores deste movimento focam sua defesa no uso de drogas leves e em pequenas quantidades, apenas para uso pessoal.
Isso é ridículo. Vamos assumir que a maconha seja a tal da “droga leve”. Você gostaria de ser operado por um médico que tivesse dado uma tragada de maconha antes da sua cirurgia? Você embarcaria num avião sabendo da possibilidade do piloto ter usado a tal da “droga leve”? E que tal comprar um apartamento num prédio projetado por um arquiteto que todo dia fuma um cigarro de maconha? Como se estabeleceria o limite de qual profissional, e em qual ocasião, pode consumir drogas, qual o limite de drogas por pessoa por dia, qual o limite para definir se a droga é leve ou não? Minha resposta é simples: Limite zero.
Deixa entender a lógica da sua pergunta. Se a legislação vigente permite a venda de álcool, isso é argumento para justificar a legalização da venda de drogas?
E quanto a lógica de que a legalização de certas drogas acabaria com parte da logística criminosa e consequentemente diminuiria a violência?
Quem usa este argumento não sabe o que é lógica, nem conhece as leis básicas de economia. O produto vendido por criminosos sempre será mais barato, eles não pagam impostos, eles usam toda infraestrutura social, mantida e paga pelo cidadão de bem, de forma gratuita e como consequência o preço de venda de suas mercadorias ilegais é menor. O comercio legalizado de cigarros ou de bolsas femininas importadas nunca impediu que a indústria do crime falsificasse e contrabandeasse esses produtos. É exatamente isso que vai acontecer ao se legalizar as chamadas “drogas leves”: seu preço subirá em função de uma série de impostos que serão incorporadas ao preço final, estimulando ainda mais o crime de tráfico das drogas ilegais e toda violência associada com isso.
O que você acha de uma sociedade que indulta, no dia dos pais, a parricida Suzane Richthofen e que provavelmente permitirá que Elize Matsunaga cumpra menos de 10 anos após matar seu marido e desmembra-lo com uma serra elétrica?
Um contrassenso tipicamente brasileiro. O que esta situação mostra para o cidadão de bem e trabalhador, que segue as regras e as leis? E ao mesmo tempo qual é o sinal que se passa para as pessoas que planejam cometer um crime? Isso tem uma intensa repercussão negativa na nossa juventude e nos indicadores criminais. Esses dois exemplos que você deu são casos pontuais de alta visibilidade, mas a ROTA se depara com essas situações nas comunidades da periferia, diariamente. Nossos policiais prendem traficantes e assassinos todos os dias, mas em pouco tempo, as vezes em dias, eles são legalmente soltos e voltam a aterrorizar a população local. A sociedade pode ficar tranquila que a ROTA continuará fazendo seu papel de combate ostensivo contra a marginalidade, mas compete a esta mesma sociedade mudar as leis que permitem absurdos como estes acontecerem diariamente debaixo dos nossos narizes.
Se você pudesse mudar alguma lei para beneficio imediato da sociedade qual seria?
Que as decisões judiciais de primeira instancia fossem imediatamente executadas. Isso já daria aquela sensação de que nosso país não é abandonado. O assassino e o traficante não voltariam para as ruas uma semana após serem presos, desfilando livremente. É impossível um pai e uma mãe educarem um filho nesse tipo de ambiente, mas é obrigação da sociedade mudar e permitir que isso seja possível.
Muitas pessoas questionam a necessidade de uma Polícia Militar.
A Polícia Militar existe em qualquer lugar do mundo. Em Nova Iorque, Berlim ou Buenos Aires os policiais que patrulham as ruas são fardados e seus cargos são de capitão, soldado, sargento, tenente, etc., exatamente como no Brasil. De forma genérica, a policia a paisana se encarrega do trabalho investigativo, enquanto que a policia fardada faz o trabalho de patrulhamento ostensivo. É preciso entender se quem está fazendo esse questionamento ignora os fatos ou então possui algum interesse obscuro.
Major, já fui assaltado algumas vezes. Tive uma serie de sensações, como medo, impotência, e até vontade de vingança. Encarar essa violência é a situação do dia-a-dia do policial da ROTA. Como ele reage?
Uma das características de todos policiais da nossa tropa é a resiliência, a capacidade emocional de lidar com situações adversas. Diariamente, quando nosso PM chega ao quartel, ele passa por treinamentos variados antes de ir para rua, incluindo como agir ou reagir numa situação de conflito sem deixar que emoções ou impulsos descontrolados tomem conta de suas atitudes. Nosso intenso treinamento acaba por desenvolver uma “memória de reação” que direciona a ação do policial para o caminho profissional e legalista.
O que falta para o Batalhão Tobias de Aguiar melhorar ainda mais seu desempenho?
Nada. Estamos no caminho certo ao focar os recursos disponíveis no intenso treinamento de seus policiais e em se manter atualizada com o que há de mais moderno em termos de equipamentos. Quanto mais tempo dedicarmos ao treinamento e quanto melhor forem nossos equipamentos, melhor será nosso desempenho.
Quais forças policiais de outros países que você admira?
Sou fã das forças policias israelenses, mas eles possuem uma vantagem muito grande sobre nós: um enorme respaldo político que é refletido em leis que funcionam e que são aplicadas. Admiro também as forças policiais colombianas, que souberam se estruturar para combater as drogas, e com isso salvar o país do crime organizado, criando uma policia comunitária muito atuante e um policiamento repressivo eficiente, que mantém a atuação dos cartéis sob constante cheque, impedindo-os de se reorganizar.
Major, você é marido e pai. Quando vai para casa, você leva a ROTA com você?
Claro que sim. E faço isso com muito orgulho, sabendo que os valores morais e de comportamento da minha corporação são corretos. Acho que isso deve acontecer em todas as profissões. Tirando os criminosos, qual a pessoa que não pratica seus valores profissionais na vida pessoal e vice versa? (risadas). Não se esqueça, que nosso policial é um excelente negociador, sabe avaliar muito bem as situações em que se encontra, sabe dialogar, entender e agir. Isso ajuda muito em casa! (mais risadas)
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 09/12/2016
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