ADRIANO GARBELINI – O Tropeiro do Vale do Aiuruoca
O vocabulário aqui do Vale do Aiuruoca é tão inteligente e simplificado, que merecia entrar na lista de patrimônio imaterial mineiro. Porque, para me expressar ou explicar algo, eu paulista – uso muitas palavras, mas o mineiro reduz em poucas. Ou, não será eu que sou complicado? Vejamos:
Eu: “Hoje eu não quero comer nenhum acompanhamento para harmonizar com o café”.
Em mineiro: “vô tomácafé cumamãosó”.
O problema é que às vezes você não entende nada que a pessoa está falando. Até desenvolvi uma técnica para o desafio – depois conto. Parece uma língua de outro país. E bem diferente que BH, norte e resto de Minas Gerais. Muitos paulistas serrabaixo já estiveram por aqui, e constataram o fato.
Então – como um bom tropeiro – resolvi socializar essa riqueza cultural, criando o Dicionário Colaborativo do Vale do Aiuruoca.
A cada postagem, examinaremos a tradução de um termo Mantiqueirêz.
Óiqui. Quem souber de alguma palavra inusitada aqui da região, incluo no dicionário.
Dia 28/7 a tropa desce a Serra. Para quem não pediu, as encomendas ainda estão abertas.
Óiprocevê 👀
S e r r a b a i x o
Da roça | Artesanais | Orgânicos | Afetivos
Olá amigos de SP!
A Mantiqueira, além de bela, é uma grande escola.
Após 2 ciclos anuais morando aqui, aprendi muito sobre a sazonalidade da natureza nos alimentos. Compartilho algumas descobertas do mundo da roça:
Queijo – No inverno o pasto das vacas seca, a produção de leite diminuiu e, consequentemente o queijo escasseia. Estamos no auge disso.
Ovos – Nos últimos anos a postura de ovos das galinhas, oscila o ano todo entre sobrar e faltar – inclusive “pro gasto”. Nem os nativos sabem explicar o motivo.
Mel – A extração de mel é entre Agosto e Dezembro. Depois, as abelhas precisam de um tempo de descanso. Como é um alimento não perecível, temos estoque pro ano todo.
Pinhão – Essa foi o experimento que mais me alegrou. Foi o primeiro ano que pratiquei a modéstia de abaixar-se para “catar pinhão”. É tanta fartura que até deu pra selecionar uns beeem maiores (quem comprou percebeu). Constatei que o fruto cai somente em março e abril, diferente do que pensava. Conheci todas as Araucárias das redondezas, e suas características. Tem até variedades de espécies, com por exemplo um de casca avermelhada.
Mas para a tropa não há sazonalidade. Todo mês tem alimentos indo. Em alguns dias acontecerão as entregas aí em Sampa. Basta pedir agora.
Abç pra esquentar o frio!
Mesmo morando na Mantiqueira, continuo amando São Paulo.
A cidade é grande no tamanho, mas também nas oportunidades do encontro das pessoas, das conexões reais, da diversidade e até das especialidades – no caso da nossa capital.
A dica é para quem ama queijos, óiprocevê…
De 15 a 18/9 acontece o 2º Mundial do Queijo do Brasil.
Na edição passada, muitos produtores daqui ganharam.
Mas antes disso, a tropa desce a Serra… carregada de mercadorias – inspirada por Guimarães Rosa.
Tudibão !
Guimaraes Rosa: O pedaço de Minas Gerais que era mais meu. Porque conhecia um pouco melhor a terra, a gente, bichos, arvores. Porque o povo do interior – sem convenções, “poses” – dá melhores personagens de parabolas: lá se vê bem as reações humanas e a ação do destino: lá se vê bem um rio cair na cachoeira ou contornar a montanha e as grandes árvores estalarem sob o raio, e cada talo de capim humano rebrotar com a chuva ou se estorricar com a seca..- Sagarana.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 23/08/2022