Dor, angústia, alegria, satisfação. O cérebro (leia-se também o “coração”) recebe esses estímulos e respostas, que diferem de uma pessoa para outra. Às vezes, é preciso “colocar para fora” a fim de enfrentar, dividir e superar essas sensações e sentimentos.
Eis, então, que recorremos ao chamado desabafo, que pode ser exteriorizado desde uma conversa com alguém de confiança, passando por terapeuta, até mesmo um grito ou choro: “Desabafar é aliviar-se, abrir o coração, desopilar o fígado. Tensões são parte da vida, assim como relaxamentos. Quem ‘desabafa’ estava abafado, pressionado, e buscou o equilíbrio físico e psicológico, tratando ‘recarregar as baterias’ para as próximas tensões”, analisa Mauro Moore, psiquiatra do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.
O médico explica que no momento de tensão desencadeia-se uma reação simpática cerebral, que responde às situações de fuga ou luta, e já no desabafar ocorre a parassimpática, que leva à calma e ao descanso. “Depois de um longo e intenso período de estresse, é saudável e útil ‘desabafar’. O que deve ser estudado, do ponto de vista da saúde, é a proporção entre a circunstância vivida e o estresse sentido. O ser humano não reage aos fatos, mas à interpretação que faz deles”, sinaliza o profissional.
Para Emília Afrange, presidente da Associação Brasileira de Psicoterapia (Abram), aquele que ouve/recebe esse desabafo precisa ter aporte necessário para acolher e entender cada caso: “Exemplo, um padre tem uma vertente de observar o problema, um psicólogo a capacitação médica para buscar a melhor terapia. Já o psicoterapeuta encontra a abordagem que seja importante no tratamento do paciente. Ou seja, não há uma fórmula ou conduta pronta”, reforça.
Um exemplo de acolhimento é o Centro de Valorização da Vida (CVV), presente há mais de 50 anos no Brasil, cuja missão é dar apoio emocional gratuito sob total sigilo, por telefone, internet e pessoalmente, por meio de agendamento prévio nas unidades que disponibilizam esse atendimento.
No posto de Vila Carrão, zona leste da capital paulista, que atende 24 horas, os chamados telefônicos chegam a mil por mês, conta João, voluntário há sete anos e há um no cargo de coordenador da unidade. “No meu plantão, das 22 às 2 horas, a maioria das ligações é de mulheres sozinhas, mas ouvimos de tudo aqui, até notícias boas. Afinal, após as 23 horas, é difícil ligar para um amigo ou psicólogo e dizer que passou na entrevista de emprego, por exemplo”, comenta.
O coordenador acrescenta que os candidatos a voluntário no CVV recebem treinamento, com duração média de dois meses, e fazem um estágio supervisionado, de mais três meses, para depois desempenharem as funções. “Ouvimos todos sem dar conselhos ou direcionamentos. Nossa missão é não julgar, e sim ouvir”, relata João.
Desabafar, segundo os especialistas, é apenas o primeiro passo. Relembrar para reavaliar, tendo uma visão realista, é necessário; já as ruminações só fazem aprofundar e piorar o estado. Portanto, é essencial que a pessoa, incluindo amigos e familiares, verifique se o que a aflige faz com que permaneça ansiosa ou deprimida por um tempo excessivo.
Caso isso ocorra, parte-se para a ajuda de profissionais, como psicólogos, psiquiatras e psicoterapeutas. Os médicos salientam também a associação de psicoterapia com medicamentos e, conforme a gravidade do quadro clínico, pode ser indicada a internação em hospital especializado. “Em casos de experiência traumática, dependendo da pessoa e da situação causadora, falar do problema pode ‘retraumatizar’. Por isso a importância da análise e estudo de cada situação”, destaca Afrange, da Abrap.
Seja pelo gesto ou pela palavra, o desabafo é uma prática que norteia o que sentimos. É a arte de vivenciar o que está em nossa volta, em suma.
Fonte:Jornal Infoleste – www.infoleste.com.br
Blog do Florisvaldo – Informação com imparcialidade – 06/11/2014
Florisvaldo Ferreira dos Santos
Consultor de Seguros e Benefícios