Artigo originalmente publicado em 28/08/2011 – A proximidade do período eleitoral em 2012 para mudanças no comando gestor dos municípios, em todo o país, oferece a oportunidade de observar como isto mobiliza as populações, mexe com as emoções individuais, desperta sentimentos adormecidos e faz com que crianças e jovens, homens e mulheres, idosos ou não, despertem os seus neurônios para participarem de uma verdadeira catarse coletiva. Os que são de pouco falarem ao longo dos anos, nesse momento se tornam tagarelas e se incorporam às discussões como verdadeiros analistas políticos, traçando estratégias de como cada candidato deverá fazer para vencer, como as coligações deverão ser formadas e até mesmo já são capazes de ilações quanto à futura equipe de governo de prováveis vencedores. Mesmo os sem maiores estudos ou especializações são induzidos a traçarem o perfil moral, cultural e psicológico de cada candidato. Os viciados em apostas já começam a oferecer as suas propostas desafiadoras, mas ainda meio céticos face às poucas definições das coligações.
Tudo isso é muito bom de ver, porque o despertar dessa paixão política conduz a um interessante processo participativo em que todos, de repente, se sentem responsáveis pela escolha daquele que irá ser o gestor de todos os problemas educacionais e de saúde, sociais e culturais, econômicos e financeiros do mundo à sua volta. O município é o universo do eleitor e o objeto de suas preocupações diárias, e a muitos pouco importa o que está acontecendo no seu Estado, no Brasil ou no mundo. Apenas os muitos escândalos ministeriais dos “Fichas Sujas” que integram 90% dos jornais televisivos e que concorrem com a audiência das novelas, conseguem desviar do eleitor a atenção da política municipal.
Nas repartições públicas, nas esquinas dos tradicionais bate-papos (Pedra do Urubú, em Uauá), nos restaurantes, nas escolas e até mesmo nas Igrejas, durante a missa ou cultos, não é difícil de identificar-se que o tema “eleições” está sempre em foco.
Percebe-se um sentimento de grande responsabilidade individual de cada eleitor, cuja expectativa do dia 3 de outubro faz transbordar os níveis de valorização da sua personalidade e eleva o seu ego às alturas. Nunca tanta gente o cumprimentou pelas ruas com tão forte aperto de mão, sorriso nos lábios, um abraço cheio de afeto e repetidos tapas nas costas! O seu voto o transformou numa pessoa muito especial e importante. Os problemas de falta d’agua na zona rural, a dificuldade de alimentos para a família, medicamentos e tantos outros itens que são às vezes inexistentes ou insuficientes como componentes exigidos para uma melhor qualidade de vida, são carências que não mais lhe pertencem porque passam a ser problemas assumidos com uma carga de “incomensurável amor” pelos candidatos!
Acompanho com inusitado interesse o desenrolar dessas paixões e sentimentos de elevado apego dos eleitores pelos candidatos, às vezes gerados pela simpatia pessoal ou vínculos de “grupo”, mas quase nunca inspirados em princípios ideológicos ou de caráter partidário, salvo raríssimas exceções. Mas a individualidade do eleitor merece, certamente, o nosso respeito.
Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Aposentado do Banco do Brasil – Salvador – BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 19/10/2018