As pessoas em geral, quando indignadas com o comportamento nem sempre muito ético dos políticos, têm o hábito de extravasar duras expressões para reprovar certas atitudes, dentre as quais se pode destacar como de uso mais habitual: “político não tem vergonha mesmo; ontem inimigos ferrenhos e hoje aliados”! Essa característica volúvel marcante na personalidade do político é um fato histórico comum a todos os níveis do jogo político, tanto no plano Federal, Estadual e, principalmente, no Municipal, onde verdadeiras castas tradicionais trazem no sangue profundas desavenças que não admitem qualquer proximidade. Os acordos são impensáveis até o interesse maior falar mais alto, como tem acontecido em diversos casos.
Mas, quantos episódios de grande impacto o leitor está agora recordando, em que os inimigos de ontem estão hoje aos abraços e afagos de toda espécie! Quantas coligações foram feitas, ainda que sepultando princípios e tradições familiares, mas o fator preponderante era a preservação do poder, que a tudo supera!
Como você, amigo leitor, também já me indignei muitas vezes ao testemunhar certas alianças, aparentemente improváveis e estúpidas, porque desprovidas de qualquer sintonia ideológica. Em todas elas, contudo, é possível vislumbrar que no final do túnel sempre se acenderá uma tênue luz sinalizadora de que mais vale um bom acordo na mão, do que o poder político voando! Diante dessa verdade construída com engenhosidade pelos laboratórios das coligações partidárias, impossível não recordar que por trás de tudo isso pode estar um ensinamento deixado pelo grande e saudoso Deputado Federal Ulisses Guimarães, in memoriam, ao extrair do fundo da sua habilidosa e criativa capacidade política essa frase que explica todo esse enfoque: “em política, nunca devemos estar tão distantes que não possa se aproximar, nem tão próximo que não possa se afastar”. Assim, fica implícito que uma prudente equidistância é sempre recomendável! Ou seja, é como dizer: em política tudo é possível! E está provado que sim.
Diante de pensamento tão profundo, superar os obstáculos ideológicos ou mesmo romper as amarras históricas dos laços de família em prol do entendimento político pelo poder, passa o entendimento de que até não parece algo tão grave e indigno. Muito pior é estar diante de outra frase diametralmente oposta pejorativa e vergonhosa, que igualmente hoje faz parte predominante do espírito revoltado de toda a população: “só tem político ladrão; não escapa um”! Se é verdade ou não, não sou eu quem vai medir ou aferir o grau de confiança em tais afirmações.
Esse outro lado negativo da moeda é fartamente enriquecido pelos fatos do dia a dia, onde chega a ser massacrante a incidência de novos nomes que passam a integrar a grande massa de políticos denunciados, investigados ou presos, deixando espaço ao povo apenas para questionar: “qual será a próxima bola da vez”? E eles são tão hábeis e inovadores nas práticas delituosas, que a PROPINA vira EMPRÉSTIMO ou MESADA, o ACUSADO vira VÍTIMA e o JUIZ vira CULPADO…!
Muito se comenta que somente através da educação, investindo muito mais tanto na construção de escolas como na qualificação dos profissionais do ensino, é que o país alcançará sucesso na redução da criminalidade, conceito que considero verdadeiro. O que entristece, porém, é ver que, inversamente, tem sido anunciado novos projetos de investimento na construção de mais penitenciárias, não para prender aqueles que praticam crimes por se acharem à margem da sociedade, sem trabalho ou estudo, mas, sim, para acolher os muitos criminosos chamados de “colarinho branco”, políticos e empresários, e governantes, na sua grande maioria com formação de nível superior e até doutorados no crime contra o Estado brasileiro!
Essa é uma incontestável e dura realidade, que apenas reforça a lembrança ao cidadão/eleitor de que outubro de 2018 está chegando e é preciso distinguir no conselho de Ulisses Guimarães o que é ALIANÇA POLÍTICA verdadeira ou uma UNIÃO PARA O CRIME ou PELO CRIME! Autor: Adm. Agenor Santos, Pós-Graduação Lato Sensu em Controle, Monitoramento e Avaliação no Setor Público – Aposentado do Banco do Brasil – Salvador-BA.
Blog do Florisvaldo – Informação Com Imparcialidade – 22/04//2018
7 Comentários
Esta análise de como se efetuam as composições políticas revela de forma nítida aquilo que observamos: não existem partidos políticos diferentes,pois todos almejam apenas a manutenção do poder. Assim, embora existam manifestações ideológicas que revelam antagonismos exacerbados, os políticos que as patrocinam e estimulam sempre acabam se coligando quando interesses partidários tornam-se prioritários sobre a própria ideologia. Agenor, a sua brilhante conclusão que a aliança política verdadeira pode se tornar uma união pelo crime é absolutamente correta. E , infelizmente, é o que mais temos visto em nosso país.E a constante atuação do poder judiciário apenas comprova isto. FOZ DO IGUAÇU
Certeiros seus tiros. Ou seu tirocínio. Todos os questionamentos levantados, sejam próprios ou fruto da consciência social, são, infelizmente, o retrato fiel da nossa falida, combalida e vergonhosa realidade política atual. E as notícias diárias corroboram com as premissas e também as expectativas gerais: quem é ou quais serão os próximos descobertos em escândalos e falcatruas? Práticas delitivas antes inimagináveis estão-se tornando corriqueiras. E, mesmo com condenações, manutenção de encarceramentos, não se observa redução nesse tipo de delitos. Pelo contrário, novos casos, vira e mexe surgem no noticiário. A corrupção, sempre ela, como pano-de-fundo e retroalimentando esse processo infindável no qual se imiscuem pessoas das mais variados matizes, que, acreditam elas, são representantes de certos segmentos sociais, comunidades, classes ou minorias. Valendo-se de prerrogativas que, em regra, não se sabe quem as outorgou, têm livre acesso a recursos, processos, lideranças, orçamentos, etc., e, impulsionados por propostas com aparência de legitimidade, conseguem alocação de vultosos recursos para seus redutos. Todavia, antes que o dinheiro seja efetivamente dispendido com a finalidade inicialmente pleiteada, refestelam-se no manjar apetitoso que o montante, em regra expressivo, representa e possibilita a esses delinquentes.
Uma tristeza para nós que, com nosso trabalho e esforços, à mercê de uma carga tributária das mais elevadas do planeta, somos obrigados a assistir sem que, de efetivo, quase nada possamos fazer. A não ser utilizar nossa arma, letal mas não passível de punição pelo Código Penal: nosso Título de Eleitor.
Outubro de 2018 vem aí… Que não se reeleja significativa massa dos atuais parlamentares ocupantes de cargos públicos, principalmente os já indiciados em processos judiciais e que desfrutam do malfadado “foro privilegiado”!
(Salvador-BA).
Realmente não é de hoje que esse comportamento se repete, é que agora encontramos um juiz que está cumprindo a lei. Outros tantos deixavam embaixo do tapete e ia levando.
É incrível como os políticos se comportam, parece que sofrem uma lavagem cerebral para poder atuar durante seu mandato da mesma maneira, sem que tenham prejuízo do que pretendem lá dentro.
Tudo está mudando e talvez em breve possamos presenciar atitudes mais honestas desses indivíduos… é minha torcida (sempre)… (S. Paulo-SP).
Concordo plenamente irmão, e acrescento que também, os cabos eleitorais e os eleitores crápulas, seguem na mesma linha.(Maracás-BA).
Mais uma crônica fantástica. Tenho muita identificação sua linha editorial. Parabéns muito boa. (Salvador-BA).
Essa luz no fim do túnel ainda não enxerguei, mas sei que ela está lá brilhando. Vamos todos colocar luz na escuridão política desse país.
Prezado Agenor, este seu artigo especifica a realidade da politica em todas as instancias.
Entre as frases citadas por você existem outras que justificam ainda mais a indignação do eleitor, entre elas eu cito duas: “O eleitor não sabe votar”!
O que não é verdade, já que ele escolhe o candidato com a expectativa do projeto apresentado na campanha e este, após ser eleito, não executa aquilo que prometia.
A segunda é “O eleitor não pode vender o seu voto”!
Por uma questão de ética e moral, uma parcela do eleitorado não vende o seu voto. Não obstante, após eleito, o candidato, por conta dos seus acordos, coligações e/ou alianças, vende os votos que recebeu a preço de ouro, sem dar a mínima satisfação para os eleitores que lhe elegeu, motivo pelo qual tenho que plagiar o que você disse:
“E eles são tão hábeis e inovadores nas práticas delituosas, que a PROPINA vira EMPRÉSTIMO ou MESADA, o ACUSADO vira VÍTIMA e o JUIZ vira CULPADO…!”.
Florisvaldo F dos Santos